sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Quase Fim de Ano

Todo ano era sempre a mesma coisa. Começava a se agoniar com o amigo secreto entre os colegas do escritório. Achava ridículas as mensagens que recebia. Não mandava nenhuma, mas sabia que na hora da revelação não faltariam admoestações:
_ Mais uma vez você não mandou mensagens.
_ A gente até consegue adivinhar quem é seu amigo secreto. Quem não recebeu mensagem nenhuma.
_ Pô, nem dessa vez que o amigo secreto foi virtual você mandou mensagem.
Logo, a troca de presentes continuava e o assunto mudava.
Mais uma vez, em cinco anos seguidos, um livro de presente. O best-seller do ano. Além de fingir surpresa e contentamento, tinha que manifestar que já não podia esperar pela leitura.
Tanto fingimento lhe dava mais azia que a sidra barata que era servida meio morna. Fazer o quê? Precisava do emprego!
O presente já tinha destino certo: a tuboteca na estação central. Ainda bem que neste ano não havia dedicatória. Nos anos anteriores arrancara a página com aquelas frases que aumentavam sua azia:
_ Que essa história lhe inspire no novo ano!
_ Para que você possa curtir bem suas férias.
_ Achei que esta história é a sua cara.
Mas, houve um ano que a dedicatória foi ousada:
_ Queria ver este livro no criado mudo junto à sua cama com você. Quem sabe na virada do ano.
Enrubesceu e quase não conseguiu agradecer. Ficou o restante da festa fugindo de qualquer momento a sós com aquela pessoa. Sua timidez era avassaladora. Se arrastava para os cantos menos iluminados do salão. Praticava a solidão no meio da multidão.
Depois da festa antes do Natal, no dia seguinte começavam as férias coletivas. 20 dias sem contato com o pessoal da empresa.
No dia 31, à noite, na festinha da família, esperava o momento mais angustiante: o sorteio da mega sena da virada.
Seria daquela vez?
Vida besta! Só o acaso para mudá-la. Não aguentava mais o discurso sobre meritocracia do chefe e as cobranças em casa.
Mais uma vez, não foi.
_ Come mais um pedaço do pernil. Alguém diz.

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