domingo, 13 de março de 2016

Juliandra

De vez em quando a vida apronta com a gente. Foi em um domingo de manhã. Não queria sair da cama. Chovia forte. De repente o telefone tocou. O fixo. Na sala, ele me chamava. Pensei em não atender. Ele insistia. Por fim me rendi:
_ Alô.
Do outro lado, uma voz feminina desconhecida:
_ É da casa do Messias?
_ Não minha filha. Aqui não tem nenhum Messias.
Preciso perder essa mania de falar minha filha ou meu filho ao telefone. Pensei comigo mesmo. Ela insistiu:
_ Não é do 33445566?
_ Sim. Mas não tem Messias aqui. Tem certeza que é esse o número que você tem que discar, filha?
Filha de novo. Não tem jeito! Se bem que devo ter idade pra ser pai dela. Pela voz deve ser muito jovem. Ela brincou:
_ Eu não disquei, teclei. Seu telefone é de discar?
Caí na gargalhada.
_ Força do hábito, filha. Assim como chamar quem não conheço de filha ou filho.
_ Pena que o Messias não tá aí.
_ Não tem nenhum Messias aqui filha.
_ Eu queria tanto falar com ele.
_ Será que eu posso lhe ajudar? Você parece aflita.
_ Então, eu tô na rodoviária. Cheguei faz duas horas. Como era muito cedo, fiquei esperando pra ligar. Ele me deu o número. Disse que viria me buscar assim que ligasse. Mas, se ele não está aí...
_ Filha, me ouve. Não tem Messias aqui não.
_ Que que eu vou fazer? Sózinha nesse lugar que não conheço.
_ Calma filha. Você já me tirou da cama. Quem é o Messias?
Ela disparou a falar:
_ É um cara que conheci na semana passada. Em São Paulo. Moro lá. A gente se viu na sessão da meia-noite. Era um filme francês. Chato demais. Mas, fiquei esperando acabar. Vi ele entrando. Queria conversar com ele. Saímos. De manhã foi pra rodoviária. Voltou pra cá. Disse que ia ter um festival de terror na cinemateca. Me deu o número. Meu celular estava sem bateria. Acho que anotei errado.
_ Calma. Qual seu nome filha?
_ Juliandra.
_ Nunca vi esse nome!
_ Meu pai gostava muito da Mary Poppins. Quis me chamar de Julie Andrews. No cartório não deixaram. Aí inventou esse nome.
A gente foi conversando. Nem me dei conta quando falei:
_ Agora que você já me acordou, espera aí. Vou tomar banho. Você já tomou café?
_ Já. Ela disse.
_ Daqui uma hora te pego na rodoviária. Como você está vestida?
Alguma coisa me dizia que eu tinha que ajudá-la a encontrar o Messias.
_ Vou te levar na cinemateca. O Messias deve estar lá.
Dito e feito. Quando chegamos na cinemateca. Ele correu até ela. Se abraçaram.
_ Por que não me ligou?
_ Eu anotei o número errado. O número dele. Virou em minha direção.
Mas, eu já estava longe. Feliz da vida!
_ Ainda bem que atendi o telefone. Disse para mim mesmo.
Na rua, uma faixa amarela cobria o asfalto. Alguém escrevera:
Follow the yellow brick road! (Siga a estrada de tijolos amarelos!)
Mas, esse é outro filme...

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