sábado, 14 de janeiro de 2017

Caminhos

Caminho em direção ao cinema. É sábado. Manhã. Quase no destino, uma parada em um sebo. Busco livros de bolso para minha coleção. Encontro um de Afonso Romano de Sant'Anna. Como andar no labirinto. Coletânea de crônicas.
Morador de Curitiba há quatorze anos, nessa caminhada matinal encontro dois conhecidos. Não é usual. Em geral, quando flano pelo centro da cidade, raramente reconheço algum rosto. Breve troca de palavras. Em seguida, cada um segue seu rumo.
Enquanto espero o horário da sessão, um café acompanhado das primeiras crônicas. Na contracapa aprendo que Sant'Anna nasceu em 1937. Me antecedeu em duas décadas. Fernanda, minha segunda filha, é de 1987. Ontem tomamos um café juntos no meio da tarde. Em 2017, ela chegará aos 30. Eu aos 60. Fazemos parte dos nascidos em anos terminados em 7. Ela terá vívido metade de minha vida.
Andamos no labirinto. Às vezes juntos. Na maior parte do tempo, separados. Cada um faz seu caminho nessa linda metáfora de Sant'Anna. Mais vivido, eu já encontrei muitas paredes. Voltei parte de caminhos já trilhados. Explorei outros desconhecidos. Ela deve ter encontrado suas paredes também. Soube retornar. Tomar outras direções. De vez em quando, nos encontramos no mesmo beco. Caminhamos um pouco juntos. Mas, sabemos que os labirintos são distintos. Se tocam. Se cruzam. Se afastam.
O importante? Acho que é não desistir das andanças. Cada um segue em seu labirinto. Quando é preciso, fazemos eles se cruzarem. Ontem foi o caso. Ela me chamou para um café. Eu estava precisando. Ver a filha caçula. Seu sorriso. O rosto afogueado pela caminhada. Das Mercês ao MON. Chegou acompanhada do amigo farmacêutico. Os dois apaixonados pelo flamenco. Mas, impossível viver dele nesse país. É um dos becos do labirinto. Mas, um beco muito frequentado. Todos nós temos nossos becos muito frequentados. Teimamos em voltar a eles. Com a esperança de um dia encontrar um vão, mesmo que pequeno, em uma das paredes.
Caminho de volta. Entro em uma estação-tubo. Sol das 13 horas na Praça Tiradentes me convence de que a caminhada não será fácil. Nunca é. Mas, não preciso torná-la mais difícil. Depois do filme, mais um nascido em 1937 cruza meu caminho. Um desconhecido. Me pergunta quando será o carnaval em 2017. Ao ouvir minha resposta, indaga da minha certeza. Respondo que, como professor, preciso saber. Quer saber o que ensino. Me pergunta quantos anos falta para o terceiro milênio. 983. É minha resposta. Se impressiona com meu cálculo rápido. Digo que não chegaremos lá para ver como será. Concorda comigo. Me diz que dia 17 fará oitenta anos. Mais um de ano terminado em 7. Assim como Sant'Anna penso eu.  Nossos labirintos se tocam nesse rápido encontro. Chega o ônibus. Embarcamos. Desço no próximo tubo. Ele segue em seu labirinto. Eu no meu. Quem sabe quando se cruzarão novamente?