domingo, 23 de dezembro de 2018

Serendipity 3

Depois do passeio à praia do Forte, Lorde Kennedy e sua gangue ficaram um par de semanas mais sossegados. O máximo que faziam era dar umas voltas pelas redondezas do Bar do Nego.
Uma manhã, Lorde Kennedy acordou com um espírito aventureiro. Queria ir até o bosque dos macacos. Era uma mata às margens da rodovia que cruza pela praia de Ubatuba em direção à Enseada. Alguma coisa estava direcionando Lorde Kennedy. Ele não sabia bem o que era. Apenas sentia essa vontade irresistível. Comentou com os demais. Todos toparam. Dama até comentou:
_ Já estava ficando entediada com essa vida calma.
Chumbinho completou:
_ É isso aí. Vamos pra mais uma aventura.
Assim, em pouco tempo estavam a caminho do bosque dos macacos. Após passarem pelo Supermercado do Neno, entraram pela esquerda em direção ao bosque. Faltava pouco.
Quando lá chegaram, foi uma decepção grande. Nada dos macacos darem as caras. Alemão foi o único que conseguiu ver um deles. O macaco, bem grande, estava no topo de uma árvore bem alta. Assim que viu o pastor de capa preta lustrosa, o macaco saiu em disparada. Guinchava muito e bem estridente. Devia ser o chefe do bando. Estava avisando os outros macacos de que havia perigo à beira do bosque.
Lorde Kennedy e sua gangue ficaram um tempo esperando. Como a macacada não apareceu, Vina sugeriu:
_ Vamos dar um giro por essas bandas. Nunca estive por aqui.
Bóris concordou:
_ Também não conheço essa parte de Ubatuba. Vamos sim.
Foi dessa forma que Lorde Kennedy descobriu o que tinha feito ele sentir necessidade de ir para aquela região. O bando foi em direção a uma rua sem calçamento ainda. Na esquina estava sendo construída uma casa bem em frente ao bosque dos macacos. Ao lado dela uma casa de madeira com muitas flores e casinhas de passarinhos. Na parede uma placa com a palavra serendipity e o número 3.
Serendipity 3 reviveu a memória de Lorde Kennedy. Era a casa de onde ele tinha fugido. A casa da irmã do namorado da mãe do jovem professor. Ele começou a latir. Os integrantes do bando ficaram sem entender o que estava acontecendo.
De repente, os seis estavam na frente da casa. Ouviram barulho de passos. Na janela da frente, apareceu uma mulher. Ela ficou espantada com tantos cachorros. Reconheceu Kennedy no meio do bando. Ela o chamou. Este latiu para ela e saiu em disparada. Os outros foram atrás dele. Depois, quando já estavam bem longe, Kennedy contou que aquela era a casa de onde tinha fugido. O acaso o levara até lá. Mal sabia ele o significado de serendipity. Contudo, o coraçãozinho apertado de Lorde Kennedy o lembrava dos tempos e carinhos da mãe do jovem professor. Ele tinha consciência que dessa vez fugira da Serendipity 3, para não correr o risco de ter que abandonar seu bando. Na vida canina, muitas vezes, tem-se que escolher a dor menor. Lorde Kennedy não suportaria ficar longe de Dama e dos outros. Guardou para si a saudade e falou:
_ Hora de ir pra casa. Estou com fome. O Nego deve estar nos esperando.
E, puseram-se a caminho. No alto das árvores, os macacos começaram a se juntar. O perigo já havia passado. O bando de Lorde Kennedy estava indo embora.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Passeio ao Forte

