sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O GPS do Sexo

(Uma pequena distopia enquanto viajo de Florianópolis a Curitiba)
Em um pequeno planeta, em alguma parte da Via Láctea, nas proximidades de uma estrela muito brilhante, vive um povo que perdeu a voz.
Há não muito tempo, eram mais de seis bilhões de seres vivos, que falavam centenas de línguas, distribuídos por quase o mesmo número de tribos.
No meio dessa confusão de vozes, ao longo dos séculos, foram criando formas de comunicação entre si e entre as tribos. São seres muito criativos.
A capacidade da fala que a voz permitia permeava muitos hábitos desse povo. Entre estes, havia um que era muito apreciado: o sexo. Era muito praticado por todos desde muito cedo em suas vidas. No entanto, chegava uma certa idade que se tornava uma prática mais difícil, quase impossível, para alguns desses seres, os chamados "machos". Para outros seres, as chamadas "fêmeas", o problema também ocorria, embora fosse menos vísivel.
Felizmente, a evolução científica e tecnológica desse povo era fantástica. Fazia coisas chamadas de "inovação" que até Deus duvidava!
Os cientistas acabaram inventando uma pílula azul que ingerida permitia a prática do sexo para os machos em uma idade bem avançada. Ela resolvia um problema mecânico muito vísivel. Parece que tinha a ver com a dinâmica de um fluído interno. Mas, não estou bem certo. Para as fêmeas também havia inovações que facilitavam a prática do sexo.
Independente dessas inovações, para o sexo acontecer era necessária outra prática: a conversa. Às vezes longa, muito longa! Outras vezes breve, brevíssima até! Tipo:
_ Vamos?
_ Sim. No meu ou no seu?
O sexo, precedido da conversa, acontecia entre fêmeas, entre machos e entre machos e fêmeas. Podia ser praticado solitariamente, mas isso era mais comuns entre os seres mais jovens. Tinha várias funções: manifestação de amor; saciedade de desejo; passa-tempo; aquecer no frio; entre outros. Quando feito entre uma fêmea e um macho podia ter outra função, planejada ou não, a reprodução. Depois de trinta e seis semanas, um ou mais seres saíam do ventre das fêmeas. Eram um povo feliz!
Houve um tempo que duas inovações surgiram quase que ao mesmo tempo: um equipamento e uma nova forma de comunicação. Eram o smartphone e as redes sociais. Todo mundo tinha um smartphone que era usado para se comunicar nas redes sociais. Estas também eram usadas em outro equipamento, o computador. Mas, o smartphone era o preferido, pois era bem mais portátil.
Nas redes sociais, fêmeas e machos podiam se comunicar muito facilmente. Não precisavam da voz. Usavam dedos para digitar mensagens. No começo isto era feito para se comunicar com seres que estavam muito distantes. Mas, o uso dos smartphones e redes sociais era tão prazeiroso que os seres desse planeta passaram a usá-los mesmo com outros que estavam perto, por exemplo, em uma mesa de bar. Aliás ir a um bar era outra prática que usava muito a voz. Às vezes, juntava-se à conversa, nos momentos que antecediam o sexo.
As inovações eram vistas por esse povo como algo que só trazia resultados positivos. Ledo engano! No caso do smartphone e das redes sociais, as coisas não acabaram bem.
Aos poucos, com o passar dos anos, esse povo foi perdendo o dom da fala que permitia a prática da conversa. Daí foi um pulo para o sumiço da voz.
Mas, esse povo é criativo! Os cientistas e engenheiros estão fazendo adaptações em uma inovação que ajuda esse povo a se deslocar nas ruas e estradas do planeta. É um tal de GPS. Ele vai dando instruções, por meio de uma voz sem corpo, como chegar de um ponto de partida a qualquer destino. A voz sem corpo pode soar como uma fêmea ou um macho. Genial!
A adaptação poderá ser usada nos smartphones. Por enquanto só conseguiram reproduzir conversas bem elementares, do tipo:
_ Vamos?
_ Sim. No meu ou no seu?
É pouco ainda. Mas já é uma esperança para resolver a queda na população desses seres.
Será que escaparão da extinção?

Nenhum comentário:

Postar um comentário