Cícero veio das Alagoas. Em São Paulo, na saída do hotel, nos pediu uma moeda. Qualquer valor lhe ajudaria na busca da refeição do dia. Seria a primeira. Talvez, a única. Não tinha nada a lhe oferecer. Nesta vida contemporânea, o dinheiro em forma de metal ou cédula é raro em minha carteira. Por acaso, minha companheira encontrou um trocado em sua bolsa. Cícero agradeceu dizendo do valor da ajuda que recebera. Lhe desejei boa sorte. De novo agradeceu e se disse de Alagoas. E emendou, melhor que a sorte, é poder estar vivo. Viver é melhor que morrer. Se despediu. Logo depois, caiu a chuva.
Chuva de verão
na manhã dominical -
Vida severina.
Contos e crônicas que vão surgindo no tempo. Na balança da vida, para o quase insuportável peso das impossibilidades, ofereço a insustentável leveza das possibilidades (Fernando Antonio Prado Gimenez)
domingo, 15 de dezembro de 2024
quarta-feira, 4 de dezembro de 2024
A plateia invisível
Tem coisas de que até deus duvida! É o que dizem. E há os que até dá divindade duvidam. Me incluo nesse grupo. A vida é cheia de surpresas. Porém, nada que as probabilidades não expliquem. Não está entendendo nada? Vem comigo!
Saí de casa decidido a ser parte da plateia de mais um filme brasileiro. Em plena quarta-feira, sozinho em casa. Melhor dizendo, na companhia de Kennedy, que já foi Lorde Kennedy. Na ficção. Mas esta é outra história!
Por volta das 16:20, já tinha participado de duas reuniões à distância. Já era hora de desligar o computador. Consulto a programação do Cine Passeio. Às 17:30, uma sessão de um filme brasileiro que quero ver.
Por que não? Pensei comigo mesmo. Mas tive que ser rápido.
Saí de casa decidido a ser parte da plateia de mais um filme brasileiro. Em plena quarta-feira, sozinho em casa. Melhor dizendo, na companhia de Kennedy, que já foi Lorde Kennedy. Na ficção. Mas esta é outra história!
Por volta das 16:20, já tinha participado de duas reuniões à distância. Já era hora de desligar o computador. Consulto a programação do Cine Passeio. Às 17:30, uma sessão de um filme brasileiro que quero ver.
Por que não? Pensei comigo mesmo. Mas tive que ser rápido.
Desci com Kennedy para o giro vespertino em atenção às necessidades fisiológicas dele. Em 15 minutos, várias mijadas e duas defecadas. Melhor prevenir, que remediar. Seria chato chegar em casa, e encontrar a sala suja. Velhinho, Kennedy já não se segura mais como antigamente. Adestrado, não se aliviava dentro do apartamento. Porém, nos últimos meses, já não se segura mais. Depois de atendido o chamado da natureza, voltamos ao apartamento.
Às 16:45, desço sozinho. Entre um uber e o ônibus, opto pelo segundo. Caminho até o tubo. 45 minutos antes do início da sessão. Dei sorte! Assim, que entro na estação se aproxima um ônibus. Em sete minutos, desço quatro tubos à frente. Caminho em direção à Rua Riachuelo, onde fica o Cine Passeio. Cerca de um quilômetro e meio.
Em frente ao quiosque para comprar o ingresso, vejo que são 17:15. E, sem quê nem porquê, escolho outro filme: A contadora de filmes. A sessão começaria em cinco minutos.
Atraído pelo título, e lembrando de um livro que ganhei anos atrás - The film explainer -, decidi deixar o filme brasileiro para outro dia. Quem sabe amanhã? Não me arrependi da escolha. Entrei na sala pensando se o livro é o filme teriam algo em comum. Não têm.
O filme é multifacetado. É, antes de tudo, uma declaração de amor ao cinema. Um drama também! Um grito de esperança? Talvez. Se passa no Chile, no deserto do Atacama, entre os anos 60 e 70. Até o golpe que tirou Allende da presidência.
A personagem central é a caçula de um casal que teve três filhos antes dela. O pai, a mãe, os irmãos e ela iam ao cinema aos domingos. Devido a um acidente, este costume familiar não pode mais ocorrer. A razão? Não vou estragar a surpresa de quem estiver lendo essa crônica. Veja o filme. É maravilhoso. Mas, eles se arranjam. Se fossem brasileiros, diríamos que deram um jeitinho.
Há, porém, uma cena inesquecível. A certa altura do filme, ouvindo a filha, o pai diz que quer lhe contar uma cena. De uma bailarina no deserto. Sózinha. Ao terminar sua dança faz uma reverência. A uma plateia invisível! Ela não se sabia observada. Por apenas um homem, que o acaso o levara a trilhar aquele caminho nunca antes trilhado. Coisa mais linda! Impossível esquecer. Mesmo porque uma lágrima escorreu por minha face neste momento.
Além da marca da cena, da marca da lágrima, carrego comigo a expressão: plateia invisível. Nessa vida, nós que escrevemos, estamos em busca dessa plateia invisível. Você está me lendo. Em algum lugar desse planeta. Talvez me conheça. Talvez não. Como aquela bailarina que o pai contou para a filha, lhe faço aqui minha reverência. Em um bar, cheio de gente. Que vê um homem de cabelos e barbas brancas escrevendo no celular. Apesar de próximos, não são a plateia. Visíveis, mas não plateia. Você sim, faz parte da plateia invisível.
Às 16:45, desço sozinho. Entre um uber e o ônibus, opto pelo segundo. Caminho até o tubo. 45 minutos antes do início da sessão. Dei sorte! Assim, que entro na estação se aproxima um ônibus. Em sete minutos, desço quatro tubos à frente. Caminho em direção à Rua Riachuelo, onde fica o Cine Passeio. Cerca de um quilômetro e meio.
Em frente ao quiosque para comprar o ingresso, vejo que são 17:15. E, sem quê nem porquê, escolho outro filme: A contadora de filmes. A sessão começaria em cinco minutos.
Atraído pelo título, e lembrando de um livro que ganhei anos atrás - The film explainer -, decidi deixar o filme brasileiro para outro dia. Quem sabe amanhã? Não me arrependi da escolha. Entrei na sala pensando se o livro é o filme teriam algo em comum. Não têm.
O filme é multifacetado. É, antes de tudo, uma declaração de amor ao cinema. Um drama também! Um grito de esperança? Talvez. Se passa no Chile, no deserto do Atacama, entre os anos 60 e 70. Até o golpe que tirou Allende da presidência.
A personagem central é a caçula de um casal que teve três filhos antes dela. O pai, a mãe, os irmãos e ela iam ao cinema aos domingos. Devido a um acidente, este costume familiar não pode mais ocorrer. A razão? Não vou estragar a surpresa de quem estiver lendo essa crônica. Veja o filme. É maravilhoso. Mas, eles se arranjam. Se fossem brasileiros, diríamos que deram um jeitinho.
Há, porém, uma cena inesquecível. A certa altura do filme, ouvindo a filha, o pai diz que quer lhe contar uma cena. De uma bailarina no deserto. Sózinha. Ao terminar sua dança faz uma reverência. A uma plateia invisível! Ela não se sabia observada. Por apenas um homem, que o acaso o levara a trilhar aquele caminho nunca antes trilhado. Coisa mais linda! Impossível esquecer. Mesmo porque uma lágrima escorreu por minha face neste momento.
