sexta-feira, 6 de maio de 2016

Vida que anda... De ônibus

Ontem eu vi uma garota chorando. Não pude fazer nada. Não a conhecia. Ela estava discretamente olhando para a rua. No canto de uma estação tubo. 
Para quem não é de Curitiba, explico. Estação tubo é uma parada de ônibus urbano em que você paga a passagem ao cobrador ou cobradora na entrada. Isso lhe dá o direito de embarcar em qualquer ônibus que passe por ela. O desembarque é sempre em outra estação tubo. Que pode ser o seu destino, ou ponto de conexão com outras linhas. É um sistema de transporte eficaz.
Mas, este não é um texto para comentar o transporte coletivo. Quero falar da vida. Que anda. Nas estações tubo quando não estou fuçando no celular ou escrevendo como faço agora, observo coisas e pessoas. A vida se mostra a quem quiser. Basta levantar os olhos do celular.
Assim, como disse, vi uma guria a chorar. Não a conhecia. Meu instinto paternal quase me levou a perguntar-lhe por que chorava. Mas, não tive coragem. Nestes tempos estranhos que vivemos, o medo de ser mal interpretado leva à solidão e reprime a solidariedade.
De outra vez, vi um casal com um casal de filhos. Jovens. Transmitiam uma felicidade contagiante. Embarcaram em uma estação tubo próxima a um shopping center. Vinham carregados de sacolas. O prazer do consumo recente parecia resplandecer no sorriso daquelas crianças e jovens pais. Não resisti ao contágio. Abri um sorriso.
Outro dia, eu no ônibus, entra uma senhora muito obesa. Sentou-se ao meu lado. Me senti prensado contra a janela. Me encolhi o máximo. Mas, não adiantou muito. Tentei pensar em outros apertos da vida. Aquele era só mais um. Um pouco sufocante. É verdade! Especialmente, para mim que sou meio claustrofóbico. Ainda bem que o aperto durou somente entre o trajeto de duas estações tubo. Menos do que muitos apertos da vida.
Algumas vezes, já cruzei com pregadores. Religiosos, não os de roupa. Apelos aos bolsos, que para muitos usuários já estão esvaziados de suas moedinhas. Um ou outro ainda acha, lá no fundo, um trocado. Faz juz a um "Deus lhe pague". Correspondido por um "amém".
A vida é múltipla nas estações tubo e nos ônibus. Já vi beijo roubado, ouvi discussão no celular, sorriso amarelo, sono fingido de jovens em assentos reservados a idosos e muita conversa fiada.
Sigo observando. Tem coisa que até deus duvida. De vez em quando algo me inspira.

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