sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Uma Conversa com Deus

Acordou com a brisa movimentando levemente a rede. Nela adormecera embalado por uma dúvida. Como Deus deixara vir ao mundo uma criança cega e surda?
Vira esta criança sorrir ao ser amparada por uma professora em uma escola. Sorria essa criança? Ou era uma simples reação muscular a um estímulo tátil?
Acordou com mais uma dúvida: teria sido um sonho? O diálogo ainda estava vivo em sua memória:
_ Vi que queria falar comigo?
_ Quem é você?
_ Aquele que tem muitos nomes.
_ Como?
_ Sou Deus, criatura! Não me reconhece?
_ Como poderia? É a primeira vez que nos encontramos!
_ É verdade.
_ Então, o que você quer?
_ É ao contrário.
_ O que?
_ Essa fala é minha. Eu é que pergunto. O que vocé quer? Por que me chamou?
_ Como poderia ter lhe chamado? Nunca acreditei em sua existência!
_ Quando viu aquele menino que sorria, mesmo nascendo cego e surdo, você me chamou.
_ Eu! Imagina! Não estou louco! Quer dizer acho que não. Apesar dessa conversa de maluco!
_ Pois é criatura! Quando você se perguntou, se Deus existe, como é que deixou essa criança nascer, achei que queria uma resposta.
_ Eu não! Era só uma pergunta retórica. Mas, já que está aqui, fala.
_ Então, é um pouco constrangedor.
_ Como constrangedor? Para Deus?
_ Pois é. Mesmo sendo Deus, tem coisas que eu não sei.
_ Para com isso. Tá me gozando?
_ Não imagina. É constrangedor, mas é muito simples.
_ Então manda.
_ Criatura, eu sou uma criação humana.
_ Como assim?
_ Pois é. O criador é uma criatura. Só posso saber o que meus criadores sabem. Me desculpe, não sei a resposta. Mas, sei como vocês chamam coisas como o sorriso desse menino.
_ Como nós chamamos?
_ Milagre. Não tem explicação.
_ E você me acorda, pra me dizer isso?
_ Não te acordei.
Bateu uma leve brisa.

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