quinta-feira, 9 de maio de 2019

Cinema na Prainha

Chumbinho foi o primeiro a notar a movimentação na Prainha. Ele e os demais integrantes da gangue tinham deixado Alemão na casa da Lola. As férias de verão estavam acabando e, em uma semana, Lola voltaria para Curitiba com seus tutores.
Alemão ia todo dia para lá. Lorde Kennedy e sua gangue o acompanhavam até o portão da casa. Depois iam passar o dia na Prainha ou na Praia Grande.  Ao final do dia, encontravam com Alemão e voltavam para o bar do Nego.
Pois então, nesse dia, Chumbinho foi o primeiro a virar a esquina da rua que dava para a Prainha. Ao lado do posto dos salva-vidas tinha uma enorme tela branca de pano. A tela estava esticada entre dois postes de madeira que tinham sido fixados entre a beirada da rua e a beirada da calçada que dava para o mar. E alguns humanos estavam lendo algo na parede do posto.
Assim que os demais chegaram à esquina, Chumbinho falou:
_ O que será aquilo ao lado do posto de salva-vidas? Parece que esticaram um grande lençol. Por que?
China, que era o mais viajado da gangue, respondeu:
_ Nossa! Parece uma tela de cinema. Vi algo assim uma vez no porto de Gênova. Foi quando o navio em que estava ficou ancorado uma semana para ser consertado. Em uma das noites passaram um filme que tinha uma cena de pescadores assistindo um filme projetado na parede de uma casa à beira do porto. Foi muito bonito!
Vina e Dama se animaram:
_ Será que vão passar algum filme? Dama perguntou.
_ Com certeza, disse Vina, toda empolgada.
Lorde Kennedy, que estava olhando em direção à tela, apontou:
_ Tem um cartaz pregado no posto dos salva-vidas. É todo colorido. O que será!
Antes que que um deles falasse algo, Chumbinho saiu em disparada enquanto dizia:
_ Vou lá ver.
Os outros foram atrás. Lá chegando, descobriram que era o cartaz de um filme. Na parte debaixo, estava escrito: Cinema ao ar livre. Hoje: A dama e o vagabundo. Na parte de cima tinha o desenho de dois cachorros - um macho e uma fêmea - chupando um longo fio de macarrão. Cada um em uma ponta. Kennedy piscou para Dama e disse:
_ O que acontecerá quando eles chegarem ao fim do macarrão.
_ Posso até imaginar, disse Vina.
E Dama arrematou:
_ Vamos ter que ver o filme para ter certeza.
Passaram o resto do dia na Prainha. Na hora de ir encontrar com Alemão, Lorde Kennedy disse:
_ Vamos ficar por aqui e esperar o filme. China, por favor, vai avisar o Alemão.
China foi. Lá contou para Alemão o que iam fazer. Alemão se animou e chamou Lola para ir junto. Aproveitaram que a dona de Lola estava distraída e foram todos.
Logo depois que escureceu, a calçada ao lado do posto de salva-vidas ficou lotada com humanos. Lorde Kennedy e sua gangue foram pra frente da multidão. Os humanos riram da gangue, mas não se importaram com a presença da platéia canina.
De repente, as luzes dos postes da rua foram desligadas. O filme começou a ser exibido. Na cena do macarrão, Lorde Kennedy e Dama se olharam. O velho China ficou observando os dois. E pensou consigo mesmo:
_ Esse filme ainda vai dar o que falar. Minhas amigas e amigos vão se inspirar.
O filme acabou. E os humanos viram os sete cães se afastarem. Eram três casais: Lola e Alemão; Chumbinho e Vina; Dama e Lorde Kennedy. Atrás deles ia o China com um sorriso nos lábios, mais uma vez dizendo para si mesmo:
_ Que romântico! Adoro a magia do cinema!