sábado, 19 de janeiro de 2019

O cachorrinho da madame

Tinha uma praia em São Francisco do Sul que Lorde Kennedy e sua gangue não tinham ido ainda: a praia do Molhe. Ela fica em uma das pontas da Enseada. Para acessá-la é preciso passar por uma trilha ao pé do morro onde fica o mirante.
Em uma manhã de céu azul, com poucas nuvens e muito sol, Lorde Kennedy sugeriu irem para lá. Alemão, que ia em direção à Prainha encontrar-se com Lola, disse:
_ Posso ir com vocês. Fico um pouco e depois vou pra Prainha. Tô com saudades de minha Lola.
E lá se foram todos. Lorde Kennedy e Dama à frente, Chumbinho e Vina logo atrás. Na retaguarda, China e Alemão. Caminhavam pelas sombras. O sol estava surgindo forte naquela manhã.
Cruzaram a ponte da Enseada, e seguiram pela avenida à beira-mar. No meio do caminho, ao lado do posto, pararam para descansar sob as árvores. Um pouco antes, no bar do Monteiro, um dos garçons lhes tinha dado água.
Depois de quinze minutos retomaram a caminhada. Quando estavam passando em frente ao hotel Fragata, China e Chumbinho viram um poodle branco todo tosado descendo de um carro preto enorme. À frente dele, ia uma mulher alta, de chapéu de abas largas e vestido branco. O chapéu era da mesma cor dos sapatos. Vermelho e branco. Atrás da mulher, um homem carregava suas malas. Chumbinho deu uns latidos que chamaram a atenção do poodle.
A mulher, distraida, nem notou que o poodle foi em direção ao grupo de cães. Assim que se encontraram, na calçada, Chumbinho falou:
_ Vindo de onde, meu chapa?
_ De Florianópolis. E vocês?
_ Nós vivemos aqui, respondeu Dama.
_ Estamos indo à praia do Molhe. Quer vir com a gente? Vina perguntou.
Chumbinho ficou um pouco enciumado e disse:
_ Acho que ele não vai querer. É um cachorrinho de madame!
_ Deixa de ser mal educado Chumbinho, falou Lorde Kennedy. E completou:
_ Qual é seu nome companheiro?
_ Eu sou o Silvain. Minha tutora me deu ese nome francês. Mas, morro de vergonha. Pode me chamar de Sil.
Assim que terminou de falar, Silvain olhou para trás. A mulher estava ocupada na recepção do hotel. Ainda não tinha visto que ele estava lá fora. Alemão percebeu tudo e disse:
_ Vamos agora gente boa! Depois a gente lhe traz de volta.
Foi então que todos sairam em disparada. Quando lá chegaram, Alemão deixou a gangue e partiu em direção à Prainha. Passaram o resto da manhã na praia do Molhe. Subiram até o mirante. Nadaram nas águas transparentes do mar. Se divertiram com as peripécias de um velho surfista que era o único humano por perto de onde estavam.
Mas, depois de muito tempo, China percebeu o ar de preocupação de Silvain. Comentou com Lorde Kennedy:
_ Acho que está na hora de irmos. Nosso amigo Sil parece preocupado.
Lorde Kennedy concordou. Chamou todos e disse:
_ Vamos embora turma. A madame deve estar preocupada.
Quando chegaram de volta ao hotel, viram a cena armada. A madame toda descabelada estava aos prantos, rodeada pela equipe do hotel que tentava consolá-la. Silvain correu até ela e pulou em seu colo. Olhou para trás e deu uma piscada para os novos amigos. Estava grato pelo passeio, mas era um cachorrinho de madame. Morto de fome queria comer sua ração especial.
E, por falar em fome, Lorde Kennedy e sua gangue também estavam famintos. Foram ligeiros para o bar do Nego. Lá os esperava a latinha de cada um com as delícias que só a cozinheira do bar sabia fazer para eles.

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