sexta-feira, 19 de abril de 2019

Baby com Suellen

Houve uma vez que Lorde Kennedy resolveu voltar até a casa de onde tinha fugido. Lembrou-se da mãe do jovem professor e do último encontro. Queria vê-la de novo. Mas, por algum motivo não queria que os demais fossem com ele. Sua intuição lhe dizia que era uma aventura que deveria enfrentar sozinho.
Foi em uma segunda-feira, quando Nego estava se aprontando para ir ao centro de São Francisco do Sul com a gangue toda que surgiu a oportunidade. Kennedy falou para Alemão:
_ Hoje não vou com vocês.
O pastor estranhou. Perguntou:
_ Algum problema?
_ Não. Só preciso ficar um pouco só. Bateu una saudade dos humanos que me trouxeram para São Chico.
Alemão foi compreensivo:
_ Sei como é isso. Às vezes me bate aquela saudade da Lola. Também tenho vontade de me isolar.
Para não deixar os demais preocupados, Lorde Kennedy avisou a gangue:
_ Estou um pouco cansado. Não dormi bem. Vou ficar aqui.
Apesar de estranharem, todos embarcaram na caminhonete do Nego. Este deu a partida no motor. Enquanto, a caminhonete se afastava, Lorde Kennedy se pôs a caminho do bosque dos macacos. Foi uma caminhada de mais de meia hora. Lorde Kennedy chegou a Serendipity 3, mas estranhou um pouco a casa. Ficou em dúvida se era o mesmo lugar. Algo estava diferente. Mas, a placa com o nome da casa continuava lá. A cerca que havia sido trocada. Além disso, as plantas no jatdim eram muito mais numerosas.
Assim que teve certeza que estava no lugar certo, começou a latir. Imediatamente duas cadelas saíram em disparada dos fundos da casa. Uma da cor caramelo e outra preta. Pareciam agressivas. Latiam muito para Lorde Kennedy.
_ Calma meninas, disse Lorde Kennedy. Sou da paz.
Suellen, a mais brava e maior, rosnou e entre dentes ameaçou:
_ Não gostamos de estranhos! Se manda daqui!
Mas, por algum motivo, a menorzinha que tinha o pelo preto e meio encaracolado, foi mais simpática:
_ Que é isso Suellen? Parece que ele é do bem.
_ Baby, você sempre foi mais desconfiada que eu, disse a outra. Não se lembra do que já sofremos quando morávamos nas ruas. Esse cara tem jeito de malandro!
Lorde Kennedy insistiu;
_ Sou da paz. Já fiquei nessa casa um dia. A humana que mora aí me conhece.
Nesse momento, a irmã do namorado da mãe do jovem professor apareceu na porta da casa. Os latidos de Suellen e Baby tinham atraido sua atenção. Ela viu Lorde Kennedy do outro lado da cerca. Exclamou:
_ Kennedy! Você voltou?
Suellen e Baby se viraram para ela. A irmã do namorado da mãe do jovem professor continuou:
_ Baby! Suellen! Parem de latir. Ele é conhecido.
Foi em direção à cerca e abriu o portão para Kennedy entrar. Suellen ainda estava desconfiada. Baby foi mais hospitaleira. Disse para Kennedy:
_ Parece que você está com sede.
_ Estou mesmo. Vim de longe.
_ Então vem aqui beber água.
Depois que Lorde Kennedy saciou a sede, Baby perguntou:
_ Qual é sua história?
Nesse momento, Suellen que parecia mais calma, também perguntou:
_ Quando você esteve aqui? E continuou.
_ Por que voltou hoje?
Lorde Kennedy contou sua história para Baby e Suellen. Falou da mãe do jovem professor e de seu namorado. De como havia fugido para conhecer o mar. Falou de sua gangue. De suas aventuras. Do bar do Nego. Do reencontro com a mãe do jovem professor. Nesse momento, seus olhos umedeceram. Suellen percebeu e ficou quieta, mas Baby foi mais indiscreta:
_ Por que as lágrimas?
Lorde Kennedy respondeu:
_ Me bateu uma saudade dela! Tinha esperança que ela estivesse aqui.
As duas foram carinhosas com Lorde Kennedy. Suellen disse:
_ Passe o dia conosco.
Baby reforçou:
_ Isso mesmo! Depois que comermos, podemos dar um giro pelo bairro.
E foi assim que Lorde Kennedy conheceu Baby e Suellen. No final do dia, as duas foram com ele até a praia de Ubatuba. Lá se despediram. Quando Lorde Kennedy chegou ao bar do Nego, os demais ficaram aliviados. Estavam preocupados com o sumiço de Lorde Kennedy. Mas, este tranquilizou a todos:
_ Hoje conheci Baby com Suellen. Qualquer dia vocês vão na casa delas comigo. É a casa da irmã do namorado da mãe do jovem professor. Quem sabe vocês me ajudam a fazê-las se juntar a nossa gangue

sábado, 6 de abril de 2019

Quebra-cabeças

Uma música ambiente. Estrangeira. Romântica. Em inglês. Estou em Londrina. Visito minha mãe. Já não me reconhece. Vegeta. Quarenta e cinco quilos. Não gosto de vê-la assim. A visão não faz juz à memória da vida dela. Aguardo a partida dela. Queria que fosse breve. Mas, é uma escolha que foge a meu domínio. Tive oportunidade. Faltou coragem!
Uma musica ambiente. Brasileira. Romântica também. Continuo em Londrina. Muda o contexto. Em um sebo, encontro Fragmentos. Livro de bolso com oito histórias e um conto de Caio Fernando Abreu. Com ele aprendi a palavra vezenquando. Vezenquando a uso. O título me remete à vida. Fragmentada. Tento juntar as peças. Um quebra-cabeças. A cronologia não importa. Vezenquando gosto do que vejo. Vezenquando não.
Uma música ambiente. Estrangeira. Alegre. Em inglês. Mais um fragmento. Mais uma peca do quebra-cabeças. Muda o contexto. Esse quebra-cabeças interminável. Quando a gente pensa que montou, surge outra peça.
Vezenquando quero jogar alguma peça fora. Tento. Se perde na memória. Vezenquando ela reaparece. Preenche o buraco. Jogo outra fora.
Não gosto de ver o quebra-cabeças completo. Superstição. Quando ele ficar completo será o momento da partida.
Outra música ambiente termina.  Pedestres passam pela calçada. Apressados alguns. Outros não. Uma mulher saúda outra com um namastê. A outra ignora. Eu termino o texto. O quebra-cabeças não! Onde encaixo esta nova peça?