sábado, 10 de setembro de 2016

Três frases ouvidas em ônibus

Me sinto cronista do transporte coletivo. A proximidade com o outro, embora apenas física, estimula minha audição que, por sua vez, de vez em quando, dispara minha imaginação.
À semelhança de um voyeur, mas sem a conotação sexual, ao menos assim imagino, pode ser que esteja me tornando um ecouteur. Brinco com o verbo ecouter, ouvir, do francês. Escuto e tenho prazer na escuta. Muito diferente do sexo, mas bom também.
Uma frase solta, em um meio de conversa, já me transportou para o mundo da imaginação solta e livre. Foi o que aconteceu quando, indo para o trabalho na universidade, ouvi uma voz feminina exclamar:
_ O problema é o menos infinito!
Dessa frase construí um breve texto que está em alguma parte de minha página do facebook e, também, em meu blog brevestextos.blogspot.com.
Aliás, me delicio com as tecnologias de comunicação de que dispomos. Qualquer um pode se tornar um editor de seus próprios textos nos dias atuais. Publico o que escrevo sempre que quero. Livre e autônomo, assim como é @ eventu@l leit@r que encontrar um de meus blogs. Lê o que quer e quando quer. Experimente você também. Em meus quatro blogs, mais de trinta mil acessos a meus textos já aconteceram. Usufruo meus quinze minutos de fama no mundo virtual.
Voltando ao ônibus. Desde então, adquiri o hábito de tentar ouvir o que se fala nos ônibus. Me tornei um ecouteur. Passei a registrar as frases soltas em meu celular. Pode ser que se transformem em novos textos. Ficam, assim como embriões, incubadas em meu processador de textos esperando o momento de se desenvolverem e ganharem um corpo em forma de escrita.
As três primeiras que anotei foram:
_ Não curto muito meu pai.
_ Já comeu ela?
_ Se você vai descer no próximo eu aceito.
Estranhamente, compartilham o fato de tratarem da relação entre humanos. Distintas relações que revelam fragmentos do que somos.
A primeira soou dolorosa para mim. Uma jovem assim falou para um rapaz. Não curtir muito o pai! Me pareceu triste!
A segunda soou deliciosamente escrachada. Retrato da banalidade das relações? Ou apenas um efeito da dinâmica hormonal de três adolescentes indo de casa para a escola?
Por fim, a última um retrato pouco usual da cordialidade que ainda habita o transporte coletivo. Um passageiro ofereceu seu lugar a uma idosa. Esta recusou. Ele disse que desceria na próxima estação. Nesse caso, ela aceitou.
Assim sigo meus trajetos nos ônibus curitibanos. De ouvidos bem abertos. Um ecouteur! Sempre atento ao que me ensinam frases entreouvidas e que, apenas aparentemente, são desconexas. Ao contrário, todas conectadas nesta jornada humana que não me canso de admirar. E escutar.

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