sábado, 13 de fevereiro de 2016

Próxima Parada

Resolveu sair do trabalho meia hora antes do horário normal. Se aproveitou da ausência do chefe e da inexistência de controle de ponto. Era uma daquelas empresas moderninhas em que se pregava a ideia de que o trabalho é o momento de realização da pessoa. Os colaboradores, como eram chamados os empregados, deviam se sentir como donos da empresa. Mas, nunca tiveram participação no lucro.
Todo começo de semana tinham uma reunião de quarenta minutos quando o chefe expunha as metas da semana e estimulava o espírito de equipe. Ao final da reunião, o brado coletivo do lema inspirado nos "Três Mosqueteiros":
_ UM POR TODOS, TODOS POR UM.
Mal continha a vontade de gargalhar. Será que ninguém mais tinha aquela sensação de ridículo? Se perguntava.
Naquele dia, sentira um desconforto constante no peito. Pareciam gases. Mas, já fizera todos os movimentos usuais para se livrar deles. Ficara até de quatro durante um bom tempo no banheiro. Nada tirava aquele desconforto. Será que estava sofrendo um infarto?
Foi com essa dúvida que resolveu sair mais cedo. Mas, não queria ir para casa. Na estação tubo pegou o primeiro ônibus. Nem se importou em saber qual era. Fechou os olhos. Reabriu quando ouviu no sistema de som:
Próxima parada estação aeroporto.
Assustou-se. Deveria ter dormido. Aquela era a última parada. Todos tinham que descer. De repente, teve a ideia. A princípio pareceu maluca. Por outro lado, deveria existir alguma razão para o acaso ter lhe feito chegar até ali. Devia ser a vontade dos deuses!
Comprou uma passagem para o lugar mais distante. Teria que esperar duas horas até o momento de embarque. No caixa automático, fez aquele crédito pessoal que sempre aparecia na tela. Quinze mil reais. Sacou dois mil reais.
Quando chegasse ao destino compraria roupas e produtos de higiene pessoal. Se daria uma semana de férias. Na empresa, tinha certeza que entenderiam. Alguém cobriria sua falta. Afinal, eram um por todos e todos por um.
Tinha que testar os limites dessa empresa moderninha. Sentiu um alívio no peito. Os gases escaparam.

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