quarta-feira, 6 de julho de 2016

Caleidoscópio: uma boa imagem para a educação?

Nos últimos anos, tenho refletido muito sobre minha ação enquanto educador. Reflexo de muitas coisas, pensar sobre meu agir faz parte de uma inquietação constante, de um desassosego permanente, de uma dúvida persistente, de um questionamento inadiável...
Facetas de minha vida que se configuram em um vir a ser que nunca se finda, mas que assim mesmo, a cada momento compõem uma vontade de ser, ao mesmo tempo, aprendiz e mestre. De dificil síntese, essas facetas se resumem, talvez, à busca do significado que desejo seja mais verdadeiro para mim e, também, mais eficaz para aqueles que temporariamente, seja de forma breve ou mais alongada no tempo, se juntam a mim nessa jornada, os estudantes.
Esse significado se prende, portanto, à ideia de uma experiência de educação que seja um momento transformador da potência de ação não só dos estudantes. Nela devo encontrar instâncias que me aproximem de um sentimento que, nunca completo, é essencial nesse vir a ser que é a vida. O sentimento de autorealização que surge do agir em que fica evidente uma mudança positiva na forma de encarar o mundo, nosso papel e a possibilidade de nele atuar.
Meu agir enquanto educador, assim acredito, tem por princípio uma visão positiva do outro que se junta a mim. Costumo usar uma metáfora cinematográfica que expõe de forma simbólica este princípio: cada e todo estudante é o protagonista de seu enredo de aprendizagem. Eu sou apenas um figurante. Uso essa metáfora reproduzindo algo que aprendi em meus estudos de cinema. O protagonista de um filme, em geral, é aquele que passa pela maior transformação durante o decorrer da fábula fílmica. Assim, cada e todo estudante tem que ser o protagonista de sua história. A mim cabe o papel secundário de figurante, com maior ou menor presença, em cada e todo enredo.
Hoje me veio à mente outra imagem que se ajusta à minha crença na educação como um processo mais emergente que deliberado, no qual o conhecimento assume configurações distintas para os envolvidos em uma experiência de aprendizagem. Me refiro ao caleidoscópio, imagem que já utilizei para me referir ao estudo das configurações organizacionais, perspectiva de análise que adoto em meus estudos.
Essa ideia, para mim, faz sentido. O processo de aprendizagem em que se respeite o estudante como protagonista é um constante olhar pelo caleidoscópio. As experiências de aprendizagem, nos diversos espaços que ocorrem, são como olhar pelo caleidoscópio e enxergar o arranjo que os conceitos multicoloridos configuram conforme cada e todo estudante reflete e pensa sobre o que viu.
Mas, ao contrário do caleidoscópio material, em que não temos controle dos fragmentos multicoloridos que o compõem, no caleidoscópio educacional é o protagonista que escolhe os fragmentos que comporão suas imagens. A mim enquanto figurante resta o papel de auxiliar na busca dos vidrilhos coloridos e na construção de cada e todo caleidoscópio.
Que cada e todo estudante seja o artesão de seu caleidoscópio e que eles sejam sempre diversos e multicoloridos!

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