quarta-feira, 4 de julho de 2018

Fantasia

Fantasia, você gosta? Foi a pergunta que ela fez. Ele estranhou a pergunta. Viajara a negócios. O vôo atrasou. Perdeu a reunião da tarde. Fez check-in. Tomou um banho. Desceu para o bar. Quase nove horas.
Ela morava naquela cidade. Frequentava o bar daquele hotel. Gostava do ambiente. Lembrava um pub. Se imaginava em Londres.
Terça-feira. Noite tranquila no bar. Além dos dois, um casal de meia idade e duas moças. Falavam muito. E alto. Muito!
Fingiu que não ouviu a pergunta. Ficou sem saber o que dizer. O que você disse? Ela repetiu. Fantasia, você gosta? E abriu um sorriso.
Meio sem jeito, ele sorriu. Corou. Depende. Foi a resposta. Sem saber, tinha caído na armadilha. Ou mordido a isca. Você escolha a metáfora.
Ela estava pronta para o bote. Fitou-o bem nos olhos. Como uma serpente, tinha um olhar paralisante. À vítima não havia outro caminho, a não ser se entregar.
Venho a este bar três vezes por semana. Ela continuou a conversa. Me imagino em Londres. Notou como tem um ar de pub aqui? Ele só conseguiu balançar a cabeça. Concordou. Ia falar alguma coisa. Não deu tempo. Ela emendou.
Há trinta anos, assisti a O último tango em Paris. Você viu? De novo, ele só conseguiu confirmar com um meneio da cabeça. Então, minha fantasia é repetir aquele encontro. Uma mulher. Um homem. Um apartamento. Nenhum nome. O que acha?
Algo lhe dizia que não deveria aceitar. Mas, que homem é capaz de resistir a uma tentação desta. Ainda mais, ele. Também já tivera esta fantasia. Lembrou da cena da manteiga. Será que ela toparia? Pediu a conta. A dela também. Mandou registrar em seu apartamento. O caixa pediu que assinasse. Disse seu nome. Obrigado doutor Marlon. Ela ouviu. Explodiu. Porra! Caralho! De novo, Geremias! Você estragou tudo!
O caixa caiu na gargalhada. Ela foi embora. Ele não teve tempo nem de piscar. Ela saiu rindo muito. Mais um trouxa caíra no golpe dela. Alcoólatra, não tinha dinheiro pra sustentar seu vício. Montara o esquema com Geremias. Ele, em troca, transava com ela aos sábados. Sem fantasia.

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