sábado, 26 de janeiro de 2019

O leão marinho em Paulas

Uma das aventuras inesquecíveis para Lorde Kennedy e sua gangue aconteceu quando foram às praias de Paulas. Foi em uma segunda-feira, dia em que Nego ia ao centro histórico de São Francisco cuidar de seus negócios. Vezenquando, Nego aproveitava e passava em Paulas para comprar peixes, camarões, lulas e mariscos para seu bar. As praias de Paulas têm muitos humanos que vivem desse ofício em São Francisco do Sul.
Depos daquela vez que a gangue toda se encondeu sob a lona da carroceria da velha caminhonete do Nego, os passeios de segunda se tornaram frequentes para Lorde Kennedy e sua gangue. Nego fingia que ficava bravo, mas, na verdade, ficava feliz com a companhia dos seis cães. Quando estacionava na praça da igreja em São Francisco do Sul, a criançada do centro corria para ver e brincar com Lorde Kennedy e sua gangue. Era uma festa!
Pois então, naquele dia, depois que voltou do banco, Nego assobiou para a cachorrada que estava se divertindo com as crianças. Todos correram em direção a caminhonete. Cachorros e crianças. Depois que Lorde Kennedy e sua gangue estavam alojados na carroceria, Nego deu partida e foi em direção ao balneário de Paulas. A criançada ainda correu atrás da caminhonete, enquanto Nego contornava a praça.
Nego estacionou em frente à comunidade dos pescadores e partiu em busca de suas mercadorias. Enquanto isso, os cães desceram da caminhonete e foram em direção à areia. Alemão foi o primeiro a observar a agitação em um dos cantos da praia. Um monte de gente fazendo um círculo. Parecia que havia algo estranho na praia. Ele chamou a atenção dos demais:
_ Olha quantos humanos lá no canto!
_ O que será? Vina perguntou.
_ Vamos até lá, sugeiru Dama.
Lorde Kennedy concordou. Assim, eles foram e em dez minutos chegaram ao canto da praia. Passaram entre as pernas dos humanos. No centro do círculo tinha um animal desconhecido para quase todos. Grande. Pelo meio amarronzado, com dois grandes dentes que se alongavam para fora da boca. Pontiagudos. Chumbinho exclamou:
_ Nossa! Que bicho estranho!
_ O que será? Foi a vez de Alemão perguntar.
China, era o único que conhecia o leões marinhos. Explicou para a gangue:
_ É um leão marinho. Deve estar perdido aqui em São Francisco do Sul. Vi muitos nos mares gelados quando estava embarcado no navio que me trouxe para cá. O que será que aconteceu.?
Nesse momento, Lorde Kennedy comentou:
_ Ele parece estressado. Está um pouco agitado.
E Vina completou:
_ Deve ser por causa desses humanos todos em volta dele. O que podemos fazer?
China falou:
_ Sim, leões marinhos não estão acostumados com os humanos. Vamos ajudar ele a voltar para o mar.
Foi então que Lorde Kennedy e sua gangue resolveram entrar em ação. Mais uma vez, iam ajudar um animal marinho a voltar para a água. Assim como aconteceu com a arraia na praia do Forte. Só que dessa vez o bicho era imenso! Como fazer? Foi de Alemão a ideia:
_ Já sei, vamos dar um jeito de afastar os humanos do leão marinho. A gente começa a rosnar e latir para eles e vamos fazendo um corredor para que o leão marinho possa se arrastar até as águas do mar.
_ Isso mesmo! Chumbinho e China concordaram ao mesmo tempo.
A gangue se dividiu em dois grupos: Alemão, Chumbinho e Vina à direita; China, Dama e Lorde Kennedy do outro lado. Se puseram a latir, rosnar e arreganhar os dentes em direção aos humanos. Estes se assustaram e recuaram um pouco.
O leão marinho, a princípio, também se assustou com os cães. Mas, de repente percebeu o que estava acontecendo. Uma brecha entre os humanos estava se formando e o caminho para o mar se abria. Ele emitiu um som muito parecido com o dos cães e começou a se arrastar para o mar. Enquanto isso, Lorde Kennedy e sua gangue mantinham os humanos afastados. Assim como a arraia na praia do Forte, o leão marinho quando alcançou o mar se virou para os cães e inclinou a cabeça antes de mergulhar. Era um agradecimento especial a Lorde Kennedy e sua gangue. Parece que os animais marinhos são muito educados!
Nesse momento, Nego estava chegando próximo ao tumulto no canto da praia. Um pescador que conhecia Nego contou o que os seus cães tinham feito. Nego ficou orgulhoso e assobiou para a gangue e disse:
_ Hora de voltar para casa. Hoje vai ter rango especial para vocês. Belo trabalho!

sábado, 19 de janeiro de 2019

O cachorrinho da madame

Tinha uma praia em São Francisco do Sul que Lorde Kennedy e sua gangue não tinham ido ainda: a praia do Molhe. Ela fica em uma das pontas da Enseada. Para acessá-la é preciso passar por uma trilha ao pé do morro onde fica o mirante.
Em uma manhã de céu azul, com poucas nuvens e muito sol, Lorde Kennedy sugeriu irem para lá. Alemão, que ia em direção à Prainha encontrar-se com Lola, disse:
_ Posso ir com vocês. Fico um pouco e depois vou pra Prainha. Tô com saudades de minha Lola.
E lá se foram todos. Lorde Kennedy e Dama à frente, Chumbinho e Vina logo atrás. Na retaguarda, China e Alemão. Caminhavam pelas sombras. O sol estava surgindo forte naquela manhã.
Cruzaram a ponte da Enseada, e seguiram pela avenida à beira-mar. No meio do caminho, ao lado do posto, pararam para descansar sob as árvores. Um pouco antes, no bar do Monteiro, um dos garçons lhes tinha dado água.
Depois de quinze minutos retomaram a caminhada. Quando estavam passando em frente ao hotel Fragata, China e Chumbinho viram um poodle branco todo tosado descendo de um carro preto enorme. À frente dele, ia uma mulher alta, de chapéu de abas largas e vestido branco. O chapéu era da mesma cor dos sapatos. Vermelho e branco. Atrás da mulher, um homem carregava suas malas. Chumbinho deu uns latidos que chamaram a atenção do poodle.
A mulher, distraida, nem notou que o poodle foi em direção ao grupo de cães. Assim que se encontraram, na calçada, Chumbinho falou:
_ Vindo de onde, meu chapa?
_ De Florianópolis. E vocês?
_ Nós vivemos aqui, respondeu Dama.
_ Estamos indo à praia do Molhe. Quer vir com a gente? Vina perguntou.
Chumbinho ficou um pouco enciumado e disse:
_ Acho que ele não vai querer. É um cachorrinho de madame!
_ Deixa de ser mal educado Chumbinho, falou Lorde Kennedy. E completou:
_ Qual é seu nome companheiro?
_ Eu sou o Silvain. Minha tutora me deu ese nome francês. Mas, morro de vergonha. Pode me chamar de Sil.
Assim que terminou de falar, Silvain olhou para trás. A mulher estava ocupada na recepção do hotel. Ainda não tinha visto que ele estava lá fora. Alemão percebeu tudo e disse:
_ Vamos agora gente boa! Depois a gente lhe traz de volta.
Foi então que todos sairam em disparada. Quando lá chegaram, Alemão deixou a gangue e partiu em direção à Prainha. Passaram o resto da manhã na praia do Molhe. Subiram até o mirante. Nadaram nas águas transparentes do mar. Se divertiram com as peripécias de um velho surfista que era o único humano por perto de onde estavam.
Mas, depois de muito tempo, China percebeu o ar de preocupação de Silvain. Comentou com Lorde Kennedy:
_ Acho que está na hora de irmos. Nosso amigo Sil parece preocupado.
Lorde Kennedy concordou. Chamou todos e disse:
_ Vamos embora turma. A madame deve estar preocupada.
Quando chegaram de volta ao hotel, viram a cena armada. A madame toda descabelada estava aos prantos, rodeada pela equipe do hotel que tentava consolá-la. Silvain correu até ela e pulou em seu colo. Olhou para trás e deu uma piscada para os novos amigos. Estava grato pelo passeio, mas era um cachorrinho de madame. Morto de fome queria comer sua ração especial.
E, por falar em fome, Lorde Kennedy e sua gangue também estavam famintos. Foram ligeiros para o bar do Nego. Lá os esperava a latinha de cada um com as delícias que só a cozinheira do bar sabia fazer para eles.