Além da marca da cena, da marca da lágrima, carrego comigo a expressão: plateia invisível. Nessa vida, nós que escrevemos, estamos em busca dessa plateia invisível. Você está me lendo. Em algum lugar desse planeta. Talvez me conheça. Talvez não. Como aquela bailarina que o pai contou para a filha, lhe faço aqui minha reverência. Em um bar, cheio de gente. Que vê um homem de cabelos e barbas brancas escrevendo no celular. Apesar de próximos, não são a plateia. Visíveis, mas não plateia. Você sim, faz parte da plateia invisível.
domingo, 24 de novembro de 2024
Amizade demais não presta
No ônibus, elas se sentaram à minha frente. Aguardávamos no terminal do Cabral, no ponto da linha Cabral-Portão. Quando o ônibus chegou, entramos por portas diferentes. Mas, coincidiu de sentarmos próximos. Como disse, elas na minha frente. Eu sozinho. Meio da tarde. Não era hora de pico.
Para mim, foi impossível não ouví-las. Me pareceu serem colegas de trabalho. Além de vizinhas. Parte da conversa foi sobre os vizinhos comuns. E sobre o trabalho. Estavam voltando do término do turno delas. E falaram também sobre o pastor da congregação que frequentavam.
De repente, a conversa desviou para a vida dos filhos. Uma delas disse que a filha mais nova e um dos filhos ainda moram com ela. A outra disse saber. Afinal são vizinhas. Sobre a filha, a primeira reclamou da falta de colaboração em casa. Não faz nada para a mãe. E arrematou:
_ Já avisei que não sou eterna. Qualquer dia bato as botas. E quero ver como ela vai fazer.
A outra concordou. E perguntou do filho.
_ Ah! Este é outro traste. Agora deu pra trazer os amigos pra casa.
E continuou:
_ Mas, já estou cortando as asinhas. Outro dia falei pra ele. Amizade demais não presta.
A outra concordou novamente. Eu, por outro lado, me lembrei das redes sociais. E a quantidade de amizades que as pessoas dizem ter. Preciso rever minhas amizades nas redes sociais, pensei comigo mesmo. Amizade demais não presta!
A conversa estava me prendendo a atenção. O ônibus parou em um ponto. Subiu uma vizinha de meu prédio. Conhecida apenas. Já trocamos algumas palavras no elevador. Na padaria vizinha ao prédio. Na portaria. Viu que eu estava sozinho e perguntou se podia sentar a meu lado. É claro que sim, respondi. E ela completou:
_ Assim vamos conversando.
Ela sentou-se. E não parou de falar até o ponto em frente ao nosso prédio, onde descemos. As duas mulheres continuaram a viagem. E eu perdi o resto da conversa. Logo quando elas iam faltar alguma coisa do pastor e da vizinha delas que mora no final da rua. Eu até continuaria no ônibus para ouvir, mas a vizinha me avisou:
_ Está chegando o nosso ponto.
E eu, pensei comigo mesmo:
_ Não é só amizade demais que não presta. Conhecidos demais também!
Concorda comigo?
terça-feira, 12 de novembro de 2024
O casal no Jardim Botânico
Manhã de primavera nublada. Quase ao término de minha caminhada diária, vejo um casal entrando no Jardim Botânico. Entram por um portão pequeno, aos fundos, próximo ao estacionamento perto da rodovia que passa ao lado. Foi por onde entrei também no início da caminhada.
Antes desse casal, vi outros seres. Ao entrar, um cachorro de rua também tentava entrar. Quis seguir um caminhante à minha frente. O portão foi mais rápido e fechou-se antes do cão chegar até ele. Ao se afastar, o animal ouviu o barulho do portão fechando outra vez, após minha entrada. Virou-se em minha direção, com um olhar que me pareceu de decepção. Será que os animais têm essa sensação?
Mais à frente, um grasnar chama a minha atenção. Olho para cima, à minha esquerda, e vejo o que me parece ser um jacú. Solitário, pousou nos galhos secos de uma árvore ao centro da mata ladeada por cerca de arame. Tempos atrás, me contou um companheiro de caminhadas, antigamente, a mata era aberta. Se podia caminhar por ela. Porém, além das caminhadas, a mata era local de encontros sexuais quase ocultos. A mata nem sempre era densa o suficiente. Ou, talvez, o desejo premente impedia a busca de um canto mais protegido dos olhares dos passantes.
Ah, o desejo! Um dia, algum burocrata entendeu que a mata deveria ser cercada para impedir estes encontros. Nela agora, somente a movimentação dos animais que nela habitam e copulam nas épocas de cio. Já vi cotias, preás, ratos e lagartos. Não exatamente no cio!
No meio da caminhads, na beira de um do lagos, vi um bem-te-vi ciscando. Em sua frente, dentro d'água, uma tartaruga emerge para respirar. Um não nota a presença do outro. Porém, nasce um haicai:
Antes desse casal, vi outros seres. Ao entrar, um cachorro de rua também tentava entrar. Quis seguir um caminhante à minha frente. O portão foi mais rápido e fechou-se antes do cão chegar até ele. Ao se afastar, o animal ouviu o barulho do portão fechando outra vez, após minha entrada. Virou-se em minha direção, com um olhar que me pareceu de decepção. Será que os animais têm essa sensação?
Mais à frente, um grasnar chama a minha atenção. Olho para cima, à minha esquerda, e vejo o que me parece ser um jacú. Solitário, pousou nos galhos secos de uma árvore ao centro da mata ladeada por cerca de arame. Tempos atrás, me contou um companheiro de caminhadas, antigamente, a mata era aberta. Se podia caminhar por ela. Porém, além das caminhadas, a mata era local de encontros sexuais quase ocultos. A mata nem sempre era densa o suficiente. Ou, talvez, o desejo premente impedia a busca de um canto mais protegido dos olhares dos passantes.
Ah, o desejo! Um dia, algum burocrata entendeu que a mata deveria ser cercada para impedir estes encontros. Nela agora, somente a movimentação dos animais que nela habitam e copulam nas épocas de cio. Já vi cotias, preás, ratos e lagartos. Não exatamente no cio!
No meio da caminhads, na beira de um do lagos, vi um bem-te-vi ciscando. Em sua frente, dentro d'água, uma tartaruga emerge para respirar. Um não nota a presença do outro. Porém, nasce um haicai:
Céu de primavera -
Tartaruga e bem-te-vi
ficam na paisagem.
Outros sinais de primavera surgem no meu caminho. Uma família de quero-queros caminha próximo à rampa das hortênsias. Me afasto um pouco do casal e duas crias. Podem ser agressivos ao sinal de qualquer movimento que lhes pareça ameaçador. Por que arriscar?
Tartaruga e bem-te-vi
ficam na paisagem.
Outros sinais de primavera surgem no meu caminho. Uma família de quero-queros caminha próximo à rampa das hortênsias. Me afasto um pouco do casal e duas crias. Podem ser agressivos ao sinal de qualquer movimento que lhes pareça ameaçador. Por que arriscar?
As hortênsias colorem o meu caminho que já se aproxima do final. Múltiplas cores pálidas sem a presença da luz solar. Ainda sim, belas! Me lembram as curvas da Estrada da Graciosa, que nessa época também são coloridas pelas hortênsias.
