quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

De que ri a seriema

Algum tempo atrás, caminhava pelo Passeio Público em Curitiba. De repente, ouvi algo que parecia uma gargalhada. Não localizei a fonte do som, mas provinha de algum lugar à frente na direção em que caminhava. Me lembrei de uma tia, falecida quando eu ainda era adolescente. Tinha uma risada muito parecida com o som que ouvia. Mas, é claro que não poderia ser ela. Ou poderia?
Continuei no meu caminho. Passos apressados em ritmo forte. Não era um passeio. Era uma caminhada. De novo ouvi a gargalhada. Ao fazer a curva, me aproximei das gaiolas onde ficam as aves de maior porte no Passeio Público. Araras, papagaios, jacus, e seriemas. Em uma delas, um par de seriemas. Uma delas, empoleirada em um galho mais alto. A outra ciscando pelo chão. A primeira praticando seu canto. Quase uma gargalhada! Não era minha falecida tia. Ainda bem!
Hoje pela manhã, repito a caminhada. Tento torná-la um exercício habitual. Às vezes, vem a preguiça. Mas, persisto. Meus planos são de fazê-las três vezes por semana. Alternadas com as duas sessões semanais de pilates e uma de yoga. Me cuido. Mas, vezenquando, bate a preguiça. Sem culpa. O importante, penso eu, além do porquinho, é insistir!
Essa do porquinho revela minha idade. Os de minha geração entenderão. Os demais perguntem ao Google. Afinal todas as respostas estão lá. Será?
Durantes as caminhadas, minha imaginação voa. Também, as reflexões me acompanham. Sobre a vida, o amor, sobre tudo! Mas, hoje durante as duas últimas voltas no perímetro do Passeio, a reflexão foi outra. Me indaguei: de que ri a seriema? Várias possíveis respostas me vieram à mente.
Ri de nós, humanos, que passam apressados por sua gaiola? Como se fossemos coelhos de Alice. Estou atrasado! Estou atrasado!
Ri daqueles que, fora de gaiolas, conseguem ser mais presos do que ela e a companheira que está ao solo? A que nos prendemos para que passos tão apressados sejam nossa marca? Pressa para chegar aonde?
Ri daqueles de corpo obeso que teima em se manter assim apesar das caminhadas? Se pudesse falar, será que apontaria seu próprio corpo esbelto e diria que não precisa caminhar para ser como é?
Será que ri das crianças que lhe apontam e perguntam aos pais que bicho é esse? E aquele?
Ou deve rir das graças que fazem os papagaios na gaiola ao lado?
Seja qual for o motivo, ri seriema, ri! Ou melhor gargalhe! Afinal, esses malucos que lhe veem em sua gaiola, há muito tempo dizem:
Rir é o melhor remédio!