quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Amor, vou caçar pokemon.

Planejava aquilo há muito tempo. O casamento que começara no paraído chegara ao inferno. Não se entendiam mais. Depois de dez anos, nem o sexo era capaz de sustentar a união. No vigor dos trinta anos, os dois ainda transavam. Muito. Os dois gozavam e viravam pro lado. 
O casamento foi devido à uma gravidez precoce. Não vingou. Seis meses depois, o aborto. Decidiram ficar juntos assim mesmo. Não houve outra gravidez.
Não fumava nem bebia. Não praticava esporte. Era da casa pro trabalho. Do trabalho pra casa. Aos finais de semana, um cineminha. No meio da semana, a ida ao culto. De vez em quando, uma pizza com um casal de amigos. A vida seguia cada vez mais insossa.
Mas, chegou a temporada de caça aos pokemons. Cada um com seu celular. Redescobriram a cidade. Iam a toda parte atrás deles. Sempre juntos. Parecia que algo os unia novamente. Chegou a esquecer do plano.
A última vez foi no Jardim Botânico. Muita gente, além dos eventuais turistas. De repente, tirou os olhos do celular. Alguém fez a mesma coisa. Os olhares se cruzaram. Algo despertou daquela troca de olhares.
No seu dia de folga, sabia que estaria só o dia todo. No café da manhã, avisou:
_ Hoje vou caçar pokemon.
Nunca mais voltou. Perambula pela cidade. Tem a esperança de uma nova troca de olhares. Graças ao pokemon, conseguiu escapar do inferno.
Encontrará outro paraíso? Difícil. Ninguém consegue erguer a cabeça. Elas estão sempre curvadas. Na direção do celular.

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