domingo, 13 de janeiro de 2019

A tempestade

Depois que Bóris partiu, Lorde Kennedy e sua gangue passaram por um período de tristeza profunda. O velho buldogue tinha ocupado um espaço grande no coração de todos.
Vina, em especial, era a que mais sentia sua falta. Afinal, fora ele que a resgatara quando ela caíra nas pedras do morro da Prainha. A cachorrinha desenvolvera um afeto muito especial por Bóris.
Mas, como tudo na vida, com a passagem do tempo a dor da tristeza foi diminuindo e foi substituída por uma saudade que doía vezenquando. Na maior parte do tempo, contudo, eles se lembravam com alegria das histórias que o velho soldado gostava de contar.
Foi assim que, naquele domingo chuvoso Chumbinho começou a relembrar:
_ Esta manhã chuvosa me fez lembrar da história da tempestade que Bóris nos contou, vocês se lembram?
Alemão confirmou:
_ Você tem razão Chumbinho. Essas nuvens negras no céu parecem que estão ameaçando uma tempestade parecida com a da história contada pelo Bóris.
O velho China, que estava quieto em seu canto, entrou na conversa:
_ Eu não conheço esta história! Acho que ainda não fazia parte da gangue quando meu saudoso amigo a narrou.
_ Você, realmente, ainda não estava conosco, disse Lorde Kennedy.
_ Então, me contem. Fiquei curioso.
Alemão arrematou:
_ Dama conta pra ele. Você é a melhor contadora de histórias que conheço.
E Dama começou:
_ Esta história é do tempo que Bóris estava no batalhão de salva-vidas. Foi uns dez anos atrás. A história ficou conhecida como a grande tempestade de São Chico.
Nesse momento, as águas despencaram dos céus. A gangue correu para baixo do teto da lavanderia da casa do Nego que ficava aos fundos do bar. Dama continuou:
_ Como dizia Bóris, naquele dia São Pedro tinha passado a noite arrastando os móveis. Depois, bem cedinho começou a lavar os céus com muita água. Era tanta água que comecou a inundar as ruas de Ubatuba e Enseada.
_ Bóris adorava dizer que São Pedro arrastava os móveis quando ouvia trovões, lembrou Lorde Kennedy.
E Vina ajuntou:
_ E quando comecava a chuva ele dizia que São Pedro tinha aberto as torneiras do céu.
Todos riram com um pouco de nostalgia. O velho Bóris estava no coração de cada um deles.
_ Mas, e daí? O que aconteceu? Perguntou China.
E Dama continuou a narrativa:
A tempestade tinha sido tão volumosa que as ruas ficaram inundadas. As águas subiram até um metro e meio e invadiram muitas casas.
Em uma delas, tinha ficado um bebê sozinho. O pai e a mãe, que eram muito pobres, tinham saido para trabalhar. O bebê tinha um ano de idade. Estava dormindo em seu berço. A vizinha que cuidava dele ainda não tinha chegado. As águas arrombaram a porta do casebre da família. O bercinho do bebê flutuou e saiu pela porta com o refluxo das águas.
Bóris estava ajudando no resgate das vítimas da enchente. Capitão Netuno e outro salva-vidas remavam o bote do batalhão. Bóris ia na proa atento. Estavam perto da ponte que liga Ubatuba e Enseada quando ouviram o choro do bebê. Bóris foi o primeiro a avistar o berço que já se aproximava da beirada da ponte. Mar, rio e enxurrada já tinham se misturado naquele ponto. Bóris não titubeou. Pulou e foi nadando em direção ao berço. Nadou rápido. Agarrou uma das alças do berço com as mandibulas. E comecou a retornar ao bote. Capitão Netuno e seu companheiro içaram o berço a bordo. Surpresos e felizes ao mesmo tempo, recompensaram Bóris com afagos e tapinhas no lombo do buldogue. A história saiu em todos os jornais. Os pais  do bebê ficaram muito gratos a Bóris.
Na casa do bebê tinha um cachorro que fugira de medo no dia da enchente. Era o Caliban. Além de muito feio e medroso, era ardiloso. Cego de um olho, tinha a cabeça lisa com um pelo cinza, manchado de vermelho. Depois que a familia voltou, Caliban reapareceu.
Uma vez por mês levavam Bóris para a casa deles e faziam uma festa. Nesses dias, Caliban tentava intrigar Boris com os pais do bebê. Fazia alguma arte e se escondia. Tentava por a culpa em Boris. Mas, os pais do bebê não se iludiam. Confiavam em Boris. Isto durou seis anos. Quando o bebê completou sete anos, a família mudou-se para Curitiba
_ Era assim que Bóris contava a história da tempestade, arrematou Dama.
_ É uma historia bonita. Digna de nosso velho e saudoso amigo, concluiu China.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

