quarta-feira, 15 de abril de 2020

Hora do almoço

Então ele veio ao meu encontro. Irado. Como se tudo fosse minha culpa. Tudo mesmo! Eu fiquei na minha. Deixei ele botar tudo pra fora.
Tinha alguma coisa a ver com o nosso passado. Mas, ele além de irado, estava confuso. Não falava coisa com coisa. Até palavrão saiu da boca do puto. Só não entendi o que eu tinha feito. Nem quando!
Eu só ouvindo. Fingindo atenção. Idiota! Enquanto, ele se exaltava, eu pensava no almoço. Já era mais de onze horas. Aquela fome começando a incomodar. Eu ia prestar atenção nele? Idiota! Claro que não! Com fome quem liga pra gente nervosa? Você? Nem eu.
Ainda mais no dia que eu acordo mais cedo. Toda terça. Seis da manhã, de banho tomado. Aquele café com leite morno e um pão borrachudo. Sem manteiga. Já imaginou como estava a fome naquela hora, né?
Aí, de repente, ele aquietou. Caladinho! Com uma baba escorrendo no canto direito da boca. Nojento! Os olhos arregalados. Cara avermelhada. Ofegante. Eu só olhando. E pensando. No quê? Na fome, ué! Em que mais?
Ele? Foi acalmando. Me olhando sério. Limpou a baba do canto da boca com a mão esquerda. O vermelhão da cara roseando. Depois, branqueando. As fuças se acalmando.
Eu só olhando. E pensando. No quê? Ah, você já sabe né? No que seria? A fome, pô!
De repente, ele me pergunta: você não vai falar nada?
_ Rapaz, tô com uma fome que você não imagina! E saltei fora.


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