No
rádio do carro, ele buscava uma nova estação. Já estava muito distante do ponto
de partida. O sinal da estação anterior já estava muito fraco. Irregular e
cheio de ruídos. A única que sintonizou com clareza tocava música sertaneja.
Apesar da rima – clareza sertaneja – não era seu tipo de música. Lembrou-se do
pendrive que uma amiga lhe dera. Ela sabia de seu gosto. Devia ter músicas que
lhe agradavam. Sinalizou, saiu para o acostamento, parou o carro e foi procurar
o pendrive no porta-luvas. Encontrou. Deu um suspiro.
Quando
estava colocando no rádio, ela apareceu. De repente. Bateu com a mão na janela
do passageiro. Ele se assustou. Ela sorriu. Ele abaixou o vidro. Ela se
desculpou:
_
Moço, não queria te assustar.
_
Não tem problemas. Eu estava distraído. Não lhe vi se aproximando.
_
Saí daquele mato agora. Estava apertada.
Ela
pediu carona. Ele perguntou pra onde ela ia. A próxima cidade foi a resposta.
_
Fica uns 90 quilômetros daqui. Disse ela.
E
continuou:
_
Pra onde o moço tá indo?
_
Tô sem destino. Qualquer rumo tá bom. Sobe aí.
Quando
ela se sentou ao lado dele, mais um susto. Ela usava um shortinho minúsculo. A
pele era branca, quase como leite. Lisinha. Nenhuma marca de pelo. O rosto
estava na sombra quando se falaram. Era branco também. Usava uma camisa
vermelha, Masculina. Com botões entreabertos logo acima dos seios. O short era
de jeans. Velho. Desbotado. Nos pés, sandália rasteirinha. Tiras de couro
enroladas até pouco acima dos tornozelos. Parecia uma miragem. Imediatamente,
ele sentiu o pau intumescer. Fazia tempo que não transava. Estranhou. Na idade
dele, isso já não acontecia com frequência. Quase 70 anos. Mas, gostou.
Sentiu-se mais vivo Parece que ela notou o volume na calça dele. Desviou o
olhar. Mas, não corou.
Deu
partida no carro. Sinalizou, avançou e retomou o asfalto. Passava um caminhão.
Ele não viu. O motorista buzinou forte. Conseguiu desviar do carro. Gritou:
_
Barbeiro filho de uma puta!
Ele,
instintivamente voltou para o acostamento. Parou o carro. Muito assustada, a
moça empalideceu. Ficou ainda mais branca. Como se isso fosse possível. Ele
sentiu o pau amolecer. Ela notou de novo. Dessa vez não desviou o olhar. Pôs a
mão esquerda sobre a coxa dele. Aproximou o rosto. Beijou a boca. A princípio
ele se assustou. De novo. Mas, relaxou. Da boca, ela desceu para o pau.
Depois
que ele gozou, ela baixou a janela do carro. Cuspiu. E disse:
_
Agora vamos. Você estava precisando disso. Eu também.
_
Vamos disse ele.
Sinalizou,
acelerou o carro, entrou no asfalto. Outro caminhão. Um basculante. O motorista
não conseguiu frear nem desviar. O carro ficou esmagado. Quando os corpos foram
retirados, os bombeiros estranharam o sorriso no rosto dos dois. Um comentou
com o outro:
_
Parece que estavam felizes!
O
outro confirmou:
_
É. Deve ser bom morrer feliz!
No
rádio, que, estranhamente, não desligara, uma música do Chico. Tua cantiga.
Quando te der saudade
de mim
Quando tua garganta apertar
Bastar dar um suspiro
Que eu vou ligeiro te
consolar...
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