Mais 150 metros de caminhada, chego ao portão onde começara. Percebo o casal entrando. Jovens, um homem e uma mulher. Ouço o barulho do portão se fechar mais uma vez. Nenhum sinal do cachorro! Deve ter desistido ou conseguiu entrar com alguém mais distraído. Impossível saber.
Além do barulho do portão, vejo que o casal está indeciso sobre o caminho a seguir. Em frente ou à direita. A mulher decide ir em frente. O homem a alerta:
_ Por aí todo mundo vai nos ver!
Ela não dá ouvidos e continua em frente. Ele acelera o passo para alcançá-la. E eu? Fico imaginando por que ele tem medo de que todos os vejam? Não tenho a resposta. Se fosse em outros tempos, com a mata aberta, talvez eu tivesse uma resposta. Mas, agora não!
Maldito butocrata que mandou cercar a mata!
Mais 150 metros de caminhada, chego ao portão onde começara. Percebo o casal entrando. Jovens, um homem e uma mulher. Ouço o barulho do portão se fechar mais uma vez. Nenhum sinal do cachorro! Deve ter desistido ou conseguiu entrar com alguém mais distraído. Impossível saber.
Além do barulho do portão, vejo que o casal está indeciso sobre o caminho a seguir. Em frente ou à direita. A mulher decide ir em frente. O homem a alerta:
_ Por aí todo mundo vai nos ver!
Ela não dá ouvidos e continua em frente. Ele acelera o passo para alcançá-la. E eu? Fico imaginando por que ele tem medo de que todos os vejam? Não tenho a resposta. Se fosse em outros tempos, com a mata aberta, talvez eu tivesse uma resposta. Mas, agora não!
Maldito butocrata que mandou cercar a mata!
domingo, 28 de julho de 2024
Quanto vale essa vida?
Acordei cedo ontem para ir a um laboratório coletar amostra de sangue para uns exames. Nessa época, geralmente, faço a ronda dos médicos para o acompanhamento anual da saúde. Por enquanto tudo bem com os exames. Dessa vez, os exames foram solicitados pelo urologista. Acompanhamento periódico do índice de PSA e dos eventuais cálculos. Não matemáticos. As famosas pedras nos rins que são presenças frequentes em minha vida desde os 20 anos. Sou uma pedreira!
Um pouco preguiçoso, ao invés de caminhar, escolhi ir de ônibus. Pouco mais de 1.500 metros, porém com o céu um pouco nublado, preferi não correr o risco de ser surpreendido por chuva no caminho.Quase em frente à delegacia de furtos e roubos, lá estava eu no ponto de ônibus.
Um aplicativo me informou que o ônibus deveria chegar à minha parada, por volta das sete e dez. Cerca de 15 minutos de espera. Cheguei a pensar em caminhar. A estimativa do mesmo aplicativo me dizia 20 minutos de caminhada. No entanto, sem pressa de sentir a agulha na veia, e com a preguiça mais intensa, fiquei aguardando o ônibus.
Poucos minutos depois, um homem se junta à espera pelo coletivo. Logo depois que chegou, me perguntou se poderia usar meu cartão para pagar a passagem dele. Ele me faria um pix com o valor. Na maioria dos ônibus em Curitiba, já não se pode pagar a passagem com dinheiro. Apenas nas estações tubo, o chamado vil metal é aceito. Lamentei não poder ajudá-lo. Desde os 65 anos, sou isento da tarifa de transporte coletivo na capital paranaense. No entanto, só posso usar o cartão uma vez no mesmo ônibus. Para usar por uma segunda vez, é necessário esperar por 15 minutos.
Não demorou muito, chegou outro companheiro de espera pelo ônibus. Já se conheciam. Quase que de forma automática, o recém chegado falou. Passa só cinco reais. Outro dia você passou 1 real a mais. Depois de alguns segundos, esse confirmou. Já recebi irmão. Tranquilo.
Pela conversa dos dois, deduzi que eram dois porteiros de prédios na vizinhança. Falaram da tranquilidade do turno noturno de trabalho. Um pouco depois, o primeiro comentou sobre um convite para fazer uns bicos como segurança de transportadora. Cem reais o turno de trabalho de oito horas. Achou pouco para arriscar a vida em um trabalho que não teria nem arma nem colete à prova de balas. O outro concordou. Se fosse pelo menos 300 reais, o primeiro comentou. Pois é, disse o segundo, o foda é que tem caras que aceitam! Nesse momento, me ocorreu uma dúvida. Quase filosófica. Quanto vale uma vida no mercado? Depende do aperto de cada um? Não sei responder.
Logo depois chegou um terceiro homem. Também conhecido dos outros dois. Com ar de cansado. Os dois primeiros comentaram sobre o ar cansado do último a chegar. Este brincou. Noite agitada no prédio! Falta de respeito com gente de idade. Não consegui dormir nada no serviço esta noite! Eles riram. Eu também.
O ônibus chegou. Me fizeram a gentileza de permitir que entrasse primeiro. Respeito com os mais velhos! Um deles passou o cartão duas vezes na catraca. Tudo correu bem.
Logo na parada seguinte, em frente a um hospital, um grande número de passageiros entrou no ônibus. Moças e moços com alguma peça da vestimenta branca. Trabalhadoras e trabalhadores da saúde deixando o turno da noite. Ruidosos e felizes. Talvez por estarem indo para casa após um plantão noturno. Mais uma noite de trabalho vencida. Também com algum risco de vida. Um descuido e, pronto, alguma doença infecciosa pode ser adquirida. Muitas e muitos perderam a vida nos tempos pandêmicos não muito distantes. A mesma pergunta volta à minha mente. Quanto vale uma vida?
Além dessa dúvida comum na vida dessas trabalhadoras e trabalhadores, outra semelhança entres esses homens e mulheres me surge na mente. Apesar do cansaço de uma noite de trabalho, o bom humor se preserva entre todos. Enfim, a hora de ir pra casa. Encontrar os que lhe esperam em suas casas. Que lhe darão algum conforto, alguma alegria e, talvez, algum prazer. Antes do sono diurno que lhes reporá as energias para o próximo turno de trabalho. E segue a rotina da vida. Quanto vale essa vida? Não sei responder! Você pode?
Um pouco preguiçoso, ao invés de caminhar, escolhi ir de ônibus. Pouco mais de 1.500 metros, porém com o céu um pouco nublado, preferi não correr o risco de ser surpreendido por chuva no caminho.Quase em frente à delegacia de furtos e roubos, lá estava eu no ponto de ônibus.
Um aplicativo me informou que o ônibus deveria chegar à minha parada, por volta das sete e dez. Cerca de 15 minutos de espera. Cheguei a pensar em caminhar. A estimativa do mesmo aplicativo me dizia 20 minutos de caminhada. No entanto, sem pressa de sentir a agulha na veia, e com a preguiça mais intensa, fiquei aguardando o ônibus.
Poucos minutos depois, um homem se junta à espera pelo coletivo. Logo depois que chegou, me perguntou se poderia usar meu cartão para pagar a passagem dele. Ele me faria um pix com o valor. Na maioria dos ônibus em Curitiba, já não se pode pagar a passagem com dinheiro. Apenas nas estações tubo, o chamado vil metal é aceito. Lamentei não poder ajudá-lo. Desde os 65 anos, sou isento da tarifa de transporte coletivo na capital paranaense. No entanto, só posso usar o cartão uma vez no mesmo ônibus. Para usar por uma segunda vez, é necessário esperar por 15 minutos.
Não demorou muito, chegou outro companheiro de espera pelo ônibus. Já se conheciam. Quase que de forma automática, o recém chegado falou. Passa só cinco reais. Outro dia você passou 1 real a mais. Depois de alguns segundos, esse confirmou. Já recebi irmão. Tranquilo.
Pela conversa dos dois, deduzi que eram dois porteiros de prédios na vizinhança. Falaram da tranquilidade do turno noturno de trabalho. Um pouco depois, o primeiro comentou sobre um convite para fazer uns bicos como segurança de transportadora. Cem reais o turno de trabalho de oito horas. Achou pouco para arriscar a vida em um trabalho que não teria nem arma nem colete à prova de balas. O outro concordou. Se fosse pelo menos 300 reais, o primeiro comentou. Pois é, disse o segundo, o foda é que tem caras que aceitam! Nesse momento, me ocorreu uma dúvida. Quase filosófica. Quanto vale uma vida no mercado? Depende do aperto de cada um? Não sei responder.
Logo depois chegou um terceiro homem. Também conhecido dos outros dois. Com ar de cansado. Os dois primeiros comentaram sobre o ar cansado do último a chegar. Este brincou. Noite agitada no prédio! Falta de respeito com gente de idade. Não consegui dormir nada no serviço esta noite! Eles riram. Eu também.
O ônibus chegou. Me fizeram a gentileza de permitir que entrasse primeiro. Respeito com os mais velhos! Um deles passou o cartão duas vezes na catraca. Tudo correu bem.
Logo na parada seguinte, em frente a um hospital, um grande número de passageiros entrou no ônibus. Moças e moços com alguma peça da vestimenta branca. Trabalhadoras e trabalhadores da saúde deixando o turno da noite. Ruidosos e felizes. Talvez por estarem indo para casa após um plantão noturno. Mais uma noite de trabalho vencida. Também com algum risco de vida. Um descuido e, pronto, alguma doença infecciosa pode ser adquirida. Muitas e muitos perderam a vida nos tempos pandêmicos não muito distantes. A mesma pergunta volta à minha mente. Quanto vale uma vida?
Além dessa dúvida comum na vida dessas trabalhadoras e trabalhadores, outra semelhança entres esses homens e mulheres me surge na mente. Apesar do cansaço de uma noite de trabalho, o bom humor se preserva entre todos. Enfim, a hora de ir pra casa. Encontrar os que lhe esperam em suas casas. Que lhe darão algum conforto, alguma alegria e, talvez, algum prazer. Antes do sono diurno que lhes reporá as energias para o próximo turno de trabalho. E segue a rotina da vida. Quanto vale essa vida? Não sei responder! Você pode?
domingo, 30 de junho de 2024
Amores atados (Para sempre?)
Último domingo de junho na fria Curitiba. No décimo-primeiro dia do inverno de 2024, a manhã nasceu com o termômetro a 3 graus. Por volta das nove horas, céu azul e limpo, me decido por uma caminhada matinal. Junto o útil ao agradável. Preciso comprar alguns poucos suprimentos e, a caminho do mercado, busco também os raios de sol para aquecer o corpo.
Na avenida, alguns cartazes afixados em postes atraem meu olhar. Parecem ser recentes. Alguém oferecendo serviços: união de casais e amarração para o amor. Com um detalhe importante: pagamento somente após o resultado! Um telefone de contato. Prefixo da cidade de São Paulo. Algum paulistano expandindo os negócios para a capital paranaense, ou apenas passando uma temporada em terras curitibanas? Impossível responder. Mas, não importa. Já vi, em outros momentos, ofertas semelhantes no centro da cidade. É a primeira vez no bairro em que moro.
Com minha formação nas ciências administrativas, me surgem dúvidas; Como será que funciona esse serviço? Que garantia é essa de resultado? Por quanto tempo se deve esperar? E se depois de um tempo, o amor se desatar? Devolve o dinheiro? E mais, tem como contratar uma garantia expandida, assim como as redes de varejo nos oferecem na compra de eletroeletrônicos?
Porém, me ponho a refletir sobre quem pode querer se valer de serviço? É um serviço pessoal, para quem está com medo de ficar só? Ou, pode ser um serviço para casais já formados, possivelmente em crise, que ao invés da terapia de casal, partem em busca de uma amarração?
E ainda mais. Será cego o nó que surge desse laço? Impossível de desatar. Só se for cortado com alguma faca ou tesoura não cegas. Se o serviço é solicitado apenas por uma das partes dos casais, a outra parte terá consciência da amarração? Ou não? Sofrerá apenas os apertos das amarras, sem saber o que lhe ocorre?
E, por fim, a parte que se vale do serviço ficará feliz com o resultado? Ficará insegura quanto à firmeza da amarração? Como se sentirá sabendo que o outro amarrado pode estar tentando desatar o nó? Ou pior ainda, se bater um arrependimento, tem como desfazer o nó?
Por outro lado, pode ser que a amarração dure apenas uma estação. E, nesse caso, o amarrador, isto é, o prestador de serviço, voltando a pensar na minha lógica administrativa, escolheu a época certa para divulgar os seus serviços. Nada como um amor amarrado para esquentar as frias noites de inverno ao sul do Equador.
Na avenida, alguns cartazes afixados em postes atraem meu olhar. Parecem ser recentes. Alguém oferecendo serviços: união de casais e amarração para o amor. Com um detalhe importante: pagamento somente após o resultado! Um telefone de contato. Prefixo da cidade de São Paulo. Algum paulistano expandindo os negócios para a capital paranaense, ou apenas passando uma temporada em terras curitibanas? Impossível responder. Mas, não importa. Já vi, em outros momentos, ofertas semelhantes no centro da cidade. É a primeira vez no bairro em que moro.
Com minha formação nas ciências administrativas, me surgem dúvidas; Como será que funciona esse serviço? Que garantia é essa de resultado? Por quanto tempo se deve esperar? E se depois de um tempo, o amor se desatar? Devolve o dinheiro? E mais, tem como contratar uma garantia expandida, assim como as redes de varejo nos oferecem na compra de eletroeletrônicos?
Porém, me ponho a refletir sobre quem pode querer se valer de serviço? É um serviço pessoal, para quem está com medo de ficar só? Ou, pode ser um serviço para casais já formados, possivelmente em crise, que ao invés da terapia de casal, partem em busca de uma amarração?
E ainda mais. Será cego o nó que surge desse laço? Impossível de desatar. Só se for cortado com alguma faca ou tesoura não cegas. Se o serviço é solicitado apenas por uma das partes dos casais, a outra parte terá consciência da amarração? Ou não? Sofrerá apenas os apertos das amarras, sem saber o que lhe ocorre?
E, por fim, a parte que se vale do serviço ficará feliz com o resultado? Ficará insegura quanto à firmeza da amarração? Como se sentirá sabendo que o outro amarrado pode estar tentando desatar o nó? Ou pior ainda, se bater um arrependimento, tem como desfazer o nó?
Por outro lado, pode ser que a amarração dure apenas uma estação. E, nesse caso, o amarrador, isto é, o prestador de serviço, voltando a pensar na minha lógica administrativa, escolheu a época certa para divulgar os seus serviços. Nada como um amor amarrado para esquentar as frias noites de inverno ao sul do Equador.
domingo, 12 de maio de 2024
Entre um livro e um bolero, surge uma cena de filme
Ah, as coincidências que acontecem na vida! Durante a leitura de Paixão Simples, de Annie Ernaux, Maris Dolores Pradera canta Perfídia no Deezer. Foi nesse domingo pela manhã.
Ao mesmo tempo que lía, havia colocado a seleção "meu top abril" do aplicativo. Não quero aqui analisar nem o livro nem a música. Embora não me falte a vontade, me falta a competência para esta dupla tarefa. Quero apenas pontuar uma incrível coincidência entre o que lía e ouvia. Antes, porém, conto como conheci a escritora francesa e a cantora espanhola.
Li de Annie Ernaux recentemente, O Jovem, após ter ido à Festa Literária de Paraty em 2022. Fiz a assinatura de um serviço de remessa de livros bimestralmente, e foi um dos primeiros que recebi. E hoje, li o segundo, que comprei três semanas atrás em uma livraria de Curitiba. Dois pequenos livros que causam imenso prazer na leitura.
Maria Dolores Pradera, ao contrário, conheci quase três decadas atrás. Final dos anos 90, me encontrava em Madrid para um congresso científico. Por uma feliz coincidência, mais uma na vida, lá encontrei uma grande amiga, Maria José, que foi professora na UEL, no Departamento de Administração, assim como eu.
Li de Annie Ernaux recentemente, O Jovem, após ter ido à Festa Literária de Paraty em 2022. Fiz a assinatura de um serviço de remessa de livros bimestralmente, e foi um dos primeiros que recebi. E hoje, li o segundo, que comprei três semanas atrás em uma livraria de Curitiba. Dois pequenos livros que causam imenso prazer na leitura.
Maria Dolores Pradera, ao contrário, conheci quase três decadas atrás. Final dos anos 90, me encontrava em Madrid para um congresso científico. Por uma feliz coincidência, mais uma na vida, lá encontrei uma grande amiga, Maria José, que foi professora na UEL, no Departamento de Administração, assim como eu.
Uma tarde, fomos passear por Madrid. Entramos em uma loja de discos. Enquanto Maria José olhava as prateleiras, pedi à atendente um disco de alguém muito popular na Espanha. Ela não titubeou e me mostrou vários CDs de Maria Dolores Pradera. Trouxe um deles comigo para o Brasil.
Desde começo de janeiro desse ano, comecei a estudar espanhol por conta própria. Utilizo o Duolingo, que se tornou quase um vício. Diariamente, ao menos durante 30 minutos pratico a leitura, escrita, audição e fala do espanhol. 133 dias sem exceção até agora.
Certo dia, lembrei-me das canções de Maria Dolores Pradera e a busquei no Deezer. Passei por várias das canções dela e fiquei feliz por ser capaz de compreendê-las melhor agora. O esforço de aprendizagem solitária dando frutos. Daí, não ser nada surpreendente, nem coincidência alguma, que na seleção do Deezer estivesse algumas canções interpretadas por Pradera. Apenas, o algoritmo fazendo o seu devido trabalho!
O momento de coincidência quase mágica na verdade, foi a similaridade de humores e sentimentos entre o que lia e ouvia em alguns momentos dessa manhã. Em Paixão Simples, Ernaux narra a paixão que teve por um homem casado e estrangeiro que viveu um período em Paris. A certa altura do livro, conta sobre a impossibilidade dos encontros apaixonados continuarem ocorrendo, devido ao retorno dele para o seu país no leste europeu. Annie Ernaux começou assim essa narrativa:
"Há seis meses ele foi embora da França e voltou para seu país. Talvez eu nunca mais o encontre. No começo quando acordava às duas da manhã, achava que daría no mesmo viver ou morrer. O corpo inteiro doía."
Enquanto lia esse trecho, ouvi a voz de Pradera que, momentaneamente, me afastou do livro. Cantava, como escrevi no primeiro parágrafo, Perfídia, bolero composto pelo mexicano Alberto Dominguez em 1939. Assim cantava Maria Dolores Pradera enquanto eu lia Annie Ernaux :
"Y tú/Quién sabe por dónde andarás/Quién sabe qué aventuras tendrás/¡Qué lejos estás de mí!" ( E você/Quem sabe por onde andará/Quem sabe que aventuras terá/Quão longe está de mim!).
Enfim, essa coincidência mágica, me leva a sugerir: em uma possível adaptação de Paixão Simples para o cinema, essa cena de dor na solidão tem que ter Maria Dolores Pradera cantando Perfídia. Não há como não ser assim!
Desde começo de janeiro desse ano, comecei a estudar espanhol por conta própria. Utilizo o Duolingo, que se tornou quase um vício. Diariamente, ao menos durante 30 minutos pratico a leitura, escrita, audição e fala do espanhol. 133 dias sem exceção até agora.
Certo dia, lembrei-me das canções de Maria Dolores Pradera e a busquei no Deezer. Passei por várias das canções dela e fiquei feliz por ser capaz de compreendê-las melhor agora. O esforço de aprendizagem solitária dando frutos. Daí, não ser nada surpreendente, nem coincidência alguma, que na seleção do Deezer estivesse algumas canções interpretadas por Pradera. Apenas, o algoritmo fazendo o seu devido trabalho!
O momento de coincidência quase mágica na verdade, foi a similaridade de humores e sentimentos entre o que lia e ouvia em alguns momentos dessa manhã. Em Paixão Simples, Ernaux narra a paixão que teve por um homem casado e estrangeiro que viveu um período em Paris. A certa altura do livro, conta sobre a impossibilidade dos encontros apaixonados continuarem ocorrendo, devido ao retorno dele para o seu país no leste europeu. Annie Ernaux começou assim essa narrativa:
"Há seis meses ele foi embora da França e voltou para seu país. Talvez eu nunca mais o encontre. No começo quando acordava às duas da manhã, achava que daría no mesmo viver ou morrer. O corpo inteiro doía."
Enquanto lia esse trecho, ouvi a voz de Pradera que, momentaneamente, me afastou do livro. Cantava, como escrevi no primeiro parágrafo, Perfídia, bolero composto pelo mexicano Alberto Dominguez em 1939. Assim cantava Maria Dolores Pradera enquanto eu lia Annie Ernaux :
"Y tú/Quién sabe por dónde andarás/Quién sabe qué aventuras tendrás/¡Qué lejos estás de mí!" ( E você/Quem sabe por onde andará/Quem sabe que aventuras terá/Quão longe está de mim!).
Enfim, essa coincidência mágica, me leva a sugerir: em uma possível adaptação de Paixão Simples para o cinema, essa cena de dor na solidão tem que ter Maria Dolores Pradera cantando Perfídia. Não há como não ser assim!
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024
Minha garrafa ao mar
Hoje, ao acordar de manhã, vi uma mensagem de Paloma no WhatsApp. A mensagem era de ontem à noite. Me encaminhava um podcast do Rádio Novelo e me perguntava se tinha o hábito de ouvir essa mídia. Acrescentando:
_ Esse episódio está muito legal e achei que você vai curtir também.
Realmente, raramente ouço podcasts. Somente quando alguém me sugere algum. E Paloma estava certa. Afinal, já conhece o pai há pouco mais de 38 anos. Curti muito o episódio "Garrafas ao Mar" que trata do tema de forma metafórica. Mensagens do passado que encontramos casualmente. Sem saber se a intenção de quem escreveu era que a mensagem fosse lida ou não. Na maioria das vezes, sim. Porém, no caso do podcast que ouvi, as mensagens talvez não tivessem destinatário eventual. Estavam pelo mundo, como marcas de um passado não muito distante. Eram mensagens involuntárias. E foram encontradas por dois arqueólogos acidentais. Ouça o podcast e vai entender porque "arqueólogos acidentais".
_ Esse episódio está muito legal e achei que você vai curtir também.
Realmente, raramente ouço podcasts. Somente quando alguém me sugere algum. E Paloma estava certa. Afinal, já conhece o pai há pouco mais de 38 anos. Curti muito o episódio "Garrafas ao Mar" que trata do tema de forma metafórica. Mensagens do passado que encontramos casualmente. Sem saber se a intenção de quem escreveu era que a mensagem fosse lida ou não. Na maioria das vezes, sim. Porém, no caso do podcast que ouvi, as mensagens talvez não tivessem destinatário eventual. Estavam pelo mundo, como marcas de um passado não muito distante. Eram mensagens involuntárias. E foram encontradas por dois arqueólogos acidentais. Ouça o podcast e vai entender porque "arqueólogos acidentais".
Ouvi o podcast em três momentos. Logo após o café da manhã, enquanto esperava a hora de ir para uma consulta médica. Depois, uma segunda parte, enquanto caminhava para o consultório. Por fim, os últimos 20 minutos durante a caminhada de volta para casa, depois da consulta.
No campo da saúde, tudo tranquilo. Era uma consulta com Dra. Rossana, dermatologista, que me acompanha há mais de 15 anos. Nenhuma surpresa na pele. Somente os perrengues e coceiras que se acentuam no verão. Saí de lá, depois de um puxão de orelha com uma receita na mão. Bem do jeito dela, me alertou a Dra. Rossana:
_ Seu moço, não pode esquecer do protetor solar quando sai de casa. Senão, esta mancha no rosto não vai parar de crescer.
Cheguei em casa com uma interrogação:
_ E aí seu moço, o que você gostaria de escrever para deixar em uma garrafa ao mar?
Me lembrei do verso de uma canção: navegar é preciso, viver não é preciso. Alguém já me disse que, para o poeta, preciso nesse verso significa exato. Eu não gosto dessa interpretação. Para mim, preciso no verso é una forma de se referir a algo que é necessário, que faz falta. Que precisamos! De qualquer forma, para mim, a beleza da poesia está no que ela nos diz, não no que quis a poeta ou o poeta expressar. Mais que viver, necessito navegar. Por mares desconhecidos. E, também, por mares já singrados.
Então, me pus a escrever esta crônica, inspirado no que ouvi. É a minha garrafa que lanço neste mar virtual, com a esperança de que, em tempos futuros, ela seja encontrada por meio dos algoritmos informáticos. Alguém ao digitar a expressão "garrafa ao mar", vai encontrá-la. Será trazida pelas ondas eletrônicas deste vasto oceano internético para alguma praia em formato de tela.
Olá, humano. Sou um professor universitário que chegou aos 67 anos de vida. A soma de meu ano de nascimento com 10. Assim, com a aritmética simples, você já deve ter notado que nasci em 1957. Vivemos tempos esquisitos! Eu nasci no século 20. Quando criança sempre sonhava como seria a vida no século 21. Já vivo há pouco mais de 23 anos no século 21. E a vida é completamente diferente daquilo que eu sonhava nos anos da infância.
Ela é esquisita! Essa é a palavra que resume o que sinto. Por que? Porque nós, humanos, conseguimos criar uma riqueza quase que infinita e não fomos capazes de eliminar com a vida miserável de boa parte daqueles que habitam este planeta. Ainda, nessa criação de tanta riqueza estamos acabando com a possibilidade de vida neste planeta. E, parece que, como previu James Lovelock, Gaia (a Terra) vai dar um jeito de acabar com a humanidade antes que a gente acabe com ela. Será que conseguiremos evitar a ira de Gaia?
Então, se você achou minha garrafa lançada ao mar, em um século muito distante no futuro, espero que tenhamos sobrevivido.Que tenhamos dado cabo da miséria. E apaziguado a ira de Gaia!
No campo da saúde, tudo tranquilo. Era uma consulta com Dra. Rossana, dermatologista, que me acompanha há mais de 15 anos. Nenhuma surpresa na pele. Somente os perrengues e coceiras que se acentuam no verão. Saí de lá, depois de um puxão de orelha com uma receita na mão. Bem do jeito dela, me alertou a Dra. Rossana:
_ Seu moço, não pode esquecer do protetor solar quando sai de casa. Senão, esta mancha no rosto não vai parar de crescer.
Cheguei em casa com uma interrogação:
_ E aí seu moço, o que você gostaria de escrever para deixar em uma garrafa ao mar?
Me lembrei do verso de uma canção: navegar é preciso, viver não é preciso. Alguém já me disse que, para o poeta, preciso nesse verso significa exato. Eu não gosto dessa interpretação. Para mim, preciso no verso é una forma de se referir a algo que é necessário, que faz falta. Que precisamos! De qualquer forma, para mim, a beleza da poesia está no que ela nos diz, não no que quis a poeta ou o poeta expressar. Mais que viver, necessito navegar. Por mares desconhecidos. E, também, por mares já singrados.
Então, me pus a escrever esta crônica, inspirado no que ouvi. É a minha garrafa que lanço neste mar virtual, com a esperança de que, em tempos futuros, ela seja encontrada por meio dos algoritmos informáticos. Alguém ao digitar a expressão "garrafa ao mar", vai encontrá-la. Será trazida pelas ondas eletrônicas deste vasto oceano internético para alguma praia em formato de tela.
Olá, humano. Sou um professor universitário que chegou aos 67 anos de vida. A soma de meu ano de nascimento com 10. Assim, com a aritmética simples, você já deve ter notado que nasci em 1957. Vivemos tempos esquisitos! Eu nasci no século 20. Quando criança sempre sonhava como seria a vida no século 21. Já vivo há pouco mais de 23 anos no século 21. E a vida é completamente diferente daquilo que eu sonhava nos anos da infância.
Ela é esquisita! Essa é a palavra que resume o que sinto. Por que? Porque nós, humanos, conseguimos criar uma riqueza quase que infinita e não fomos capazes de eliminar com a vida miserável de boa parte daqueles que habitam este planeta. Ainda, nessa criação de tanta riqueza estamos acabando com a possibilidade de vida neste planeta. E, parece que, como previu James Lovelock, Gaia (a Terra) vai dar um jeito de acabar com a humanidade antes que a gente acabe com ela. Será que conseguiremos evitar a ira de Gaia?
Então, se você achou minha garrafa lançada ao mar, em um século muito distante no futuro, espero que tenhamos sobrevivido.Que tenhamos dado cabo da miséria. E apaziguado a ira de Gaia!
sábado, 24 de fevereiro de 2024
Quando abandonamos algo, ganhamos outra coisa
A frase que dá título a esta crônica parece um chavão. Ou uma frase de autoajuda. Porém, pode ser que as aparências enganem. Outro chavão? Para mim, a frase trata de algo fundamental na existência humana: a possibilidade ou a impossibilidade da escolha. Do decidir livremente. Mesmo com a possibilidade da escolha por uma compensação implícita na frase, nem sempre a escolha é possível.
A frase surgiu no diálogo entre duas mães na trama do filme "Vidas Passadas" de Celine Song que traz a história de Na Young e Hae Sung. Dois amigos de infância que se separam aos 12 anos, quando os pais de Na decidem emigrar para o Canadá, levando a garota e sua irmã. Hae, filho único, fica com os pais em Seoul. A frase é da mãe de Na ao responder à mãe de Hae sobre a mudança.
Mais à frente, quase ao final do filme, há duas frases de Nora, nome adotado por Na após a imigração, que revelam esta tensão, ainda que sutil, entre a escolha autônoma e a aceitação resignada. Mas isto é para o final da crônica. Por enquanto, vem comigo!
Doze anos mais tarde, Nora está em Nova Iorque e descobre que Hae havia tentado contactá-la por meio de um comentário que fizera em uma página de Facebook de um filme do pai de Nora. Ela lhe manda uma mensagem e o reencontro virtual acontece. Depois de um tempo, há novo afastamento. Doze anos depois, novamente, Nora e Hae se encontram em Nova Iorque onde esta morava com o marido.
O primeiro encontro virtual me lembrou algumas experiências próprias. Entre os meus 18 e 19 anos morei em São José dos Campos, onde estudava engenharia. Entre as muitas coisas que vive nesse período, está a amizade com duas adolescentes. Nos encontravamos duas ou tres vezes por semana e, acabei me atraindo mais por uma delas. O problema é que ela, aparentemente, não tinha o mesmo interesse por mim. A outra, ao contrário, parecia que queria algo mais do que amizade comigo. E assim, ficamos naquele triângulo quase Drummondiano: fulana gosta de sicrano que gosta de beltrana. Desisti do curso em São José dos Campos e mudei-me para Campinas. Depois voltei para Londrina. A vida seguiu e nós tres nunca mais nos encontramos.
Corta para meados dos anos 90. Buscando no Orkut, uma rede da Internet da era pré-feicebuquiana, encontrei a beltrana que ainda morava em São José dos Campos. Ela, já formada, trabalhava como engenheira em uma tradicional multinacional cuja sede brasileira era naquela cidade. Trocamos algumas mensagens e marcamos um encontro no aeroporto de Guarulhos em uma ocasião que estava embarcando para algum congresso fora do Brasil. O reencontro foi legal, mas ficou uma sensação estranha. Ela já não era aquela moça que existia em minha memória. E, com certeza, eu também não era o rapaz presente na memória dela. No reencontro de Na e Hae, algo parecido aconteceu.
A frase surgiu no diálogo entre duas mães na trama do filme "Vidas Passadas" de Celine Song que traz a história de Na Young e Hae Sung. Dois amigos de infância que se separam aos 12 anos, quando os pais de Na decidem emigrar para o Canadá, levando a garota e sua irmã. Hae, filho único, fica com os pais em Seoul. A frase é da mãe de Na ao responder à mãe de Hae sobre a mudança.
Mais à frente, quase ao final do filme, há duas frases de Nora, nome adotado por Na após a imigração, que revelam esta tensão, ainda que sutil, entre a escolha autônoma e a aceitação resignada. Mas isto é para o final da crônica. Por enquanto, vem comigo!
Doze anos mais tarde, Nora está em Nova Iorque e descobre que Hae havia tentado contactá-la por meio de um comentário que fizera em uma página de Facebook de um filme do pai de Nora. Ela lhe manda uma mensagem e o reencontro virtual acontece. Depois de um tempo, há novo afastamento. Doze anos depois, novamente, Nora e Hae se encontram em Nova Iorque onde esta morava com o marido.
O primeiro encontro virtual me lembrou algumas experiências próprias. Entre os meus 18 e 19 anos morei em São José dos Campos, onde estudava engenharia. Entre as muitas coisas que vive nesse período, está a amizade com duas adolescentes. Nos encontravamos duas ou tres vezes por semana e, acabei me atraindo mais por uma delas. O problema é que ela, aparentemente, não tinha o mesmo interesse por mim. A outra, ao contrário, parecia que queria algo mais do que amizade comigo. E assim, ficamos naquele triângulo quase Drummondiano: fulana gosta de sicrano que gosta de beltrana. Desisti do curso em São José dos Campos e mudei-me para Campinas. Depois voltei para Londrina. A vida seguiu e nós tres nunca mais nos encontramos.
Corta para meados dos anos 90. Buscando no Orkut, uma rede da Internet da era pré-feicebuquiana, encontrei a beltrana que ainda morava em São José dos Campos. Ela, já formada, trabalhava como engenheira em uma tradicional multinacional cuja sede brasileira era naquela cidade. Trocamos algumas mensagens e marcamos um encontro no aeroporto de Guarulhos em uma ocasião que estava embarcando para algum congresso fora do Brasil. O reencontro foi legal, mas ficou uma sensação estranha. Ela já não era aquela moça que existia em minha memória. E, com certeza, eu também não era o rapaz presente na memória dela. No reencontro de Na e Hae, algo parecido aconteceu.
Almocamos juntos, depois fui para o embarque. No vôo pensei um pouco sobre o reencontro. Após meu retorno, continuamos trocando mensagens pelo Orkut ainda por um tempo. Depois perdemos, ou abandonamos, o contato.
De outra vez, reencontrei na Internet uma amiga de adolescência que não via há mais de três décadas. A mãe dela e a minha várias vezes insinuaram que poderíamos ser mais que amigos. Nunca aconteceu. Mas, já em tempos feicebuquianos, fiz contato e trocamos algumas mensagens. Descobri uma incompatibilidade ideológica entre nós e rapidamente me afastei do convívio virtual.
Pois é, o filme me trouxe estas lembranças de (des)encontros da vida passada. C'est la vie!
Porém, acabei me afastando do mote da crônica. Retomo o fio da meada: a possibilidade e a impossibilidade da escolha. Sobre isso, o filme me trouxe à memória um momento em sala de aula. Eu atuando como professor, percebi uma aluna de cabeça abaixada sobre os braços. Ela dormia. Condoído com o desconforto dela, sugeri que ela fosse para casa. E lhe assegurei: você não terá faltas e não prejudicará sua nota. Quem me conhece sabe que eu estava sendo muito sincero. No entanto, a resposta dela me deixou pasmo:
_ Professor, eu preciso estar aqui!
Por que ela não pode ir para casa? Por que tinha que ficar ali? São perguntas que nunca tive a resposta. Apenas respeitei a situação dela. Mas certamente não era uma escolha autônoma.
E, como mencionei no terceiro parágrafo desta crônica, ao final do filme, Nora dialogando com o marido, afirma:
_ Eu estou aqui e eu deveria estar aqui.
Aí está a tensão sutil que muitas vezes enfrentamos. É minha escolha ou uma imposição?
