sábado, 13 de maio de 2017

Dia das Mães

Ela virou uma biscate. Todo fim de tarde ia encher a cara no bar da esquina. Caçando macho. Arrumou um velho. Quando encontrava ele, não dormia em casa. Ia se esfregar com ele. Passava em casa de manhã. Toda amassada e descabelada. Tomava banho. Ia pro trabalho de cara limpa. Biscate.
Eu? Tinha que cuidar da filha. Nem sou o pai. Quer dizer, acho que não. Biscate, Quem vai saber de quem é a menina. Três anos. Coitadinha. Perguntava da mãe. Que que eu podia dizer? Falava que estava trabalhando. Biscate. Quando saía do emprego, pintava a cara e passava aquele batom vermelho. Vermelho puta. 
Quase nunca via a menina acordada. Antes de sair, dizia que amava a gente. Pedia pra eu cuidar dela. Mas, de que jeito? Nem dinheiro ela me dava mais. Gastava tudo em pinga. Eu fazia uns bicos pra poder dar o que comer pra menina. De vez em quando ficava na porta da igreja com ela. Pedia. Pedir é melhor que roubar, não é doutor? Ela tinha vergonha. A menina. A biscate nem sabia. Acho que me matava se soubessse. Mas, como que eu ia fazer? Ela não dava mais dinheiro pra mim. Ainda tinha coragem de me pedir pra cuidar da menina. Biscate.
Outro dia chegou bêbada. Uma hora da manhã. Não achou macho que a quisesse. Veio se esfregando em mim. No começo eu resisti. Mas, a carne  é fraca, doutor. Tava a perigo. De madrugada, acordei do lado da biscate. Peladinha. Dei mais uma. Ela parecia morta. Fria. Fedia a cachaça. Meu sangue ferveu. Enchi ela de porrada. Achei qeu ela fingia. Devia tar sonhando com o velho dela. Mas, ela já estava morta. Biscate.
Agora tenho que me virar pra cuidar da menina. Três anos. Coitadinha. Perguntava da mãe. Eu dizia que estava no trabalho. Biscate.
E agora?
No dia das mães vai ter festinha na escola. A biscate não vai. Tá morta. Não podia esperar passar esse dia. Não.  A biscate tinha que morrer antes. Agora tô aqui preso. Mas, o doutor acredita em mim, não? O que vou dizer pra menina? Coitadinha. Que vai ser dela?
Biscate.

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