sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Duas Lágrimas

No ônibus a caminho de Londrina. É um parador! De Curitiba, já passou por Ponta Grossa, Imbaú e Ortigueira. Não sei qual será a próxima parada.
Minha leitura de bordo já concluí. No sistema de vídeo interno, um filme que já assisti. Sono já se foi após uma hora de viagem entre Ponta Grossa e Imbaú.
Em Ortigueira, ouço a conversa de um passageiro sentado em algum lugar mais ao fundo. Fala ao celular. Ao final, se despedindo, descubro quem está no outro lado:
_ Filha, dê um beijo em sua mãe. Diga que eu amo ela. Ela pode acreditar.
A frase de despedida me sugere um casal em crise. Dá sentido à primeira fala dele:
_ Em Imbaú o celular estava sem sinal. Aqui acabou de tocar. Vou tentar ver uma placa para saber onde estou.
_ Em Ortigueira. Alguém diz a ele.
Imagino que tenha sido cobrado por não atender o telefone antes. Deve ter sido a mulher, pois durante o diálogo houve troca de interlocutor. Imagino a cena. Mulher irritada passa o telefone para a filha:
_.Tô. Conversa com seu pai. Esse traste!
O tom de voz desse passageiro, cujo rosto não enxergo, desperta minha emoção. Esta se faz acompanhar da imaginação. Sinto tristeza na forma como disse as últimas palavras.
Enxergo uma lágrima correr pela face do pai. Do outro lado da linha - sei que celular não tem linha, mas a poesia exige essa frase - outra lágrima deixa sua marca em um rosto de menina. Uma porta bate com força. Se ouve um palavrão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário