Antes desse casal, vi outros seres. Ao entrar, um cachorro de rua também tentava entrar. Quis seguir um caminhante à minha frente. O portão foi mais rápido e fechou-se antes do cão chegar até ele. Ao se afastar, o animal ouviu o barulho do portão fechando outra vez, após minha entrada. Virou-se em minha direção, com um olhar que me pareceu de decepção. Será que os animais têm essa sensação?
Mais à frente, um grasnar chama a minha atenção. Olho para cima, à minha esquerda, e vejo o que me parece ser um jacú. Solitário, pousou nos galhos secos de uma árvore ao centro da mata ladeada por cerca de arame. Tempos atrás, me contou um companheiro de caminhadas, antigamente, a mata era aberta. Se podia caminhar por ela. Porém, além das caminhadas, a mata era local de encontros sexuais quase ocultos. A mata nem sempre era densa o suficiente. Ou, talvez, o desejo premente impedia a busca de um canto mais protegido dos olhares dos passantes.
Ah, o desejo! Um dia, algum burocrata entendeu que a mata deveria ser cercada para impedir estes encontros. Nela agora, somente a movimentação dos animais que nela habitam e copulam nas épocas de cio. Já vi cotias, preás, ratos e lagartos. Não exatamente no cio!
No meio da caminhads, na beira de um do lagos, vi um bem-te-vi ciscando. Em sua frente, dentro d'água, uma tartaruga emerge para respirar. Um não nota a presença do outro. Porém, nasce um haicai:
Céu de primavera -
Tartaruga e bem-te-vi
ficam na paisagem.
Outros sinais de primavera surgem no meu caminho. Uma família de quero-queros caminha próximo à rampa das hortênsias. Me afasto um pouco do casal e duas crias. Podem ser agressivos ao sinal de qualquer movimento que lhes pareça ameaçador. Por que arriscar?
Tartaruga e bem-te-vi
ficam na paisagem.
Outros sinais de primavera surgem no meu caminho. Uma família de quero-queros caminha próximo à rampa das hortênsias. Me afasto um pouco do casal e duas crias. Podem ser agressivos ao sinal de qualquer movimento que lhes pareça ameaçador. Por que arriscar?
As hortênsias colorem o meu caminho que já se aproxima do final. Múltiplas cores pálidas sem a presença da luz solar. Ainda sim, belas! Me lembram as curvas da Estrada da Graciosa, que nessa época também são coloridas pelas hortênsias.
Mais 150 metros de caminhada, chego ao portão onde começara. Percebo o casal entrando. Jovens, um homem e uma mulher. Ouço o barulho do portão se fechar mais uma vez. Nenhum sinal do cachorro! Deve ter desistido ou conseguiu entrar com alguém mais distraído. Impossível saber.
Além do barulho do portão, vejo que o casal está indeciso sobre o caminho a seguir. Em frente ou à direita. A mulher decide ir em frente. O homem a alerta:
_ Por aí todo mundo vai nos ver!
Ela não dá ouvidos e continua em frente. Ele acelera o passo para alcançá-la. E eu? Fico imaginando por que ele tem medo de que todos os vejam? Não tenho a resposta. Se fosse em outros tempos, com a mata aberta, talvez eu tivesse uma resposta. Mas, agora não!
Maldito butocrata que mandou cercar a mata!
Mais 150 metros de caminhada, chego ao portão onde começara. Percebo o casal entrando. Jovens, um homem e uma mulher. Ouço o barulho do portão se fechar mais uma vez. Nenhum sinal do cachorro! Deve ter desistido ou conseguiu entrar com alguém mais distraído. Impossível saber.
Além do barulho do portão, vejo que o casal está indeciso sobre o caminho a seguir. Em frente ou à direita. A mulher decide ir em frente. O homem a alerta:
_ Por aí todo mundo vai nos ver!
Ela não dá ouvidos e continua em frente. Ele acelera o passo para alcançá-la. E eu? Fico imaginando por que ele tem medo de que todos os vejam? Não tenho a resposta. Se fosse em outros tempos, com a mata aberta, talvez eu tivesse uma resposta. Mas, agora não!
Maldito butocrata que mandou cercar a mata!