Quando planejava nossa viagem para a Holanda, fui alertado por um amigo de Paloma, minha filha, sobre uma particularidade do pequeno comércio na Holanda. Ao contrário do que é comum no Brasil, em que o pagamento com cartões de crédito é praticamente universal, por aqui isso não é tão comum.
De fato, depois dos primeiros dias em Amsterdam encontrei locais em que o cartão de crédito não era aceito e tive que pagar a compra em dinheiro. Pior ainda, em outros lugares o pagamento em dinheiro não é aceito. Em outros lugares consegui usar o cartão de débito pré-pago que ativei no Brasil. E, nas lojas maiores ou em ambientes com maior fluxo turístico, o meu cartão de crédito brasileiro foi aceito sem problemas.
Porém, certo dia, ao irmos fazer um lanche em um pequeno restaurante de uma brasileira em Amsterdam, o Sabor de Maria, quando fui pagar a conta em dinheiro, a proprietária me alertou:
_ Sempre pergunte ou veja se aceitam dinheiro. Em muitos lugares é só com cartão de débito. Nem dinheiro, tampouco cartão de crédito.
Depois de quase 45 dias, já em Utrecht resolvi o problema, abrindo uma conta em um banco digital que me forneceu um cartão de débito com a bandeira aceita aqui, a Maestro. Nem Visa, nem Mastercard. A cada 30 dias, às vezes um pouco mais, outras um pouco menos, transfiro euros para essa conta e vou usando o cartão.
Na semana passada, quando fui fazer um pagamento com o Maestro em um supermercado, veio mensagem de pagamento não autorizado. Estranhei, pois tinha certeza de haver saldo suficiente na conta e, para não segurar a fila, rapidamente paguei em dinheiro. Era como fazia nas compras anteriores nesta rede varejista antes de ter o cartão Maestro.
Logo depois, o mesmo problema aconteceu em uma pequena mercearia daqui do bairro. No entanto, o proprietário que tem mais experiência do que a jovem que me atendera no supermercado, me instruiu a usar o cartão no modo tradicional e não por aproximação como faço em todas as compras. Cartão enfiado na máquina, pedido de senha e, pronto, pagamento autorizado.
Depois que cheguei em casa, consultei o aplicativo do banco em meu celular e etava tudo certo. Saldo suficiente e registro da compra negada no supermercado e da compra aprovada na mercearia. Fiquei matutando no que poderia ter acontecido e desconfiei que pudesse ser um mecanismo de segurança do banco para pagamentos por aproximação. Naquele dia, havia feito vários gastos antes de ir ao supermercado. É provável que tivesse chegado a um limite de gastos com esse procedimento.
Acho que entendi a lógica da segurança do cartão. Após um certo número de pagamentos em sequência, o sistema exige o uso da senha e libera para mais compras por aproximação.
E o empreendedor belga? Onde entra nesta história?
Pois então, no caminho de volta para a estação de Antuérpia passamos por um quiosque que vende churros. Não grossos e recheados como os vendidos no Brasil, mas mais finos e apenas com açúcar. Muito parecidos com os que pude comer em alguns cafés da manhã na Espanha. Ao pagar, usei o cartão por aproximação e o homem que me serviu, muito rapidamente virou a maquineta para baixo e me entregou os churros. Inclusive, me disse que colocou um a mais de cortesia. Agradeci com um "Dank je wel" em meu parco holandês. E fomos em direção à estação.
Em casa, depois de descansar e tomar banho, fui checar o saldo da conta Maestro. Estranhamente, vi uma compra de seis euros negada. Recapitulei as compras do dia, conforme apareciam no extrato. Me dei conta que era o valor dos churros. Por motivo que não sei, a compra foi negada. O que fazer? Ao comentar com minha mulher, brinquei:
_ Um dia que voltar para a Antuérpia, tenho que passar no quiosque e pagar os churros novamente.
Mas, a probabilidade disso acontecer é muito pequena! Assim, decidi que o empreendedor belga faria uma doação Internacional, mesmo sem saber disso. Em Curitiba, há um programa de ação social contra a fome que se chama "Marmita da Terra". Tenho feito uma contribuição mensal para o programa há algum tempo. Hoje à tarde, fiz uma transferência de R$ 50 para o "Marmita da Terra". Aos seis euros do vendedor de churros de Antuérpia, juntei alguns minguados reais. Acho que ele ficará feliz se, um dia, souber que o fruto de uma pequena venda que não recebeu, ajudou alguém com fome em outro país. Se você quiser e puder, procure se informar como ajudar o "Marmita da Terra" com a Associação de Cooperação e Reforma Agrária do Paraná.