Desde que Bóris se juntou à gangue, a vida continuou sossegada para todos. Alemão ficou preocupado quando o grupo chegou na casa de Lola no começo da noite e lhe contaram que havia um sexto elemento no grupo. Pensou consigo mesmo: Qual vai ser a reação do Nego quando notar mais um cachorro nos fundos do seu bar? Mas, preferiu não dizer nada naquele momento.
Bóris era um buldogue com 32 quilos e jeitão tranquilo. Nego foi com a cara dele. Na verdade, se lembrou dos tempos em que Bóris fazia parte do esquadrão de salva-vidas. Sempre via o velho buldogue com o capitão Netuno, que chefiava a turma de salva-vidas. Fez um pouco de festa com o Bóris e, depois de colocar a comida do bando nas vasilhas, olhando para Bóris, comentou:
_ Pelo jeito vou precisar de mais uma lata velha para você, né meu velho? E das grandes!
Entrou no bar pelas portas dos fundos e voltou com a comida do Bóris. Alemão soltou um suspiro de alívio. Tudo ia continuar como antes.
Na maior parte do tempo, a gangue ficava pela região da Enseada. Não muito longe do Bar do Nego. A turma do Brutus andava sumida. Ninguém ouvia falar deles. À beira-mar, ficavam ouvindo as histórias de Bóris. O velho buldogue cativava todos com seu jeito bonachão. Uma vez, ele estava contando da época que morou no Forte de São Francisco do Sul. Os outros cães não conheciam o Forte. Lorde Kennedy sugeriu:
_ Amanhã podíamos ir até o Forte.
Todos concordaram. Alemão, que já ouvira falar do Forte, alertou:
_ É bem longe! Vamos ter que sair cedo.
No dia seguinte, a gangue partiu para um dia no Forte. Nego nem tinha aberto as portas do bar. Por sorte, o sol estava encoberto. Assim, não sofreram muito no caminho.
Bem perto do Forte, na penúltima curva do caminho, encontraram com o trio sinistro: Brutus, Zarolho e Pedroca. Mas, dessa vez eles só rosnaram e arreganharam os dentes. Não eram páreo para Lorde Kennedy e sua gangue.
Na praia do Forte, Vina e Dama se maravilharam com a calmaria das águas. Parecia uma piscina. Correram para a água e se esbaldaram. Chumbinho também. Os outros três procuraram a sombra das árvores.
Logo mais, comecaram a chegar muitas familias com crianças. Vieram em um ônibus de excursão. As crianças brincaram com os cães. Alemão estava vigilante. Porém, tudo correu bem. Foi um passeio sossegado. A única excitação que houve foi quando uma arraia encalhou nas areias da praia do Forte. A criançada ficou mexendo com ela. Alguns meninos começaram a cutucá-la com gravetos. Nesse momento, Bóris deu um jeito de afastar os guris rosnando para eles. Bóris sabia fingir ser bravo. Os meninos correram e Alemão puxou a arraia pelo rabo em direção às águas do mar.
Isso aconteceu quase ao por do sol. A arraia deu um giro, curvou-se para Alemão como se fizesse um agradecimento e sumiu nas águas escuras.
Lorde Kennedy falou que estava na hora de voltarem pra casa. Chegaram no Bar do Nego que estava movimentado. Esfomeados correram para os fundos. Cada um encontrou sua lata com polenta e pedaços de carne. Era dia da famosa polenta com rabada do Bar do Nego. Estava explicada a quantidade de gente no bar até aquela hora.

