segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Rádio, latim, poesia e namoro na Londrina dos anos 40.

Essa conversa foi a três. Pouco depois de ter constatado sua consciência sobre o esquecimento de fatos recentes, ela disse:
_ Agora vou te contar algo que nunca falei pra ninguém.
_ O que é?
_ O Antonio da rádio Londrina quis me namorar.
Tia Almey, que havia chegado, meia hora antes, comentou:
_ Isso nem eu sabia.
_ Você era muito criança na época. Não lembra de muita coisa.
_ De alguma coisa eu lembro, retrucou minha tia.
A partir daí, ela contou sobre como o Antonio, que apresentava um programa musical na rádio Londrina, todo dia anunciava:
_ Esta música é para a senhorita Kilda Gomes do Prado.
Ela disse que não namoraram. Tia Almey perguntou:
_ Mesmo?
Ela continuou negando. Lembrou dos casais de namorados do tempo do ginásio Londrinense: Paulina e Pedro; Dorotéia e Jair. Escondidos dos pais, que à época eram muito temidos. Tia Almey lembrou de outro casal:
_ Teve a Silvandira e o Milton.
Ela concordou e continuou lembrando. Era o começo da década de 40. Londrina, fundada em 34, ainda na infância. A turma do ginásio Londrinense tinha um programa na rádio Londrina. Os ginasianos faziam discursos, debates, comentários. Alguns declamavam. Paulina e Kilda gostavam de declamar poesias. Ela contou:
_ A gente sentava em frente ao locutor e declamava no microfone. O espaço era pequeno.
Antonio deve ter se encantado com aquela senhorita de 15 ou 16 anos declamando Olavo Bilac e Castro Alves. Ela declamava com alma. Logo começaram as oferendas musicais. Mas, não passou disso. Enfrentar seu Arlindo, dono da pensão, não era tarefa fácil.
Nenhum dos namoros foi em frente. Foram paixões juvenis que fazem parte da vida.
Da rádio Londrina a conversa foi para o professor de Latim, dr. Clímaco, um dos primeiros médicos de Londrina, um negro vindo da Bahia. Foi deputado também. O professor de Latim tinha um carro e ministrava sempre a última aula. Ao final, os rapazes se aboletavam no carro e ele levava cada um em sua casa. Até que um dia as moças deixaram o professor em uma situação difícil. Em coro falaram:
_ Professor, o senhor só leva os rapazes. Nós, as mulheres, mais fragéis, temos que caminhar.
Dr. Clímaco não titubeou. Botou a rapaziada pra fora do carro e levou as moças.
Tia Almey lembrou outra do Dr. Clímaco. Ele sempre dava nota 100 para as moças e nota 90 para os rapazes. Um dia, entregando as provas, tinha uma com 100 para um rapaz. Ele se enganara e não teve dúvidas. Pegou de volta e disse:
_ Tem erro nisso. Sua nota é 90. E corrigiu.
Segundo elas, ninguém reclamava. 90 era uma nota ótima para o Latim.
Foi assim, nessa conversa a três, que eu aprendi um pouco mais da história da família Prado que veio para Londrina em 1940.

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