terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Reunião

Chegaram ao mesmo tempo. Pura coincidência. Vinham de locais distintos, mas tinham algo em comum. Haviam conhecido aquela mulher por várias décadas. Sua mãe, seu pai, o marido e uma amiga da infância.
A primeira trazia uma rosa na mão. O segundo, um par de livros. O terceiro, um caderno. A última, além de seu sorriso maroto, uma aquarela que recém pintara.
A princípio ela estranhou. Há tempos não via os quatro juntos. Será que aconteceu alguma coisa? Hoje não é meu aniversário. Pensou e ficou intrigada.
Seu pai foi o primeiro a falar:
_ Lembra quando você foi representante do Clube do Livro? Encontrei esses dois no meio das minhas coisas. São de 1949. Você estava com 23 anos então. Achei que você gostaria de tê-los.
Depois foi a vez de sua mãe:
_ Filha, quando abri a janela de meu quarto hoje de manhã, vi esta rosa em botão. Me deu uma saudade de você. Resolvi vir te ver e a trouxe.
O marido falou em seguida:
_ Eu também estava com saudades. Já faz algum tempo comecei a registrar nesse caderno os bilhetes que lhe mandava. Aonde estou não tenho o que fazer. Parece estranho, mas me lembro de tudo. O primeiro que lembrei foi o que mandei pedindo para lhe encontrar pela primeira vez. Você não foi, mas eu insisti. Ainda bem! Olha quantos bilhetes escrevi naqueles anos todos.
A amiga, com o sorriso maroto, emendou:
_ Você me conheceu bem antes dele. Quase oitenta anos de amizade. Quanta festa fizemos juntas, hein! Essa aquarela, toda colorida, foi inspirada nelas. Trouxe pra você. Põe junto daquele retrato de você que pintei em 2000.
Ela respondeu:
_ Quanta coisa! E nem é meu aniversário. Pena que não estou boa. Queria passar um café, mas não consigo me levantar. Parece que todo mundo saiu. Deixa eu ver se tem alguém em casa.
_ Tem alguém aí?
Nesse momento, uma leve brisa movimentou as cortinas do quarto. Os primeiros raios de sol entravam pela janela. Deitada, ela se perguntou:
_ Será que foi sonho?

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