quarta-feira, 4 de maio de 2016

Sobre a amizade

Este não é um tema fácil. Ia dizer que é difícil. Mas, também não o é. Apenas não é fácil. Sei que você me entende. O oposto de fácil não é o difícil, é o não fácil.
Hoje à noite assisti Truman. Produção argentino-espanhola, o filme traz Ricardo Darin e Javier Câmara interpretando dois amigos que a vida distanciara apenas geograficamente e que se reencontram em Madrid. 
Em determinado momento, a personagem de Darin, Julian, se dirige ao amigo Thomas, vivido por Javier:
_ Com você aprendi sobre a generosidade. E você, o que aprendeu comigo?
Thomas titubeia na resposta. É uma pergunta difícil.
Esta é a única parte do filme que revelarei nesse texto. Não quero estragar o prazer de ninguém que porventura venha assistir a esse belo filme. Drama com tons de comédia na medida certa. Em outro momento me marejou os olhos.
Mas, o filme, acima de tudo é sobre a amizade. Esta forma de afeto que nem sempre sou capaz de compreender. No entanto, ao longo de meus quase 59 anos, tive a possibilidade de vivenciá-la muitas vezes. O destino tem sido gentil comigo. Assim como é uma amiga ou amigo.
Talvez, a primeira coisa que me ajuda a entender a amizade seja a gentileza. Queremos ser sempre gentis com os amigos. Só que isto não é suficiente para entender a amizade. Somos gentis com qualquer pessoa, não só com aqueles a quem dedicamos a amizade.
A amizade é um bem querer. Um bem querer diferente daquele que sentem os enamorados. Diferente do que há entre pais e filhos. Diferente de qualquer bem querer.
É um bem querer que não exige troco. É um bem querer que se satisfaz só com o estar junto. Um estar junto que pode ser até silencioso. Não necessita de palavras para se manifestar.
A amizade é um conhecer e reconhecer-se no outro. Amigos são tão diferentes, mas algo os une. Acho que é o enxergar no diferente aquilo que nos torna mais humanos. Na amiga ou amigo vemos o que não somos, o que queremos ser e o que não queremos ser. 
Julian viu em Thomas, algo que queria ser. Talvez, jamais conseguisse.
Outro dia, um amigo me perguntou sobre outro amigo de quem me afastei há pouco mais de ano. Parecia um afastamento definitivo. Para toda vida. Me vi sem saber o que dizer. Me dei conta de que o afastamento era absurdo. Em algum momento, nossas diferenças ficaram tão gigantescas que o convívio pareceu impossível. Ledo engano!
Lembrei-me de Niemeyer, próximo dos cem anos, dizendo:
_ A vida é um minuto.
Dias depois mandei uma mensagem para o amigo afastado. Falei da brevidade da vida e da inutilidade de afastamentos definitivos. Ele concordou.
A amizade é uma coisa difícil. Complicada! Mas, é o que nos diferencia do não humano. Assim creio eu. 
Na amizade aprendemos alguma coisa. Mas, se você é minha amiga ou amigo não seja como o Julian. Não me pergunte o que eu aprendi com você. É uma pergunta difícil! Só em filme alguém pode respondê-la. Na vida real, basta sabermos que somos amigos. Esse bem querer inexplicável, mas essencial para a vida. O cronometro vai girando...

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