sábado, 15 de janeiro de 2022

Crônicas na Holanda 14 - O tempo não para!

O tempo não para! Lembrei desse chavão ao ver alguns trabalhadores consertando o relógio que fica na torre bem na entrada do campus onde estamos morando. Da janela de nosso quarto, é possível vê-lo e conferir o horário. O problema é que ele estava parado desde, pelo menos, o primeiro dia em que aqui chegamos. Desde ontem, ele voltou a funcionar. Justamente em nosso nonagésimo dia nos Países Baixos. Metade de nosso tempo previsto por aqui.

O tempo não para! Além de chavão, é também o título de um álbum solo de Cazuza, gravado ao vivo em show no Canecão, casa de shows do Rio de Janeiro, entre 14 e 16 de outubro de 1988. Por coincidência, 33 anos antes de nosso embarque em São Paulo com destino a Amsterdam no dia 16 de outubro do ano passado. É claro que eu não sabia disso quando ontem, ao ver que o relógio estava funcionando novamente, disse para Edra:

_ Como diria o Cazuza, o tempo não para!

Tomei conhecimento dessas informações, ao buscar pela música na internet e me deparei com o verbete “O tempo não para” na Wikipedia. Segundo o que lá consta, o álbum foi o último registro ao vivo do cantor, dirigido por Ney Matogrosso. A música foi composta por Cazuza e Arnaldo Brandão.

Por aqui, as coisas vão caminhando. E nós também. Às vezes em passo lento, às vezes mais aceleradas. Na média, dentro do planejado. Leituras, busca de informações e estatísticas, análises, reflexões e escrita, não necessariamente nesta ordem. Em meio às tarefas acadêmicas, insere-se a vida cotidiana: compras no varejo, caminhadas pelo bairro, descobertas de paisagens que surgem em um flanar descompromissado, música no rádio, notícias do Brasil, notícias por aqui... E assim se vai vivendo como se pode e, às vezes, como se quer.

Por exemplo, ontem, uma sexta-feira, no horário que marcava o relógio da torre registrado na fotografia, Edra eu saímos para mais um passeio por essa cidade encantadora. Todo o comércio fechado, com exceção das atividades essenciais. Nos acostumamos a andar sem pressa por aqui. E caminhar muito, observando a vida que se exibe para nós na quarta maior cidade da Holanda. E no caminhar, o tempo não para e passa depressa! Duas horas depois, com um breve intervalo para comer batatas fritas ao estilo holandês (com casca), às cinco horas, vejo no reflexo do canal, os prédios à sua margem. Uma paisagem exibida! A mim, só cabia a fotografar.

Assim, nessa breve crônica de hoje, anoto que começamos a contagem regressiva para o Brasil. Enquanto contamos os dias, em meio à reabertura parcial do comércio e outras atividades, após 28 dias de lockdown, lembro que o tempo não para, ouvindo Cazuza cantando (https://www.youtube.com/watch?v=_Jcn10Iiuu4):

Disparo contra o Sol

Sou forte, sou por acaso

Minha metralhadora cheia de mágoas

Eu sou um cara

Cansado de correr

Na direção contrária

Sem pódio de chegada ou beijo de namorada

Eu sou mais um cara

Mas, se você achar

Que eu tô derrotado

Saiba que ainda estão rolando os dados

Porque o tempo, o tempo não para

Dias sim, dias não

Eu vou sobrevivendo sem um arranhão

Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos

Tuas ideias não correspondem aos fatos

O tempo não para

Eu vejo o futuro repetir o passado

Eu vejo um museu de grandes novidades

O tempo não para

Não para, não, não para

Eu não tenho data pra comemorar

Às vezes os meus dias são de par em par

Procurando agulha num palheiro

Nas noites de frio é melhor nem nascer

Nas de calor, se escolhe: É matar ou morrer

E assim nos tornamos brasileiros

Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro

Transformam o país inteiro num puteiro

Pois assim se ganha mais dinheiro

A tua piscina tá cheia de ratos

Tuas ideias não correspondem aos fatos

O tempo não para

Eu vejo o futuro repetir o passado

Eu vejo um museu de grandes novidades

O tempo não para

Não para, não, não para

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