segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

A Bermuda do Londrinense

Sábado pela manhã. Sara e eu caminhamos pelo calçadão de Londrina, após um expresso, um machiatto e um pão de queijo em uma cafeteria. Entre a São Paulo e a Rio de Janeiro, sentamos um pouco para apreciar o movimento. Uma trilha sonora urbana nos acompanha: buzinas, passos, vozes indistintas, risos de crianças, de vez em quando um choro. Parecia até o ensaio de uma orquestra. Cada instrumento com seu som, alguns graves, outros agudos. Há os mais salientes: 
- Doutor, me dá vinte centavos pra uma pinguinha. 
- Dois chips de celular por dez reais. 
- Moça, vamos fazer um cartão hoje? 
- Olha que beleza o oxigênio, você sabe quem criou? Diz um pregador. 
- Que cachorro mais lindo! 
- Gostosa! 
- Brasil mostra sua garra, diz alguém em um palanque. 
- Me dá um dinheiro pra comida! 
- Olha a estátua viva. Mas, estátua se mexe? É uma estátua dinâmica! 
- Vamos por aqui que estou com pressa. 
- Mãe, é um desses que eu quero. Compra pra mim? Não enche menino! 
- De onde vem esse barulho? Está ouvindo? Pi, PI, PI, PI. É da estátua. Será? 
Essa diversidade de sons é acompanhada da diversidade humana. Nossa! Como tem gente diferente no mundo! 
Mas, uma constância chama minha atenção: a bermuda do londrinense. Todos os homens que estavam de bermuda - meninos, velhos, jovens, maduros, grisalhos, morenos, loiros, calvos, negros, pardos, brancos, altos, baixos - tão diversos, mas semelhantes no comprimento da bermuda. Sempre abaixo dos joelhos! 
Sara sugere que eu faça uma contribuição para o artista da estátua. Aproximo-me e leio o que estava escrito no pequeno cartaz afixado ao tubo onde as moedas caindo adicionam mais um som à trilha sonora matutina: 
"Sua contribuição mostra sua cultura e valoriza minha arte" 
Penso: Não tenho nenhuma bermuda que cubra meus joelhos. Preciso comprar uma. Mas, acabou o verão! Fica para o ano que vem! 

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