sábado, 20 de fevereiro de 2016

Trampolim

Todos já haviam pulado do trampolim. Só faltava ele. Os meninos e as meninas usavam as mesmas palavras para encorajá-lo:
_ Vai Artur.
_ Se joga sem medo.
_ Não olha pra baixo.
_ Você vai gostar.
Artur olhava de um lado. Depois para o outro. Caminhava até a beirada. Quando todos se animavam. Voltava para trás. Aí, a gritaria começava de novo. Pareciam até ensaiados:
_ Vai Artur.
_ Se joga sem medo.
_ Não olha pra baixo.
_ Você vai gostar.
E Artur se repetia. Depois de olhar para os dois lados, caminhava até a beirada do trampolim. E retornava. Os demais que aguardavam sua vez passavam por ele.
Depois da quinta tentativa frustrada, eu a vi embaixo da haste de madeira do trampolim. Era enorme. De um azul profundo, a cada movimento do trampolim movimentava as asas, mas não saía do lugar.
Artur repetia pela sexta vez sua falta de coragem. O avô já tinha até desistido. Se enfiara atrás do jornal. Azar o dele!
Não viu o momento mais belo de Artur. Se jogar do trampolim pela primeira vez. É nosso primeiro momento de autonomia. O momento em que, confiando nos demais, nos jogamos para a vida. Em busca de algo, mas sem saber ainda o que.
De repente, Artur se dirige à beira do trampolim. Ao mesmo tempo a borboleta alça vôo. Se encontram na beira do trampolim. Linda, ela está ao alcance das mãos de Artur. Ele tenta pegá-la. Ela se afasta. Ele dá um passo à frente. Salta atrás da borboleta. Ela continua seu vôo. Os meninos e as meninas explodem de alegria. Ofuscados pelo sol, às costas de Artur, não viram a borboleta. Só Artur e eu. Penso comigo:
_ Vai Artur. Mergulha na vida. Atrás do que é belo. Pra isso estamos aqui.
Na piscina, Artur diz:
_ Manero! E sai correndo da borda em direção ao trampolim.

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