sábado, 12 de outubro de 2019

Este e meu papel no filme, vamos ouvir o seu

A frase do título encerra Tristessa, romance de Jack Kerouac publicado em 1960. A versão que li é da coleção L&PM Pocket, traduzida por Edmundo Barreiros.
O cinema enquanto metáfora da vida. Usada inúmeras vezes. Mesmo em 1960, imagino que Kerouac não tenha sido o primeiro a usá-la. Afinal, esta arte-indústria era já sexagenária naquele ano. A se fiar na convenção histórica, o cinema completara 65 anos em 1960.
Apesar dessa falta de originalidade, a metáfora conserva seu charme. Ao menos para mim. Vezenquando, me vejo na condição de intérprete de papéis na vida. Um pouco sem jeito frente às câmeras. Felizmente, nem sempre atuo para as câmeras. Apesar da quase onipresença delas em nosso mundo contemporâneo. Elas estão escondidas. Mas, se você procurar bem, poderá encontrá-las. Sorria, você está sendo filmado. Nos avisam. Verdadeiro ou falso? Vai saber! Na dúvida sorrio. Apenas um sorriso tímido!
Qual é o meu papel? A quem interessa ouvir? O convite de Jack, personagem que carrega o mesmo nome do autor, mexeu comigo.
Respondo. Para quem? A mim mesmo. Afinal de contas, a escrita é, antes de tudo, um falar com si mesmo. Assim, nessa construção cotidiana de minha identidade, misturo papéis: homem que já foi menino; professor que já foi aluno; pai que já foi filho; e tantos outros.
Mas, o que me importa mesmo, é que nessa mistura, na maioria das vezes, independente do papel, o enredo foi escrita própria. Mesmo que apenas em sonhos.
Ou terá sido tudo sonho?

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