domingo, 16 de dezembro de 2018

Bóris: o sexto elemento

O tempo foi passando. Lorde Kennedy e sua gangue estavam ficando famosos na região da praia de Ubatuba. Formavam um grupo que chamava a atenção. Principalmente das crianças.
Em um das vezes em que Alemão foi atrás de Lola na Prainha, Chumbinho sugeriu:
_ Vamos atrás dele! Dizem que a Prainha é muito bonita.
Alemão, naquele dia, estava mau humorado.
_ Vão por conta e risco de vocês. Faz tempo que não vejo a Lola. Não vou poder ficar lhes pajeando.
Vina e Dama ficatam animadas. Lorde Kennedy acabou concordando. Tinha lembranças boas da Prainha. Tinha ido lá quando veio para São Chico com a mãe do jovem professor e o namorado da mãe do jovem professor.
Alemão foi à frente. Os outros quatro seguiram o trajeto numa excitação incomum. Pareciam um bando de muleques em férias.
Na frente da casa onde Lola ficava, Alemão chacoalhou o portão e deu uns latidos. Lola veio em disparada até o portão. Atrás dela, surgiu uma mulher alta e magra. Esguia. Se parecia muito com a Lola. Enquanto Alemão e Lola se cheiravam pelos vãos da grade de ferro, a mulher abriu o portão e disse:
_ Eita! Que surpresa! Veio com a turma toda, hein!
Alemão entrou. Lorde Kennedy e os demais não.
_ No fim da tarde a gente passa por aqui, Lorde Kennedy se dirigiu ao Alemão.
Este respondeu:
_ Basta seguir por essa rua. Ali na frente está a Prainha. Se cuidem.
Os quatro foram embora. Alemão nem teve tempo de falar mais nada. Lola o arrastou para a parte de trás do quintal. Já fazia mais de um mês que não se viam.
Quando chegaram na Prainha, a gangue viu o posto de salva-vidas vazio. Ainda não estava na época de veraneio. Ficaram um pouco por ali. Nao muito tempo. Logo Chumbinho notou as pedras e o pequeno morro à direita da Prainha. E falou:
_ Vamos lá Lorde Kennedy? Parece que tem uma trilha.
Dama e Vina concordaram. As duas reforçaram:
_ Vamos sim.
_ Deve ter uma vista bonita.
E lá foram eles. Como sempre, Lorde Kennedy e Dama, lado a lado, seguidos por Chumbinho e Vina.
Passearam pela praia. Subiram nas pedras. Descobriram a trilha que serpenteava pelo outro lado do morro. A subida para Vina não foi muito fácil! Ela estava meio gordinha. Chumbinho, sempre, ficava na retaguarda. Empurrava um pouco quando percebia que Vina estava em dificuldades.
Aliás, Vina estava um pouco ousada demais naquele dia. Quando chegaram ao topo do morro ficaram admirando a vista. No mar aberto, passavam alguns navios em direção ao porto de São Francisco do Sul. Lorde Kennedy comentou:
_ Qualquer dia vamos conhecer o porto.
Os outros concordaram. Nesse momento, Vina viu algo se mexer na beira das pedras. Curiosa, foi ver o que era. Era um lagarto. Ela mexeu com o bicho. Este avançou em cima dela. Assustada, ela recuou e escorregou. Caiu em cima das pedras uns dois metros para baixo.
Os outros correram para acudir. Mas, não havia um caminho. Ficaram aturdidos. Chumbinho perguntou se Vina tinha se machucado. Ela disse que não. Mas, não via como subir. E agora? O que fazer?
Lorde Kennedy falou:
_ Fiquem aqui. Vou atrás do Alemão. Ele consegue tirar a Vina de lá.
Saiu em disparada. Na casa de Lola não encontrou ninguém. A família tinha ido passear e levado Lola e Alemão. Lorde Kennedy ficou preocupado. Começou a voltar para onde os outros estavam. Na sua cabeça a angústia: como tirar Vina lá de baixo.
No meio do caminho, um velho boldugue imenso lhe falou:
_ Ei meu chapa, você parece preocupado. O que aconteceu?
Lorde Kennedy contou pro estranho o que tinha acontecido. O velho buldogue falou:
_ Sou o Bóris. Já fiz parte do esquadrão de salva-vidas. Estou aposentado. Tenho experiência com esse tipo de situação.
Quando lá chegaram, Bóris analisou a situação de Vina. E disse:
_ Precisamos de algun tipo de corda.
Todos olharam ao redor. A sorte parecia estar mudando. A uns dez metros, em cima de um banco de areia, Dama viu uma velha corda de atracação de barcos. Apontou para Kennedy e Bóris:
_ Tem uma corda lá naquele banco de ateia.
_ Linda cadela, valeu, disse Bóris.
Lorde Kennedy ficou um pouco enciumado do galanteio de Bóris para Dama. Correu até o banco de areia. Trouxe a corda.
A partir daí, Bóris assumiu o comando da operação resgate. Primeiro, amarrou Chumbinho, que era o mais leve, e segurando uma ponta da corda, o sustentou enquanto ele descia até o local onde Vina caíra. Instruiu Chumbinho a amarrar a corda em Vina. Conseguiu içá-la de volta. Jogou a corda de novo para Chumbinho. E o ajudou a escalar o barranco de volta.
Depois do alívio, Bóris falou:
_ Vocês devem estar com fome, não? Sei onde a gente consegue comida a essa hora.
Passaram o resto do dia juntos. Depois de comerem, voltaram à Prainha. Lorde Kennedy contou sobre como o bando se conhecera. Bóris, que já andava cansado da vida solitária que tinha na Prainha, se ofereceu para fazer parte da gangue. Chumbinho, Vina e Dama aplaudiram a ideia. Lorde Kennedy assentiu com a cabeça. E finalizou:
_ Está na hora de irmos atrás do Alemão. Temos que apresentar a ele o Bóris, o sexto elemento da gangue.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

