sábado, 27 de maio de 2017

Mola do mundo

Dizia à amiga. Ele me pergunta se ainda sinto algo pelo outro. Digo que não. Não quero magoar ele. Mas,você sabe né? Quando vejo ele. Minha perna amolece. Tudo amolece. Quando me dou conta, acordo na cama dele. É um vício. Mas também é o único.
A amiga só escutava. Não falava nada. Percebeu que eu ouvia. Piscou para mim. A outra não percebeu. Devo ter ficado com o rosto vermelho. Afogueado. Não pude evitar. Ouvi a conversa no ônibus. Elas estavam na minha frente. Os três em pé. Carro lotado. De frente para elas, era como participasse da conversa. Era mais um monólogo.
Ela continuou.  Perguntou a opinião da amiga. Mas, antes da outra responder falou do corno. É um fofo. Tadinho! Não queria fazer isso com ele. Não aguento. Quando vejo já abri as pernas
Vadia. Foi a única palavra que saiu da boca da amiga. Seguida de duas gargalhadas. Eu ri também. Fazer o quê?
Sexo, a mola do mundo. Foi o pensamento que me ocorreu. Não importa como. Nem onde. Ou com quem.
Minha solidariedade de macho, de repente, me fez entrar na conversa. Tenho certeza que o fofo também dá umas por fora. Falei em voz alta. Ela me olhou. Ficou de boca aberta. Incapaz de qualquer som. A amiga deu mais uma gargalhada.
Desci do ônibus que acabara de chegar a meu tubo. Dei uma gargalhada. Guardei na memória aqueles olhos arregalados e a boca aberta. Foi quase tão bom quanto sexo. A mola do mundo.

sábado, 13 de maio de 2017

Dia das Mães

Ela virou uma biscate. Todo fim de tarde ia encher a cara no bar da esquina. Caçando macho. Arrumou um velho. Quando encontrava ele, não dormia em casa. Ia se esfregar com ele. Passava em casa de manhã. Toda amassada e descabelada. Tomava banho. Ia pro trabalho de cara limpa. Biscate.
Eu? Tinha que cuidar da filha. Nem sou o pai. Quer dizer, acho que não. Biscate, Quem vai saber de quem é a menina. Três anos. Coitadinha. Perguntava da mãe. Que que eu podia dizer? Falava que estava trabalhando. Biscate. Quando saía do emprego, pintava a cara e passava aquele batom vermelho. Vermelho puta. 
Quase nunca via a menina acordada. Antes de sair, dizia que amava a gente. Pedia pra eu cuidar dela. Mas, de que jeito? Nem dinheiro ela me dava mais. Gastava tudo em pinga. Eu fazia uns bicos pra poder dar o que comer pra menina. De vez em quando ficava na porta da igreja com ela. Pedia. Pedir é melhor que roubar, não é doutor? Ela tinha vergonha. A menina. A biscate nem sabia. Acho que me matava se soubessse. Mas, como que eu ia fazer? Ela não dava mais dinheiro pra mim. Ainda tinha coragem de me pedir pra cuidar da menina. Biscate.
Outro dia chegou bêbada. Uma hora da manhã. Não achou macho que a quisesse. Veio se esfregando em mim. No começo eu resisti. Mas, a carne  é fraca, doutor. Tava a perigo. De madrugada, acordei do lado da biscate. Peladinha. Dei mais uma. Ela parecia morta. Fria. Fedia a cachaça. Meu sangue ferveu. Enchi ela de porrada. Achei qeu ela fingia. Devia tar sonhando com o velho dela. Mas, ela já estava morta. Biscate.
Agora tenho que me virar pra cuidar da menina. Três anos. Coitadinha. Perguntava da mãe. Eu dizia que estava no trabalho. Biscate.
E agora?
No dia das mães vai ter festinha na escola. A biscate não vai. Tá morta. Não podia esperar passar esse dia. Não.  A biscate tinha que morrer antes. Agora tô aqui preso. Mas, o doutor acredita em mim, não? O que vou dizer pra menina? Coitadinha. Que vai ser dela?
Biscate.