terça-feira, 22 de maio de 2018

As metas de Eros

Eu os conheci no primeiro momento em que se encontraram. Nem ela, nem ele perceberam que estavam sendo observados. Eu sei ser discreto.
Fiquei observando como se aproximaram. Nunca tinham se visto antes. Foi o acaso o culpado. Na fila do banco, os dois tinham a mesma senha.  No momento em que o número acendeu no painel, os dois se levantaram. Caixa 7 informou o painel. Ela estranhou. Ele estranhou. O bancário riu. Disse:
_ Terceira vez hoje! Deve ser alguma pane no sistema.
Ela foi gentil:
_ Atende ele primeiro. Tenho muitas contas pra pagar.
Sem jeito, ele aceitou:
_ Obrigado moça. O meu é só descontar esse cheque.
Assim que pegou o dinheiro foi embora. Ela se demorou. Era muita conta mesmo! Eu ia ter que dar um jeito em fazê-los se encontrarem de novo. Atrasei o ônibus dele. Não podia contar com o acaso de novo. Seriam um belo casal. Se eu fosse bem sucedido.
Quando ela chegou ao ponto de ônibus, ele estava lá. Sorriram. Mas, não se falaram. Dois humanos dificeis. Alguém lá em cima me sacaneou. Podia ter dado uma tarefa menos complicada. Mas, eu sou teimoso.
O ônibus chegou. Só aceitava cartão. Nada de dinheiro. Ele deixou ela subir à sua frente. O cartão dela estava sem saldo. Foi a vez dele ser gentil. Ela disse que estava sem dinheiro. Ia descer. Ele não deixou.
_ Usa o meu.
Ela aceitou. Sentaram juntos no ônibus. Na verdade, o cartão tinha saldo. Eu que dei um jeito de bulir com a catraca. Um leve empurrãozinho. Travou. Parecia cartão sem saldo. Ambos iriam até o ponto final.
Lá chegando, ela o convidou pra tomar um café em sua casa. Quase em frente ao ponto.
_ Quero retribuir sua gentileza.
_ Não precisa. Ele disse. E continuou:
_ Você foi gentil comigo no banco.
Ela insistiu. Ele aceitou. Ainda bem. Eu já estava ficando nervoso. Tenho que bater a meta. Dez casais por semana. Caso contrário, tenho que enfrentar a ira de alguém lá em cima.
Esse é o problema com estas metas quantitativas. A gente perde a noção da qualidade. Com esses dois foi amor à primeira vista. Só que os dois tinham medo. Da outra vez, meus colegas forçaram a barra. Tanto ela, quanto ele tinham sofrido muito na última relação.
Eu queria muigo ajudar. No entanto, a regra é clara: nós só podemos arranjar os encontros. Daí pra frente é com ela e ele. É preciso acreditar no amor. De novo! Minha parte eu tinha feito.
Os dois tinham medo mesmo. Trauma é foda! Eu já não estava acreditando. Virei as costas. Comecei a ir embora. Esforço vão. É o que parecia. Alguma coisa me fez olhar pra trás. Vi que estavam de mãos dadas.
Mão dada é um dos indicadores mais fortes. Pode até ter sexo, mas se não tiver mão com mão não vai pra frente. Acredite em mim. São milênios de experiência.
O que me aborrece é este sistema de metas. Os caras lá de cima só querem saber de quantidade. Aí contam qualquer transadinha como um sucesso. Ledo engano. Esses casos não duram muito!
Mas, dessa vez eu acertei. Pra mim o que importa é a qualidade. Dane-se o resto. O duro é que eu tenho minha meta pra cumprir. Vou hoje à noite em algum boate. Bato a meta fácil. Lá em cima ficam felizes. Eu não. Gosto de qualidade. Já falei, né?

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