A partida de Bóris

O inverno em São Francisco do Sul estava mais intenso do que nos anos anteriores. Nego tinha feito uma fogueira no centro do quintal aos fundos do bar naquela noite. Os sete cães dormiram ao redor dela. De manhã só restara uma fumacinha azul subindo do meio das cinzas. O calor do fogo estava se extinguindo.
Enquanto todos se espreguiçavam, Bóris só deu uma breve erguida na cabeça. Olhou para China e Chumbinho que estavam à sua frente, do outro lado do que restara da fogueira. Cerrou os olhos e abaixou a cabeça, apoiando-a nas duas patas dianteiras cruzadas.
Nenhum dos cachorros da gangue percebeu, exceto Dama que dormira ao lado de Lorde Kennedy. Esta falou pra ele:
_ Tem alguma coisa errada com o Bóris.
Lorde Kennedy olhou para o velho buldogue e mexeu com ele:
_ E aí soldado Bóris, não vai acordar?
Bóris não respondeu. Lorde Kennedy insistiu:
_ Daqui a pouco vamos dar um passeio. Você não vem?
De novo, nada de resposta. Alemão e Vina se aproximaram de Bóris. O buldogue continuava de olhos cerrados. Uma leve cutucada de Vina na barriga de Bóris não o despertou. Nesse momento, Lorde Kennedy olhou para China, que na sua sabedoria, já se tinha dado conta do que acontecera. Com uma lágrima escapando pelo canto do olho direito falou:
_ O velho soldado não está mais entre nós, Lorde Kennedy.
Nesse momento, Nego saiu pela porta dos fundos do bar e chegou com a comida matinal da gangue. Viu os seis em volta de Bóris. Ouviu o ganido triste de Dama e Vina. Enxergou Bóris na mesma posição. Corpo esticado e a cabeça repousando sobre as duas patas dianteiras cruzadas. A direita sobre a esquerda.
Nego percebeu o que tinha acontecido. Embora não tivesse certeza de que os outros cachorros o entendessem, falou como se conversasse com eles:
_ Vou buscar um caixote para acomodar Bóris. Depois vamos levá-lo para algum lugar. E entrou para dentro do bar.
Logo depois retornou com um caixotinho de madeira. Colocou Bóris dentro. E o carregou para a caminhonete. Depois que o acomodou na traseira, viu que os demais estavam ao lado da caminhonete. Se deu conta que Lorde Kennedy e sua gangue queriam se despedir do velho buldogue. Continuou como se conversasse com eles:
_ Vocês querem ir, né? Podem subir. Hoje ninguém precisa se esconder embaixo da lona.
Assim, com todos a bordo, Nego entrou na caminhonete e ligou o motor. Lembrou-se do amigo Capitão Netuno, do corpo de salva-vidas. Falou para si mesmo:
_ Acho que meu amigo Netuno gostaria de se despedir do velho Bóris.
Colocou a primeira marcha e partiu em direção ao quartel. No inverno não havia muitos salva-vidas na cidade, só quatro que eram permanentes. A maioria era voluntário. Quando chegou ao quartel, viu Netuno com os quatro soldados fazendo exercícios. Desceu e contou ao Capitão Netuno o que tinha acontecido.
Foi assim que, em uma manhã fria de inverno, o velho Bóris foi enterrado no jardim do quartel dos salva-vidas com as honras de um soldado que cumprira com sua missão. Vezenquando, Lorde Kennedy e sua gangue fazem uma visita ao jardim e lembram do dia em que Bóris comandou o resgate de Vina das pedras do morro da Prainha.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