A quase vingança de Brutus

Lorde Kennedy e Dama estavam sempre juntos. Desde o dia que ele botara Brutus para correr, Dama se sentia protegida ao seu lado. Dama era mestiça de um labrador com uma dálmata. Tinha pelos marrons no corpo todo. A cabeça, porém, era marcada por manchas brancas e pretas. E o corpo era esguio como o de sua mãe. Era uma cadelinha exótica.
Nem sempre Alemão acompanhava a gangue. Vezenquando, Alemão sumia por dois ou três dias. Ia atrás de Lola. Uma golden retriever que aparecia pelos lados da Prainha uma vez por mês. Neses dias, Alemão nem aparecia para comer nos fundos do Bar do Nego. Quando Lola ia embora, Alemão voltava pra gangue com um ar triste. Com o rabo no meio das pernas. Mas, no dia seguinte já era o boa praça de sempre. E vigilante quanto a um possível ataque da turma do Brutus.
O grandalhão andava com outros dois cachorros mal encarados: Pedroca e Zarolho. Eram temidos não só pelos outros cães. Os humanos também não se sentiam seguros quando os três apareciam à beira-mar. Pedroca e Zarolho eram filhos de uma boxer com um galgo. Mistura sinistra! Ficaram velozes como o pai e ágeis como a mãe. Faziam barbaridades com os lixos das vizinhanças por onde andavam.
Certa vez, enquanto Alemão estava enrabichado por Lola, os outros quatro resolveram dar um rolê pela praia de Ubatuba. Pareciam dois casais. Chumbinho com Vina, sempre ao seu lado, seguiam atrás de Dama e Lorde Kennedy.
Raramente saíam sem o Alemão. Porém, naquele dia, Lorde Kennedy sentia falta da mãe do jovem professor. Quis ir praquele lado, que era a primeira praia que conheceu junto com o namorado da mãe do jovem professor. Estava um pouco melancólico. Se lembrava do passeio com a mãe do jovem professor. Foi a primeira vez que molhou as patas na água do mar. Quis beber. Não conseguiu. Um gosto ruim na boca o impediu. Depois aprendeu com Chumbinho que tinha sal na água do mar.
Mas... As coisas iam ficar difíceis naquele final de tarde.
No meio do caminho, quase em frente ao supermercado da Zeza, o que viram? Brutus, Zarolho e Pedroca. Do outro lado da rua, ainda uns cinquenta metros deles. O trio sinistro voltava da praia. Cada um carregando um osso que pegaram no lixo do açougue do Mendes. Os três arreganharam os dentes e comecaram a latir e correr em direção a Lorde Kennedy e os outros três. 0s três ossos cairam no chão ao mesmo tempo. Enquanto corria, Brutus gritou para Lorde Kennedy:
_ É hoje seu fedelho! Aquela mordida ainda me dói. Vou te dar o troco.
Para sorte de Lorde Kennedy e seus amigos, eles estavam do outro lado da calçada. Era uma sexta-feira movimentada por muitos veranistas. A rua estava cheia de carros passando. Dessa vez Lorde Kennedy percebeu que não dava pra bancar o herói. Foi rápido nas instruções:
_ Vamos correr. Não estamos longe do Bar do Nego. Dama e Vina na frente. Chumbinho e eu atrás.
Partiram em disparada enquanto os três grandalhões tentavam atravessar a rua. Em dois minutos, conseguiram. Aproveitaram uma parada no trânsito que foi causada prlo ônibus que parou pra pegar passageiros no ponto ao lado do supermercado.
Mas, do outro lado da rua só sentiram o cheiro do medo dos outros quatro. Partiram em disparada atrás do trilho do cheiro dos outros. Zarolho e Pedroca à frente. Eram mais rapidos que Brutus. Quando viraram na esquina da rua do Bar do Nego, já era tarde.
A essa altura, os quatro estavam na porta do Bar do Nego. Correram pros fundos. Lorde Kennedy foi o ultimo a entrar. Com a pata esquerda  traseira deu um empurrão no portão que fechou com um clique. Chumbinho, arfando e com a língua de fora, disse:
_ E aí Lorde. Dessa vez não deu pra encarar, né?
Lorde Kennedy, pareceu dar um sorriso com aquela boca quase banguela. Ele só tinha dois dentes. Também com a língua de fora, olhando pra Dama, respondeu:
_ O que vamos contar pro Alemão? Que fizemos a gangue do Brutus correr?
Dessa vez, foi a vez de Vina e Dama mostrarem os dentes. Será que sorriam também? Afinal, aquilo não deixava de ser verdade, não é?

