segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

A Menina de Olhos Azuis


Ela tinha olhos azuis. Muito claros. Não parecia ter mais que dez anos. Mas, quanto a isso não podemos ter certeza. Sempre fui muito ruim em estimar a idade das pessoas. Jovens, criança, maduros, ou já na terceira idade, não importa. Sempre que tenho que dar um palpite, há uma grande chance de errar.
Nesse caso, porém, talvez não estivesse tão errado. Vamos dizer que estivesse entre nove e onze anos. Ainda criança. Seus olhos azuis, claros, muito claros, lhe davam um encanto especial. Os cabelos eram loiros, quase brancos. Não é muito poético, mas diria que eram da cor daquelas espigas de milho verde, quase brancas.
Olhou para mim como se me conhecesse. Estava sentada em um banco no Bosque do Papa. Sozinha. Perto dos brinquedos, ao lado das barras onde alguns jovens se alongavam. 
Eu estava começando minha caminhada. Mas, aquela visão me incomodou. Ao me olhar, sorrira de forma estranha, como se estivesse espantada em me ver. Suas pernas balançavam entre o assento e o gramado.
Comecei a caminhar no sentido anti-horário. Sempre faço isto. Me iludo fingindo que, a cada volta, no sentido antihorário, retorno um pouco no tempo. Assim, brinco de ficar mais jovem.
Ao término da primeira volta, a menina ainda estava lá. Me pareceu menor. Mas, não dei importância. Na segunda e terceira voltas, ela saíra do banco. Brincava no escorregador. Mas, na quarta volta, a vi tentando subir no banco. Estava bem menor, como se tivesse seis anos de idade. Não conseguia subir.
Será que eu estava fazendo o tempo voltar para trás? Olhei ao meu redor, havia um grupo de crianças brincando na gangorra e nos balanços. Pareciam-se com os jovens que se alongavam quando comecei minha caminhada.
Como um maluco, corri quatro voltas no sentido horário. Queria reverter o que havia feito com aqueles jovens e a menina de olhos azuis.
Acordei em uma cama de hospital. Tive a nítida impressão de ver no teto, rapidamente, a menina com olhos azuis claros e cabelos quase brancos. Tinha um sorriso maroto nos lábios. Fechei os olhos e tentei dormir mais um pouco. Ninguém me vira acordar. Quem sabe eu sonhasse com uma história menos inacreditável quando tivesse que relatar o que aconteceu comigo no Bosque do Papa. Quem é que acreditaria no que me aconteceu?

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