sábado, 13 de fevereiro de 2021

O sumiço de Chumbinho

Nenhum deles pensava que encontrariam o amigo novamente. Vina, em especial, era a que estava mais triste. Há uma semana que seu companheiro sumira. Um mistério!
No dia de seu sumiço, Chumbinho saiu bem cedinho pela manhã. Era o dia de Nego ir ao  centro histórico de São Chico. Chumbinho disse que tinha um problema a resolver. Não iria com a gangue nesse dia. Vina perguntou o que era? Chumbinho não deu detalhes. Disse apenas que precisava rever o irmão que tinha chegado de Araquari. O irmão morava com o padre da paróquia menor da cidade vizinha a São Francisco do Sul. Há três ano não aparecia. Chumbinho, por acaso, viu o irmão na casa de veraneio do padre na praia de Ubatuba.
Foi uma surpresa para todos da gangue. Chumbinho nunca tinha falado do irmão. Perguntado sobre isso. Apenas disse:
_ Nós temos um problema mal resolvido desde que ele foi morar com o padre.
Quiseram saber o que era. Chumbinho apenas disse:
_ Coisa nossa. Não se preocupem. E saiu antes de  Nego aparecer com a comida matinal. Foi em jejum.
Quando voltaram Chumbinho não havia retornado. Já passava das seis horas da tarde. Justo nesse dia, Nego resolveu ir até Joinville. Levou a gangue de Lorde Kennedy com ele. Resolveu visitar os pais que não via há três meses. Dona Maria e seu Pedro estavam em casa. No começo da Serra Dona Francisca, em Pirabeiraba. Vendiam pastel e caldo de cana. Bem em frente à casa onde moravam. Mas, era apenas para se manterem ocupados. Ambos já aposentados tinham uma renda mais que suficiente para viver. Nego já tinha tentado levá-los para São Francisco do Sul. Mas, a resposta era sempre a mesma:
_ Somos felizes aqui.
Quem não gostou da visita foi Teimosa. Uma gata angorá que decidira morar com os pais de Nego. Mas, depois do alvoroço inicial com aquela cachorrada, Teimosa ficou dentro de casa. A gangue tomou conta do quintal da casa. Na hora da saída, enquanto os cachorros subiam na traseira da caminhonete, Teimosa apareceu no parapeito da janela da sala. Com um ar de alívio. Aparentemente feliz também.
A noite chegou logo. Muito escura. Era um inverno bem frio. Chumbinho não voltou. Vina estava desesperada. O velho China procurou acalmá-la:
_ Chumbinho deve ter ficado com o irmão. Tinham muita coisa para conversar. Amanhã ele aparece.
Com isso, Vina ficou um pouco menos preocupada. Lorde Kennedy e Dama também tentaram acalmar a amiga:
_ É isso mesmo. Amanhã ele volta, reforçou Lorde Kennedy.
_ Sim. Com certeza. Vamos dormir para a manhã chegar logo. Foi o que disse Dama.
Na manhã seguinte, nada de notícias do Chumbinho. A tarde passou sem notícias. De noite também. Vina ficou muito preocupada. Alemão tentou sossegá-la:
_ Se Chumbinho não chegar até a hora do almoço de amanhã, vamos procurá-lo em Ubatuba.
Os demais ficaram em silêncio. China e Lorde Kennedy trocaram olhares preocupados. Dama acalentou a amiga que deixou escapar uma lágrima.
A manhã seguinte foi arrastada. Angustiados, os cachorros a todo momento saíam para a rua na esperança de ver Chumbinho chegando. Nada! Depois que comeram, se puseram a caminho de Ubatuba. Mas, nenhum deles sabia onde era a casa de praia do padre de Araquari. Andaram por Ubatuba toda. Nem sinal de Chumbinho. Voltaram tristes para casa. Sem saber o que fazer.
Os dias foram passando. A tristeza tomando conta deles. Quando chegou o dia de Nego ir ao centro novamente, nenhum deles quis ir junto. Quase não saíam mais. Nego estava preocupado com a gangue de Lorde Kennedy.
Foi sozinho cuidar dos seus afazeres no centro histórico. Quando estava entrando na caminhonete para voltar, viu Chumbinho na praça. Todo sujo. Chamou por ele, mas Chumbinho apenas levantou a cabeça e não se mexeu. Nego foi até ele. Pegou Chumbinho no colo e levou até a caminhonete.
A chegada de Chumbinho e Nego foi uma algazarra. Depois da recepção, Vina era a felicidade toda inteira. Chumbinho estava esfomeado. Depois de se fartar com a comida, contou o que lhe acontecera.
Quando chegou na casa de praia em Ubatuba, o irmão lhe recebeu muito bem. Conversaram bastante. Se acertaram e puseram uma pedra em cima dos problemas do passado. O irmão falou para ele passar a noite ali. Chumbinho aceitou.
Na manhã seguinte, o padre chamou os dois para o carro. Chumbinho, ressabiado, não queria subir. Mas, o irmão disse que toda manhã o padre ia até o centro da cidade comprar jornais e revistas. Depois voltava.
Mas, naquele dia o padre tocou direto.  Passou pela entrada de São Francisco do Sul e seguiu em direção a Araquari.
Chumbinho não pode fazer nada. Quando chegaram na paróquia, Chumbinho viu o padre tirando a bagagem do porta-malas. Percebeu que as férias do padre haviam terminado.Nesse momento, saiu em disparada em direção à estrada. Levou seis dias para chegar até o centro de São Francisco do Sul. Passou muito susto na estrada. Teve que se esconder de alguns cachorros em uma fazenda. Eram três brutamontes que tentaram lhe dar uma surra. Conseguiu escapar por baixo de um buraco em um muro. Os grandalhões não conseguiram entrar. Depois de algumas horas desistiram de Chumbinho.
Enfim, depois de tanto caminhar e dormir ao relento, chegou à praça onde Nego estacionava a caminhonete. Chumbinho viu a caminhonete de Nego na rua. Mas, não tinha forças para se aproximar. Ficou esperando que Nego chegasse e torcendo para ser visto por ele.
Foi uma noite feliz para Lorde Kennedy e sua gangue. Em poucos dias, depois que Chumbinho estivesse completamente recuperado, a gangue retomaria suas aventuras pelas praias de São Francisco do Sul. Vida normal e feliz para eles.