Lorde Kennedy e sua gangue

Kenedy era um piá de prédio. Ou melhor, o cãozinho de um piá de prédio. Nunca tinha ido à praia. Até aquele dia.  Foi então que passou a ser conhecido como Lorde Kennedy. Nada mais adequado para um schnauzer.
Foi no começo da primavera. Alguns anos antes disso, Kennedy tinha mudado de apartamento. A família do piá de prédio se mudou de Curitiba e ele foi deixado para trás. Ficou aos cuidados de um jovem professor que não tinha muito tempo pra ele. Depois de um tempo, a mãe do jovem professor decidiu levar o cão para seu apartamento. Lá, ele ficava a maior parte do tempo sozinho. Ela trabalhava o dia inteiro. Mas, ele tinha direito a duas saidas por dia. Pela manhã e ao final da tarde.
Um certo dia, a mãe do jovem professor resolveu passar um final de semana na praia. Tinha um cara novo na história: o namorado dela. Fazia pouco tempo que namoravam. Foram para São Francisco do Sul. Se hospedaram na casa da irmã do namorado da mãe do jovem professor. Ufa! Esta história está ficando com um monte de personagens! Kennedy foi junto. O namorado era bonzinho. E, além disso, queria agradar a namorada nova. Tudo estava indo bem. Mas... Há sempre um mas...
No sábado à tarde, enquanto a mãe do jovem professor, o namorado da mãe do jovem professor e a irmã do namorado da mãe do jovem professor conversavam na sala, Kennedy viu o portão aberto.
No dia anterior, Kennedy já tinha ido ao mar. Queria voltar. Estava impaciente. Mas, ninguém lhe dava atenção. Não deu outra. Escapuliu pelo portão aberto.
Quando os adultos da história perceberam foi um deus nos acuda. Sairam em disparada por todas as direções. Mas, não conseguiram localizar o fugitivo. Ficaram tristes, mas quando souberem dessa história vão se conformar. Uma nova vida de aventuras estava começando para o ex-cãozinho de piá de prédio.
Ele tinha ido atrás do mar. Na praia viu uma cadelinha frágil sendo assediada por um cão enorme. Um cão fila. Ela gania e tremia de medo. Kennedy não teve dúvidas. Partiu pra cima do fila. O cachorrão se assustou. Kennedy meteu os dentes na perna traseira do grandalhão. Assustado com a ousadia de Kennedy, o malvado foi embora. Kennedy falou pra cachorra:
_ Tudo bem com você? Qual seu nome.
_ Agora sim, ela respondeu. Eu sou a Dama.
Kennedy ia falar alguma coisa, mas um vira-lata preto se meteu na conversa:
_ Gostei de ver meu chapa. Botou o grandalhão pra correr. Eu sou o Chumbinho. E você, quem é?
_ Sou o Kennedy.
Imediatamente, Chumbinho emendou:
_ A partir de hoje Lorde Kennedy, o salvador da nossa Dama.
Nessa altura da conversa, chegou a Vina. Uma daschund marrom avermelhada que era um flerte do Chumbinho. Ela tinha visto a cena do outro lado da calçada da Enseada.
_ Gostei de ver, disse para o Kennedy. Aquele brutamontes estava precisando de um susto. Eu sou a Vina.
_ Estou com fome, disse Dama. Vamos atrás de comida?
_ Com certeza, respondeu Chumbinho. Vi o Alemão lá perto do bar do Nego. Deve estar na hora do Nego botar a comida dele pra fora. Sempre sobra algo.
_ Vem com a gente Lorde Kennedy.
E lá foram os quatro. Quando chegaram nos fundos do Bar do Nego, Alemão já estava comendo. Era um pastor com uma capa preta lustrosa. Boa praça, falou pra eles:
_ Chega aí gente boa. Quem é o novato?
Chumbinho apresentou o Lorde Kennedy e contou o que tinha acontecido. Alemão comentou:
_ Ih rapaz! Foi se meter logo com o Brutus. Ele vai querer tirar a forra. Mas, fique com a gente. Ele não consegue encarar mais de um.
Foi assim que surgiu a gangue de Lorde Kennedy. De dia ficam girando pelas areias de Enseada e Ubatuba. À noite cuidam do Bar do Nego, que retribui com a comida diária da gangue. De vez em quando, Brutus cruza o caminho deles. Nunca teve coragem de se aproximar. Sempre com medo do Alemão, que tinha se tornado o guarda-costas de Lorde Kennedy.