O passeio ao porto


Em um domingo, a gangue do Lorde Kennedy estava na praia de Ubatuba quase no final da tarde. Quando estavam se preparando para irem embora, China viu um navio cargueiro se deslocando em direção ao Porto de São Francisco do Sul, e disse:
_ Aquele navio se parece com o que eu vim para cá. Será que não podemos ir ao porto checar?
Alemão, percebeu o olhar tristonho do velho pequinês e respondeu:
_ Amanhã é segunda-feira, dia que o Nego vai para a cidade depositar dinheiro no banco. Quando ele estiver se arrumando, nós dois subimos na carroceria da caminhonete. E continuou:
_ Lá chegando, a gente dá uma corrida até o porto e vemos se é o seu navio.
Imediatamente, Dama falou:
_ Eu também quero ir. Vamos todos, Lorde Kennedy?
Lorde Kennedy nem conseguiu responder, os outros três – Bóris, Vina e  Chumbinho – falaram em coro:
_ Vamos sim! Sim, sim, sim...
Lorde Kennedy teve que concordar. Lembrou-se que fazia tempo que havia pensado em fazer um passeio ao porto. Mas, expressou uma dúvida:
_ Será que o Nego vai deixar a gangue toda subir na caminhonete?
Alemão respondeu:
_ Fica tranqüilo! Há uma parte da caminhonete que vive coberta com uma lona. Vocês se escondem embaixo dela.
Assim, decididos, Lorde Kennedy e sua gangue foram embora da praia de Ubatuba. Quando chegaram ao Bar do Nego, a comida já estava posta nas latas de cada um. Fartaram-se de comer e dormiram.
No dia seguinte, enquanto Nego tomava banho, Alemão ajudou todos a subirem na caminhonete e se esconderem embaixo da lona. Só ele ficou à vista, no lugar de costume. Nego saiu do bar, e se dirigiu à caminhonete e falou pro Alemão:
_ Já a postos, meu velho? Onde está o resto da gangue?
Alemão deu uns latidos e Nego entrou na caminhonete. Deu partida no motor. Estranhou não ter visto os outros cães nos fundos do bar, e partiu em direção ao centro histórico.
Depois de uns dez minutos, Nego olhou pelo retrovisor e levou um susto. Viu a gangue toda na traseira da caminhonete. Mas, já era tarde. Não quis voltar para fazer com que todos descessem. Assim, lá foram Lorde Kennedy e sua gangue fazer um passeio ao porto. Enquanto isso, apreciavam a paisagem da estrada.
Enquanto Nego foi ao banco, Alemão ajudou os demais a descerem da caminhonete e foram em direção ao porto. O velho China estava certo. O navio que avistara da praia de Ubatuba era o cargueiro em que trabalhava seu tutor.
Ao mesmo tempo em que os cachorros chegavam até próximo ao navio, o marinheiro que cuidava de China a bordo estava descendo para o porto. Estava de folga naquele dia. China correu até ele e os dois fizeram a maior festa. O marinheiro quis levar China para bordo, mas este resistiu. Não quis ir de jeito nenhum. Já tinha matado as saudades de seu tutor. Além disso, a vida na gangue de Lorde Kennedy era muito mais divertida do que a bordo de um cargueiro.
Alemão avisou:
_ Vamos voltar. Nego já deve estar terminando o que faz na cidade.
Partiram em disparada para a praça da prefeitura, lugar onde Nego sempre estacionava a caminhonete. China fez mais um afago no marinheiro e correu atrás da turma. Ao marinheiro só restou ficar acenando para China. Depois foi em direção ao bar em que encontrava sua amiga brasileira. Como quase todo marinheiro, sempre tinha uma amiga em cada porto.

