sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Um Conto de Natal

Natal acordou pela manhã. Eram quase sete horas. Um pouco assustado, pensou que se atrasara. Mas, lembrou-se que não tinha que ir para o trabalho. Era seu dia de folga. Era folga pra quase todo mundo, mesmos os não cristãos. Era dia de Natal.
Quando era criança, ele não entendia direito por que tinha um dia do ano que era dele. Os pais eram ateus ortodoxos. Não aceitavam a ideia de celebrar um dia cristão. Era uma data sem sentido para eles. Além do mais, criticavam muito os seus vizinhos do pequeno vilarejo, todos cristãos, que transformaram a festa religiosa em uma data comercial sem igual.
Era a época do ano em que o comércio mais faturava. Haviam estabelecido o dia de Natal como um dia em que todos se presenteavam. Nesses dias, mesmo os mais pessimistas no comércio, em épocas de crise, botavam fé, não no sentido religioso, de que as vendas seriam melhores do que no ano anterior. Eram sempre melhores!
Mas voltando ao Natal, na sua infância, os pais tentaram deixá-lo fora dessas festividades. Quando ele chegava em casa falando de Natal, os pais diziam:
_ Seu dia está chegando, homenzinho. Vamos ficar em casa só nos três. Faremos tudo que você quiser no dia do Natal.
E não saíam durante este dia. Tentavam evitar que Natal se contagiasse com o clima comercial, quer dizer natalino daqueles dias.
Natal achava estranho não poder sair de casa naqueles dias. Mas, na companhia dos pais, em meio a tantas brincadeiras, o tempo voava e o dia do Natal era muito feliz.
Seus pais conseguiram fazer isso durante algum tempo. Natal foi crescendo e teve que ir para a escola. Nesse ano, quase ao final das aulas, a professora fez uma atividade em sala sobre o dia de Natal. Natal se espantou:
_ Nossa professora, meus pais lhe contaram sobre meu dia?
Ele ficou transtornado quando, no meio das risadas de todos, a professora lhe deu uma bronca:
_ Não é o seu dia engraçadinho! Vai lá pro canto e fica de castigo.
Quando voltou para casa, Natal chorando muito contou o que acontecera com ele. Os pais se explicaram. Natal passou a exigir que os pais lhe recompensassem pelos presentes não dados. A dor do filho foi tão intensa que os pais tiveram um colapso mental e foram internados em um hospício pelo resto da vida.
Natal foi viver no orfanato das irmãs de caridade. Lá ficou até os 18 anos, quando um carpinteiro disse para as irmãs que precisava de um aprendiz. As irmãs pensaram que já estava na hora de Natal aprender um ofício.
O carpinteiro se chamava José e sua mulher Maria. Foi no dia de Natal, que Natal se mudou para a casa de Maria e José. Lá aprendeu seu ofício e em gratidão pela acolhida que teve no orfanato, ele passou a distribuir brinquedos de madeira para as crianças do orfanato no dia de Natal. No meio da tarde, ele chegava com um saco bem repleto de carrinhos e bonecos de madeira e, batendo à porta, gritava:
_ Hoje é o dia do Natal!
Ninguém entendia porque ele não falava hoje é o dia de Natal.
Só eu. E agora você.

Nenhum comentário:

Postar um comentário