domingo, 24 de novembro de 2024

Amizade demais não presta

No ônibus, elas se sentaram à minha frente. Aguardávamos no terminal do Cabral, no ponto da linha Cabral-Portão. Quando o ônibus chegou, entramos por portas diferentes. Mas, coincidiu de sentarmos próximos. Como disse, elas na minha frente. Eu sozinho. Meio da tarde. Não era hora de pico.
Para mim, foi impossível não ouví-las. Me pareceu serem colegas de trabalho. Além de vizinhas. Parte da conversa foi sobre os vizinhos comuns. E sobre o trabalho. Estavam voltando do término do turno delas. E falaram também sobre o pastor da congregação que frequentavam. 
De repente, a conversa desviou para a vida dos filhos. Uma delas disse que a filha mais nova e um dos filhos ainda moram com ela. A outra disse saber. Afinal são vizinhas. Sobre a filha, a primeira reclamou da falta de colaboração em casa. Não faz nada para a mãe. E arrematou:
_ Já avisei que não sou eterna. Qualquer dia bato as botas. E quero ver como ela vai fazer.
A outra concordou. E perguntou do filho.
_ Ah! Este é outro traste. Agora deu pra trazer os amigos pra casa. 
E continuou:
_ Mas, já estou cortando as asinhas. Outro dia falei pra ele. Amizade demais não presta.
A outra concordou novamente. Eu, por outro lado, me lembrei das redes sociais. E a quantidade de amizades que as pessoas dizem ter. Preciso rever minhas amizades nas redes sociais, pensei comigo mesmo. Amizade demais não presta!
A conversa estava me prendendo a atenção. O ônibus parou em um ponto. Subiu uma vizinha de meu prédio. Conhecida apenas. Já trocamos algumas palavras no elevador. Na padaria vizinha ao prédio. Na portaria. Viu que eu estava sozinho e perguntou se podia sentar a meu lado. É claro que sim, respondi. E ela completou:
_ Assim vamos conversando.
Ela sentou-se. E não parou de falar até o ponto em frente ao nosso prédio, onde descemos. As duas mulheres continuaram a viagem. E eu  perdi o resto da conversa. Logo quando elas iam faltar alguma coisa do pastor e da vizinha delas que mora no final da rua. Eu até continuaria no ônibus para ouvir, mas a vizinha me avisou:
_ Está chegando o nosso ponto.
E eu, pensei comigo mesmo:
_ Não é só amizade demais que não presta. Conhecidos demais também!
Concorda comigo?

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