segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Chuva na rodoviária

Dois pardais fogem da chuva. Farelos no chão, embaixo dos bancos da rodoviária, são um banquete. Duas pombas se juntam ao festim.
As quatro aves não se incomodam com o movimento dos passageiros. Devem ser comensais habituais. É provável que tenha me enganado. Não fogem da chuva. Seu comportamento me sugere que, faça chuva ou faça sol, frequentam esse espaço regularmente. Ao menos, mais frequentemente do que eu. Passo por aqui a cada duas ou três semanas.
A chuva se torna mais forte. Deixo de observar os pássaros. A fauna humana que se junta é mais variada. O número de pessoas vai aumentando. Provavelmente, alguns serão minha companhia no ônibus que parte às dez horas. Idosos, jovens, casais, solteiros, baixos, altos, gordos, magros, grisalhos, morenos e imberbes. Sou o único com barba.
Para uns a viagem deve ser de retorno. Meu caso, que volto para casa. Alguns devem ir para voltar em breve. Hoje ninguém chora. Não deve haver ninguém que se destine a lugares longínquos ou que parta em definitivo.
Poucos passageiros com muitas malas. A maioria deve voltar logo. Mas, são só hipóteses. Sempre pode haver alguém que resolveu deixar tudo para trás. Tem um ali falando sozinho. Ou está acompanhado por alguém que só ele vê.
Nenhuma lágrima. A única água que cai é a chuva. Seu ruído na cobertura é cada vez mais forte. Algumas goteiras surgem. Evidenciam as falhas do telhado. As humanas nem sempre são tão expostas. Principalmente as de caráter. Mas, aqui não é o espaço para falar disso. Hoje, estou operando no modo descritivo apenas.
Uma trabalhadora enxuga as poças que se formam. Acho que vai ter que repetir o gesto muitas vezes hoje. A chuva não dá sinais de querer ir embora. Na rodoviária, assim como o motorista, a chuva não é passageira.
Eu sou. Meu ônibus chegou. Vou deixar a chuva por aqui. Assim espero.

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