De outra vez, reencontrei na Internet uma amiga de adolescência que não via há mais de três décadas. A mãe dela e a minha várias vezes insinuaram que poderíamos ser mais que amigos. Nunca aconteceu. Mas, já em tempos feicebuquianos, fiz contato e trocamos algumas mensagens. Descobri uma incompatibilidade ideológica entre nós e rapidamente me afastei do convívio virtual.
Pois é, o filme me trouxe estas lembranças de (des)encontros da vida passada. C'est la vie!
Porém, acabei me afastando do mote da crônica. Retomo o fio da meada: a possibilidade e a impossibilidade da escolha. Sobre isso, o filme me trouxe à memória um momento em sala de aula. Eu atuando como professor, percebi uma aluna de cabeça abaixada sobre os braços. Ela dormia. Condoído com o desconforto dela, sugeri que ela fosse para casa. E lhe assegurei: você não terá faltas e não prejudicará sua nota. Quem me conhece sabe que eu estava sendo muito sincero. No entanto, a resposta dela me deixou pasmo:
_ Professor, eu preciso estar aqui!
Por que ela não pode ir para casa? Por que tinha que ficar ali? São perguntas que nunca tive a resposta. Apenas respeitei a situação dela. Mas certamente não era uma escolha autônoma.
E, como mencionei no terceiro parágrafo desta crônica, ao final do filme, Nora dialogando com o marido, afirma:
_ Eu estou aqui e eu deveria estar aqui.
Aí está a tensão sutil que muitas vezes enfrentamos. É minha escolha ou uma imposição?
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024
E o garçom dançava no salão!
Era sábado de Carnaval. Depois da viagem de Curitiba a Londrina, descansávamos no hotel. Anoiteceu. Descobri, em busca no Google, que haveria apresentação de MPB em um restaurante nas cercanias. Caminhamos na noite quente de Carnaval.
Lá chegando, o lugar estava quase vazio. Os músicos já tocavam. Duas mesas com casais. Uma com um grupo maior. Conosco eram 12 clientes. Depois de nos sentarmos, aplausos aos músicos que terminavam uma canção. Enquanto eles recomeçavam, eu inspecionava o cardápio. E o garçom dançava no salão!
O cardápio não era muito diversificado. A fome era do tamanho de petiscos. Acompanhados de uma caipirinha. Mas, eram poucas as opções. O jeito seria experimentar o carpaccio da casa. Escolha feita, aguardava a chance de pedir. E o garçom dançava no salão!
Com o término de mais uma música, aplausos novamente. Consegui atrair a atenção do garçom que terminou o rodopio de sua dança olhando em nossa direção. Fiz o pedido. Carpaccio e caipirinha. Pedido entregue na janela da cozinha. E no balcão do bar. Logo vi a caipirinha pronta. Esperava por ela. E o garçom dançava no salão!
Na mesa do grupo maior, mais alguns chegaram. Era aniversário de alguém. Das outras mesas, dois casais pagaram a conta e se foram. Os músicos continuavam a tocar. Música brasileira. De excelente qualidade. Mas, o pedido não chegava. E o garçom dançava no salão!
Após mais uma salva de palmas, o garçom trouxe nosso pedido. Começamos a comer. Na mesa do grupo maior, alguém se levantou. Mais um convidado chegava. Cadeiras foram movimentadas para acomodar o que chegara. E o garçom dançava no salão!
Afinal, era sábado de Carnaval. A casa estava quase vazia. Todos estavam servidos. A música era boa. O que restava ao garçom? Dançar no salão!
Lá chegando, o lugar estava quase vazio. Os músicos já tocavam. Duas mesas com casais. Uma com um grupo maior. Conosco eram 12 clientes. Depois de nos sentarmos, aplausos aos músicos que terminavam uma canção. Enquanto eles recomeçavam, eu inspecionava o cardápio. E o garçom dançava no salão!
O cardápio não era muito diversificado. A fome era do tamanho de petiscos. Acompanhados de uma caipirinha. Mas, eram poucas as opções. O jeito seria experimentar o carpaccio da casa. Escolha feita, aguardava a chance de pedir. E o garçom dançava no salão!
Com o término de mais uma música, aplausos novamente. Consegui atrair a atenção do garçom que terminou o rodopio de sua dança olhando em nossa direção. Fiz o pedido. Carpaccio e caipirinha. Pedido entregue na janela da cozinha. E no balcão do bar. Logo vi a caipirinha pronta. Esperava por ela. E o garçom dançava no salão!
Na mesa do grupo maior, mais alguns chegaram. Era aniversário de alguém. Das outras mesas, dois casais pagaram a conta e se foram. Os músicos continuavam a tocar. Música brasileira. De excelente qualidade. Mas, o pedido não chegava. E o garçom dançava no salão!
Após mais uma salva de palmas, o garçom trouxe nosso pedido. Começamos a comer. Na mesa do grupo maior, alguém se levantou. Mais um convidado chegava. Cadeiras foram movimentadas para acomodar o que chegara. E o garçom dançava no salão!
Afinal, era sábado de Carnaval. A casa estava quase vazia. Todos estavam servidos. A música era boa. O que restava ao garçom? Dançar no salão!
terça-feira, 23 de janeiro de 2024
Um cachorro na sessão de cinema
Em Tiradentes, para participar da Mostra de Cinema de Tiradentes, em sua 27ª edição, me divido entre as diversas atividades: sessões de curtas, sessões de longas, conversas com cineastas, oficina de produção criativa, debates sobre o campo do audiovisual, entre outras.
Algo que me surpreendeu, é que toda a programação é gratuita. Mas esta não foi a única surpresa que tive por aqui.
Na terceira noite da Mostra, consegui assistir ao documentário "Eu também não gozei" de Ana Carolina Marinho dentro da Mostra Aurora. O filme traz um relato corajoso sobre Letícia, que se descobre grávida, e tem um caráter quase épico ao nos narrar como ela enfrentou o período de gravidez e nascimento de seu filho, Pedro, bem como a tentativa de descobrir por teste de DNA qual, entre quatro homens não nomeados e identificados por 1, 2, 3 e 4, seria o pai de Pedro.
Os dois primeiros deram resultado negativo. Os outros dois se recusaram a fazer o teste. Porém, mais que saber o pai de Pedro, me parece que a epopéia de Letícia nos aponta para a difícil, quase impossível, convivência entre homens e mulheres em que se preserve a possibilidade do respeito ao outro. Trata, é claro, também da vivência da maternidade solo em seus momentos felizes ou difíceis. É um filme surpreendente, emocionante e inspirador.
Na mesma sessão, mais uma surpresa. O filme foi exibido no Cine Tenda, um espaço para 600 pessoas, no formato de barracão, muito bem estruturado. A sessão lotada começou com as falas de Ana Carolina e mais quatro mulheres que fizeram parte da equipe do documentário. Entre elas, a própria Letícia. Contudo, além das pessoas, um cachorro se juntou a nós. Um caramelo!
Subia e descia pelo corredor central que separa os dois conjuntos de cadeiras na sala de cinema. Anunciava sua presença com eventuais latidos. Depois de cada salva de palmas. Era como se agradecesse às palmas do público. Depois se aquietou. Mesmo quando os gatos de Letícia surgiam na tela grande, Caramelo não se manifestava! Uma surpreendente presença silenciosa na plateia. Longa vida ao Caramelo e ao cinema brasileiro!
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