quarta-feira, 4 de maio de 2016

Amor anônimo

Ela falava ao celular. À minha frente no ônibus de Londrina para Curitiba. De novo, um parador. Ela subiu em Imbaú. Do outro lado, em Curitiba, um tal de Cleber.
_ Cleber, eu trouxe cinco frangos, disse ela. Um pra ela, um pra você. Os outros a gente come junto.
Eu ouvia só um lado da conversa. Ele deve ter perguntado quanto custou.
_ Cento e quinze. Vinte e três cada um. Imagina, eu dou um pra ela, um pra você e os outros a gente come junto.
Cleber deve ter se oferecido para pagar uma parte. Pela resposta, ela não deve ter aceitado.
De frango a conversa saltou para romance. Foi o que eu deduzi.
_ Ele me tratou muito bem. Mas, é homem do interior. Não quer saber da capital.
E continuou:
_ É um homem de bem. Só vi bondade nele. Faz comércio de bois. Fazia tudo pra me agradar.
Na serra, a ligação foi interrompida. Novo toque de celular. Era o Cleber de novo. Queria saber mais.
_ Pois é. Me pareceu um homem bom. Me levou até a rodoviária. Esperou até eu embarcar. Alguém ligou pra ele falando de cinco bois.
Cleber deve ter insistido na vinda dele. Ela falou:
_ É homem do interior. Diz que vem me visitar. Mas, quer que eu vá para lá. Não se afasta de lá. Tem que cuidar do gado.
Pelo rumo da conversa, ela e Cleber devem ser colegas de trabalho. Ela comentou:
_ Pego no serviço depois de amanhã.
A situação não deve estar boa na empresa. Depois de um tempo ouvindo Cleber, ela respondeu:
_ Se me mandarem embora já tenho rumo. De vez em quando trago uns frangos pra você. Ele me pareceu um homem bom.
E assim caminha a humanidade. Não sei o nome dela, nem dele. Mas, pelo andar da crise, acho que o romance vai dar certo. Cleber é que vai se dar bem. De vez em quando vai comer um franguinho caipira.

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