sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A Gorda do Tarô de Marselha

Não é o que você está pensando. Não me refiro a uma carta de tarô. Aliás, nem sei se no tarô de Marselha há uma gorda. Mas, se houver, deve ser a carta do descaminho, do desencontro, talvez, até, da perdição. Ao final dessa história você vai entender. Espero!
Eu e mais cinco ou seis passsageiros entramos no Cabral-Cic no tubo Comendador Fontana. À minha frente uma senhora quase obesa. Alguém lhe ofereceu o lugar, em um dos bancos amarelos que são destinados a idosos, passageiros com crianças no colo, deficientes e obesos. Ela preferiu sentar-se na poltrona destinada aos acompanhantes de cadeirantes que, também, estava vaga. Como ninguém mais quis sentar-se, ocupei o banco amarelo. Embora, tecnicamente, ainda não seja idoso pois tenho mais dois anos antes de chegar a esse status.
Meu destino era a UTFPR na esquina da Desembargador Westphalen com a Sete de Setembro. Ia entregar exemplares de meu livro para Gilberto e Vanessa, professores que apoiaram meu projeto de crowdfunding. No meio do caminho, sinto que sou observado. Sabe aquela sensação de se sentir olhado, mesmo estando com a cabeça baixa? Pois é. Essa mesma! Levanto os olhos e vejo que a gorda senhora me encarava. Os dois desviamos o olhar praticamente ao mesmo tempo. Depois volto a mirá-la. Ela já não me olha mais.
Deve ter pouco mais de 40 anos, mais de 90 quilos, cabelos não muito longos, um pouco grisalhos, presos por um rabo de cavalo e um arco de veludo preto. Nas orelhas carregava um par de brincos vermelhos em formato de pimenta. Três ou quatro centímetros pendurados nos lóbulos um pouco esticados. Seria o peso das peças? Na mão direita, cinco pulseiras. Quatro de cristais baratos, uma de cada cor: transparente, verde. amarela e marrom. A quinta era cheia de pequenas pimentas vermelhas iguais aos brincos. Na mão direita um livro que lia: O Tarô de Marselha.
Não pude deixar de me lembrar de algo que já comentei por aqui. Como Curitiba parece ser um espaço propício às artes adivinhatórias. Se você caminhar pelo centro, verá muitos cartazetes pregados em postes, muros e paredes. 
Será que a gorda do Tarô de Marselha é uma profissional da tarologia? Creio que não, carregava pendurado no pescoço um crachá de uma rede de comércio varejista. Creio que se dirigia para o emprego. Deveria ser uma aprendiz da arte.
Chega meu ponto de descida: Praça rui Barbosa. Em uma pequena caminhada chegaria a meu destino: a Agência de Inovação da UTFPR. Ao chegar na esquina da quadra, onde fica o campus da UTFPR, ao invés de caminhar para a entrada da Sete de Setembro, decido continuar pela Desembargador Westphalen. Em minha imaginação, havia entradas para o campus nos quatro lados do quadrilátero que a UTFPR ocupa. Me enganei. Viro na Silva Jardim, no meio da quadra, entrada fechada. Viro na Marechal Floriano, entrada fechada. Parecia um perdido! Viro na Sete de Setembro e chego na entrada que estava a menos de vinte metros da primeira esquina onde comecei meu périplo.
Ao me informar no guichê com um atendente, descubro que a Agência de Inovação da UTFPR fica na Desembargador Westphalen. Havia passado por ela, vindo do tubo Praça Rui Barbosa. Nem percebi! Será que a gorda do Tarô de Marselha teve algo a ver com isso?
Nessa hora, lembrei-me do que meu pai dizia, ou será que era meu avô:
No creo en las brujas pero que las hay, las hay!

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