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

O reencontro

Depois que China entrou para o grupo, a gangue de Lorde Kennedy comecou a ficar conhecida nas praias de São Francisco do Sul. Os sete cães estavam sempre pelas praias de Enseada, Ubatuba e Itaguaçu. Vezenquando, se aventuravam até a Prainha. Especialmente quando Alemão ia se encontrar com Lola.
Mas, não era só a gangue de Lorde Kennedy que estava ficando famosa. O bar do Nego também estava ganhando fama entre os locais e os turistas de final de semana. Além da polenta com rabada das quintas-feiras, aos sábados o Nego tinha colocado no cardápio um prato que fazia o maior sucesso: Camarão na Moranga. Fazia fila na porta do bar do Nego. Ele começava a servir às onze e meia e os ultimos clientes saíam do bar por volta das quatro horas da tarde. Enquanto esperavam na fila, os humanos se admiravam com os sete cães que viviam nos fundos do bar. Alguns reconheciam Lorde Kennedy e sua gangue quando estavam na praia.
Quase um ano tinha se passado, desde que Lorde Kennedy havia fugido da casa da irmã do namorado da mãe do jovem professor. A vida andava sossegada para a gangue. Há mais de um mês tinham tido uma escaramuça com o bando de Brutus. Foi na praia da Enseada, quase ao final, não muito longe do morro do mirante.
Lorde Kennedy e sua gangue estavam esperando para ver o por do sol, quando foram surpreendidos por Brutus, Zarolho, Pedroca e mais dois cães que nunca tinham visto. Brutus ainda não desistira de se vingar de Lorde Kennedy. Mas, por sorte Alemão estava atento e a gangue tinha o reforço do velho China. Era um mestre das artes marciais! Apesar da barulheira dos latidos e ranger de dentes, Brutus e seu bando fugiram com os rabos no meio das pernas. Lorde Kennedy e sua gangue foram vitoriosos.
Certo dia, a mãe do jovem professor e o namorado da mãe do jovem professor estavam de volta a São Francisco do Sul. A irmã do namorado da mãe do jovem professor comentou sobre o bar do Nego e o camarão na moranga. Um dos pratos preferidos do namorado da mãe do jovem professor. Decidiram ir lá no dia seguinte. Um sábado.
Lá chegaram por volta da uma da tarde. A fila de espera estava grande. Entraram na fila e de repente ouviram os latidos de Lorde Kennedy e sua gangue. Atraídos pelo barulho, a mãe do jovem professor e o namorado da mãe do jovem professor foram ver os cachorros. Lorde Kennedy viu os dois primeiro. Correu até eles e fez a mesma festa que fazia quando moravam juntos. Mas, quando a mãe do jovem professor quis pegá-lo no colo, ele recuou. Ela entendeu.
Nesse momento, de dentro do bar gritaram o nome da irmã do namorado da mãe do jovem professor. A mesa deles estava livre. Tiveram que entrar para comer. Ao final do almoço, os três foram até os fundos do bar do Nego. Se despediram de Lorde Kennedy. Sempre que voltam a São Francisco do Sul, têm uma parada obrigatória no bar do Nego para ver Lorde Kennedy e comer camarão na moranga. A vida e as aventuras de Lorde Kennedy e sua gangue agora fazem parte da história de São Francisco do Sul.

A chegada do China

Às segundas-feiras, Nego ia sempre ao centro histórico de São Francisco do Sul. O bar não abria e Nego aproveitava para ir ao banco depositar o faturamento da semana. ia com sua velha caminhonete. Alemão subia na traseira e não havia quem conseguisse tirá-lo de lá.
Certa vez, enquanto Nego estava dentro da agência bancaria, Alemão viu um velho pequinês na praça da prefeitura. Saltou da carroceria da caminhonete e puxou conversa:
_ Olá gente boa. Nunca te vi por aqui.
A princípio o velho pequinês ficou assustado. O porte do Alemão era impressionante, embora não parecesse agressivo. Ele foi monossilábico e formal na resposta:
_ Bom dia.
Mas, Alemão não se importou e continuou:
_ Sou o Alemão. Vim com meu tutor para o centro. E você?
_ China. Me chamam por China.
_ Como veio parar aqui?
_ Vim em um navio. Meu tutor é marinheiro. Desci com ele ontem. Mas, me perdi.
_ Ih, companheiro! Como foi isso?
_ Então, meu tutor ficou bebendo e dançando em um bar perto do porto. Coisa de marinheiro! Eu resolvi passear e não consegui encontrar o caminho de volta. Era de noite e muito escuro. Fiquei por aqui.
Alemão, então, completou:
_ Se quiser posso ir com você até o porto. Sei o caminho. Meu tutor vai demorar ainda no banco.
China, mais tranquilo, agradeceu:
_ Meu chapa fico muito grato. Aceito sua oferta.
Os dois partiram em direção ao porto. Alemão à frente, seguido pelo velho pequinês. Quando lá chegaram, uma surpresa: o navio do China não estava mais atracado no porto.
China, muito preocupado, falou:
_ E agora? Como vou viver nessa cidade? Primeira vez que vim para cá. Que tragédia!
_ Fica frio, meu chapa. A gente dá um jeito. Vem comigo.
Alemão levou o China de volta até a praça da prefeitura. A caminhonete do Nego ainda estava no mesmo lugar. Ele saltou na traseira e ajudou o China a subir. Depois que se acomodaram, falou:
_ Você vai fazer parte da gangue do Lorde Kennedy. Éramos seis. Agora seremos sete.
Nesse momento, Nego chegou e viu a novidade na traseira da caminhonete. Deu uma risada e falou pra si mesmo:
_ Se meu bar fracassar, vou abrir um canil.
De volta ao bar do Nego, Alemão apresentou China para Lorde Kennedy e os demais. Mais tarde, Nego trouxe a comida de todos. E uma latinha adicional para China. Depois da comida, Lorde Kennedy contou a China como a gangue se formara. E, também, sobre a turma de Brutus, Zarolho e Pedroca que andavam aprontando na região da praia de Ubatuba.