A leitura foi apaixonante! Uma trama envolvendo a relação entre pai e filha, em meio a uma crise profissional. Com um final surpreendente, a narrativa me emocionou muito. Há alguns traços de Nelson Rodrigues no romance. Contudo, não imagino que Grumberg o tenha lido. É a vida humana que tem seus modos e trejeitos que, às vezes, me parecem ser universais. Afinal, Leon Tolstoi já comentou sobre isso quando, supostamente afirmou: " Se queres ser universal, comece por pintar sua aldeia".
Depois de nossa chegada à Holanda, tive oportunidade de conhecer um livro de uma escritora holandesa. Fazendo uma busca na Internet, descobri Marieke Lukas Rijneveld, jovem escritora que ganhou o prêmio Booker de literatura em 2020 com seu romance "De avond is ongemak", que em português seria "A noite é desconfortável". Li a tradução inglesa feita por Michelle Hutchinson, sob o título "The discomfort of evening". Marielle atualmente mora em Utrecht. Seu romance tem como protagonista uma menina de dez anos e narra sua vida, junto ao irmão mais velho e à irmã caçula, em meio a uma crise entre os pais devida à morte acidental do primeiro filho. Não sei se já foi traduzido para nossa língua, mas para quem lê em inglês é um romance que recomendo muito. As dores universais da passagem da infância para a adolescência narradas de forma brilhante. E, como se espera de uma escrita envolvente, com um final que se suspeita, porém impossível de imaginar. Só lendo para saber!
Outro dia, enquanto lia o NL Times, jornal online em que me informo sobre as notícias locais, vi uma notícia sobre a concessão do P.C. Hooft Prize para Arnon Grunberg. Este é um prêmio de literatura na Holanda e Grunberg foi contemplado na modalidade de prosa (ficção). A princípio não me lembrei de que já o havia lido. É difícil guardar esses nomes holandeses na memória! Busquei algum livro dele na Amazon e encontrei "Amuse-Bouche", "Amuse-Gueule" em holandês, traduzido por Lisa Friedman e Ron de Klerk, em 2008. É im livro de contos que Arnon Grunberg publicou em 2001. Uma tradução literal seria "Entradas" em uma refeição ou pequenas porções de comida que são preparadas pelas cozinheiras ou cozinheiros como amostra para os comensais.
Como disse, não lembrei que era o mesmo autor de Tirza. Ontem à noite, na cama, li o primeiro conto. Uma narrativa curta deliciosa em que o próprio autor é o protagonista. Em uma das cenas narradas, uma mulher oferece um chá a um convidado. Após serví-lo, antes que ele começasse a tomar o chá, após ter colocado o saquinho de chá no pires ao lado da xícara, ela pegou o saquinho de chá de volta. E comentou que o guardaria na geladeira. Surpreendente, não! Aliás, surpresas ao final da literatura holandesa parecem fazer parte da cultura local.
Eu ri sozinho com esta cena preciosamente narrada pelo autor. Minha mulher já adormecera ao meu lado. Hoje pela manhã, enquanto caminhávamos pelo bairro, lhe contei o que li ontem enquanto ela dormia. Especialmente, sobre a cena dos saquinhos de chá. Ela riu também, pois ambos lembramos da mesma coisa que aconteceu conosco em Amsterdam. Nos deixou boquiabertos.
Volto à ideia de guardar saquinhos usados de chá. Neste caso, porém, este fato talvez não seja surpreendente para quem vive por aqui. Quando estávamos em Amsterdam, hospedados por um brasileiro que vive aqui há mais de 30 anos, certa noite fiz um chá para nós. Depois de pronto,, quando tirava os saquinhos das xícaras, adivinha o que ele me disse?
_ Fernando, você pode guardar os saquinhos para usar novamente.
Eu, obediente que sou, pus os dois saquinhos em um pires no canto da pia. Mas, na manhã do outro dia, joguei no lixo sem reusá-los. Talvez se eu tivesse lido esse conto antes, não tivesse estranhado tanto a sugestão de nosso anfitrião.
Eu, obediente que sou, pus os dois saquinhos em um pires no canto da pia. Mas, na manhã do outro dia, joguei no lixo sem reusá-los. Talvez se eu tivesse lido esse conto antes, não tivesse estranhado tanto a sugestão de nosso anfitrião.
P.S.: continuo jogando os saquinhos de chá no lixo sem reusá-los. Os dois que você vê na fotografia foram as vítimas de ontem
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