quarta-feira, 6 de julho de 2016

Desamor Tecnológico

Abraçados, em pé, pareciam apaixonados. Muito jovens, seguiam no mesmo ônibus que eu. Irradiavam uma felicidade incomum. Com um dos braços envolto na cintura dela, ele buscou o celular no bolso direito da calça com a mão esquerda. Com certo esforço e alguma contorsão muscular foi bem sucedido.
Ela quis saber quem era. Mensagem de um amigo respondeu ele. Um pouco corado no rosto, embora quase imperceptível na sua pele mulata. 
Ela percebeu. Talvez tenha sentido o súbito e tênue aumento de temperatura que causara o leve rubor.
Quis ver. Ele relutou, fuçou um pouco mais no celular. Ela esbravejou. Ele cedeu.
Enquanto ela fazia a busca no celular, ele pediu o dela. Se julgou com o mesmo direito.
Lembrei-me de uma amiga que certa vez me disse: quem procura acha.
Ao passar-lhe o celular, ela também enrubesceu. O batom exageradamente vermelho, cor de pitanga madura, não foi suficiente para atenuar a mudança de cor nas bochechas brancas da moça loira.
Formavam um belo casal. Aos poucos o humor foi se transformando em um mal estar. Quase ao mesmo tempo, os dois falaram: é só um(a) amigo(a).
A felicidade se evaporou rapidamente. O braço dele escorregou bruscamente da cintura dela. Viraram o rosto. Quando o sinal "fechando portas" soou, ele saltou fora do ônibus. Ela não conseguiu segui-lo.
Uma lágrima em cada rosto, dela e dele, me encheram de tristeza. Eram um belo casal. De felicidade incomum e efêmera. O ônibus seguiu seu trajeto comum. Indiferente ao desamor que nele brotara.

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