quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Pipoca no cinema

Há filmes que não combinam com pipoca. Cinéfilo, continuo fiel à ideia de que o melhor lugar para assistir filmes é uma sala de cinema. Mesmo nas salas menores, a tela é grande o suficiente para dar uma sensação única que só o cinema pode proporcionar: entrar em um universo paralelo em que tudo vemos e ouvimos e não somos notados. Voyeur e cúmplice de tramas que, embora me afetem muito, ao acender das luzes desaparecem em um passe mágico. Volto ao mundo real que me afeta e demanda minha ação. Nem sempre voluntária. Às vezes bem sucedida.
Nessa altura você já deve ter percebido que para mim, ver um filme em sala de cinema funciona  como um refúgio. O domínio seguro em que lido apenas com minhas emoções e pensamento. Me deixo conduzir no mundo das imagens. Junto com minha mente, meu corpo reage às provocações das imagens: sorrio, tenho medo, meus olhos lacrimejam, me afundo na poltrona, me espanto, falo sózinho, fico preocupado e posso até gritar.
Nos tempos de infância e adolescência, quando essa paixão nasceu, talvez a única que não acabe ao longo da vida, as salas de cinema eram maiores e mais escuras. Propícias a muitos prazeres. Não falo apenas dos cinematográficos! Em cada sala de cinema havia uma bomboniére. Nelas podiam se comprar balas, caramelos, bombons e chocolates. Eu adorava os caramelos cobertos de chocolate da Pan. Os mais jovens não devem conhecer, mas os de minha geração com certeza sabem do que estou falando. Mastigar os caramelos da Pan era um desses prazeres. Depois, descobri outros menos solitários. Mas, isso é outra história.
Tenho quase certeza de que não havia pipoca à venda naquelas bomboniéres. Não vou afirmar, pois a memória tem suas artimanhas. Nem sempre responde a meus esforços de lembrança.
Ao contrário, hoje em dia, parece que em todo cinema se pode comprar pipoca nas salas de espera. E muitas outras coisas. É um espaço de lazer o cinema. O filme de entretenimento domina as salas de exibição. Pipoca, refrigerante e boa companhia. Além disso, com os celulares, fazem selfies e postam nas redes sociais! O cinema-refúgio já não existe mais.
Mas, como afirmei na primeira linha, há filmes que não combinam com pipoca. Quando vejo aqueles baldes enormes nas mãos das pessoas me desespero, mas me conformo. Apesar dos ruídos mastigatórios, o escurinho do cinema ainda é o melhor lugar para ver um filme. Será que alguém não pode inventar o pipocatório? O refeitório para pipocas. Um lugar onde as pessoas possam ver o filme e comer suas pipocas, deixando os outros em paz!
Pode ser até o contrário, um espaço pipoca free! Onde aqueles que acham que alguns filmes não combinam com pipoca vão ficar mais felizes. Não precisa ser grande. A quantidade de mãos carregando baldes de pipoca nas salas de cinema é cada vez maior. Acho que faço parte de uma nova minoria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário