quarta-feira, 6 de julho de 2016

Vida Surreal

Aos 17 anos, gabava-se com o amigo:
_ Não consigo pegar mina da minha idade. Parecem crianças. Quando eu tinha 12, namorei uma de 17.
_ Ela deve ter te traído. Tenho certeza, comentou o amigo.
Os dois da mesma idade voltavam para casa ou iam para a escola. Impossível dizer com certeza, mas os uniformes escolares sugeriam as alternativas.
Na conversa dos dois, dilemas do homem que parecem independer da idade: amor e sexo, fidelidade e traição.
Muitos homens mais velhos dizem ou desejam fazer o contrário. fogem das mulheres de sua idade. Mas, como já virou piada:
"Correm o tempo todo atrás da Chapeuzinho Vermelho e acabam, por fim, comendo a vovozinha".
As gerações mais novas que a minha parece que tinham resolvido estes dilemas. Vinte anos atrás ouvi uma jovem colega de profissão me explicar o significado de ficar. Eu perto dos 40, ela se avizinhando dos 30. Achei a novidade um pouco estranha, mas promissora. Pensei comigo mesmo, sem externar a ela nada mais que um simples:
_ Interessante!
Não ficamos. Nenhuma atração de ambas as partes. Assim me pareceu, Ou, como conta a fábula da raposa: as uvas estavam verdes.
No entanto, essa ideia de ficar e pegar me impressionou pela possibilidade de resolver os velhos conflitos amorosos de minha geração. Se bem que, os mais cínicos, sempre falaram:
_ Lavou tá novo!
Algum tempo depois, lidando com filhas, sobrinhas e suas amigas no começo da adolescência, lembro de uma delas chorando, aos prantos:
_ O que houve?
- Fulano traiu ela. Uma delas me respondeu.
_ Não sabia que tinha namorado.
_ Não. Eles estavam só ficando. Ele ficou com outra.
Fiz um discurso sobre o significado do ficar e a banalização do amor. Ao fim disse:
_ Se você acredita em ficar, não tem sentido acreditar em traição.
Não resolveu a dor da traição, mas ela parou de chorar.
A conversa dos dois adolescentes me transportou no tempo. Eles são de uma geração ainda mais nova. Parece que ficam e pegam adoidado (uma gíria de minha geração).
Mas ainda falam em traição. Tão surreal quanto "Um cão andaluz" de Buñuel e Dali. Ou até mesmo, conforme disse Viviane Forrester em seu livro "Horror Econômico", referindo-se à expressão "Empresa Cidadã". Nem o mais surreal dos artistas conseguiria criar algo assim.
Interessante!

Nenhum comentário:

Postar um comentário